Análise: Cruzeiro precisa de correção de rota para superar dificuldades e terá um mês até estreia no Brasileirão

Compartilhe

FOTO: STAFF IMAGES / FLICKR / CRUZEIRO

A temporada do futebol em 2023 está apenas no começo, mas os estaduais já se encaminham para a reta final, causando aquela sensação de que já é possível tirar conclusões das equipes, para o bem ou para o mal, levando em conta o restante da temporada e, principalmente, a disputa do Campeonato Brasileiro da Série A.

De fato, algumas performances chamam a atenção neste início de temporada. A começar por times como Flamengo e Atlético, que possuem uma grande folha salarial e jogadores de renome, e, apesar de estarem vivos e serem grandes favoritos, ainda não entregaram a performance desejada pelos torcedores e que determinasse um voto de confiança dos estudiosos e especialistas do futebol.

Na outra ponta, temos equipes que buscam se afirmar dentro de diferentes cenários. Recém promovidos à Série A, Bahia, Cruzeiro e Vasco ainda não convencem de que poderão fazer um ano tranquilo, dentro da expectativa criada por cada um. O Cruzeiro, principalmente, por ter feito uma grande temporada em 2022 e apresentando um futebol suficiente para garantir o acesso com rodadas de antecedência e o título da Série B.

Que a mudança brusca de elenco entre as temporadas causaria um problema para a equipe, era previsível. Foram mais de 20 saídas e quase 20 novos jogadores chegando. Analisando os nomes e o histórico dos contratados, é possível, sim, afirmar que houve ganho técnico na equipe – principalmente no ataque – com a chegada de jogadores que há pouco tempo protagonizaram bons momentos no futebol, como é o caso de Nikão e Gilberto.

Mas, mais que apenas um problema de entrosamento ou deficiência técnica, o Cruzeiro de 2023 ainda não apresentou uma identidade. Há boas peças – suficientes para fazer um bom estadual, o que acabou não acontecendo – e também uma ideia de jogo, com intensidade, marcação em bloco alto, volantes que buscam construir, pontas que suportam alas e vice-versa, mas o time operário, que se entregava em campo para transformar o simples em algo eficiente, marca do que foi ano passado, não se vê dentro de campo.

É claro que há uma necessidade evidente de reforços. Por mais que Ronaldo, sócio majoritário, tenha dito que não irá ao mercado atrás de grandes contratações, o clube não será sustentável se perder o apoio da torcida e consequentemente a receita com bilheteria e sócio-torcedor. Assumir uma briga contra o Z4 do Campeonato Brasileiro desde início também não contribui em nada no projeto, que na teoria é bastante aceitável, mas na prática pode ruir com todo um trabalho bem conduzido nos bastidores.

Paulo Pezzolano, técnico que tem bastante prestígio com os torcedores e com a diretoria, está certo em dizer que o momento de errar é agora. Mas esse momento precisa vir acompanhado de sinais claros de que é possível melhorar, coisa que não é possível visualizar até aqui e é corroborado por números. 

O Cruzeiro mostra a todos que existe um problema grave defensivamente quando deixa de sofrer gol em apenas um jogo em um total de nove disputados. A situação fica ainda mais alarmante quando se olha o elenco e vê apenas três zagueiros que compõem o elenco principal à disposição. Vale ressaltar que Lucas Oliveira, Neris e Reynaldo não são o problema, mas não ter opção para testar outros nomes e ficar à mercê de improvisações em casos de lesão ou suspensão, é um grave erro de percurso no comando do futebol.

É preciso ressaltar que apesar do cenário, ainda há tempo para uma correção de rota e que nem precisa ser tão drástica. Mas isso não acontecerá apenas com trabalho diário, esforço do atual elenco e da comissão técnica e nem com o verdadeiro – mas irritante – discurso de que o clube irá trabalhar dentro da sua realidade financeira. Há outros meios de se fazer uma boa equipe de futebol sem a necessidade de contratar jogadores de renomes e um desses, por exemplo, é saber atuar no mercado sul-americano, coisa que o Cruzeiro não conseguiu fazer até o momento.

Gilberto e Bruno Rodrigues podem ser a referência de um bom ataque, mas que precisa acontecer (FOTO: Gustavo Aleixo/Cruzeiro)

Também não adianta ostentar uma postura bélica e sem espaço para aceitar críticas ou o contraditório. Acreditar que exista apenas um caminho para a reconstrução do clube e morrer abraçado com suas próprias convicções, é fechar os olhos para oportunidades que aparecem com certa frequência no mundo do futebol e que podem representar muito mais do que só o balanço positivo no final da temporada.

O ano do Cruzeiro começa daqui há exatamente 1 mês, com o início da Série A do Campeonato Brasileiro. Esse é o tempo para que um movimento eficaz de qualificação do time, seja qual for o caminho escolhido, aconteça.

Compartilhe