O Cruzeiro chega ao seu pior momento da temporada vivendo sua maior crise da “era Ronaldo”, o que não vem a ser uma surpresa para quem acompanha e vive de perto a realidade do clube. A sequência de decisões erradas, mesmo que apontadas de forma prévia, vão pesar para que o clube provavelmente seja rebaixado à Série B do Campeonato Brasileiro.
Os problemas são visíveis desde o começo do ano, mas em vários momentos houve ao menos uma opção de correção: seja nas trocas de técnico, nas opções de corrigir e melhorar o elenco durante a janela de meio de ano ou até mesmo no aproveitamento das categorias de base.
Mas o maior erro foi, de longe, no trato com a torcida.
Achar que a torcida tinha uma dívida pelo acesso de 2022 fez as pessoas que decidem pelo clube se blindarem, o que não seria ruim, se isso não afastasse do Cruzeiro até daqueles que queriam o bem e sabiam, melhor que qualquer dirigente que hoje trabalhe na Toca da Raposa II, que as várias decisões tomadas estavam sendo um contra senso e direcionando o clube para outro lugar.
E, sim, Ronaldo. Agora, falando diretamente para você: a torcida é grata. Muito grata. Sabe, sim, do que era o passado e do futuro que você prometeu e que pode entregar. Não use mais o argumento do “salvador”, porque isso gera ainda mais antipatia. Ter gratidão não te deixa imune ao descontentamento. Gratos pelo gesto passado. Críticos pelo presente e pelo futuro.
Infelizmente, num clube com uma margem de erro tão pequena, erraram em praticamente tudo. E, no fim, o que irrita mesmo o torcedor comum, aquele que paga o sócio-torcedor, compra camisa oficial e está presente nos estádios para apoiar seu time, é que nenhum dos diversos “diretores” e “executivos” aparecem para assumir os seus erros. Se blindam mais do que blindam o próprio elenco, por exemplo.
Ninguém imaginou que seria fácil. Mas o caminho de uma permanência na Série A estava devidamente pavimentado. Não é segredo que o segundo turno do Campeonato Brasileiro é bem mais difícil que o primeiro. Não havia nenhuma dúvida de que as carências do elenco passavam pela linha de zaga, pelos volantes e, principalmente, pela inoperância do ataque.
E é preciso deixar claro que, em nenhum momento, ninguém torceu pra dar errado (pelo contrário), mas, de novo, se agora não enxergam que essa postura arrogante é o que vai terminar de rebaixar o Cruzeiro, não há mais solução.
O Cruzeiro, hoje, parece um clube de amigos que só apertam as mãos uns dos outros. Não há qualquer diálogo com quem vem de fora. Nem mesmo dentro de uma visão empresarial isso é aceitável. Entender as demandas do seu cliente e, acima de tudo, respeitá-lo é ensinado logo nas primeiras aulas de qualquer curso de administração.
Aliás, não há prática empresarial, se quem manda e desmanda é um “fantasma”. As dúvidas de torcedores, imprensa e críticos seguem: onde estão os responsáveis pela montagem do departamento de futebol? De quem foi a decisão final pelas contratações da janela do meio de temporada? Quem decidiu pela demissão do Pepa e pela contratação de Zé Ricardo? Qual a dificuldade em atuar no mercado sul-americano como fizeram seus adversários diretos contra o Z4? Porque não há um real projeto de valorização e utilização das categorias de base? Essas são só algumas, de várias outras perguntas que não sabemos.
Ronaldo acha que merece créditos. Que o problema é o torcedor que “vaia” o time. Não há nenhum espaço para autocrítica, mesmo diante de fracassos seguidos na sua outra gestão, frente ao Real Valladolid. E, ao contrário de 2022, o ano de 2023 já é de inteira responsabilidade da sua gestão.
Ninguém pediu um time que brigasse pelo título. Pelo contrário, o torcedor se contentaria muito apenas permanecendo na Série A. Seria um imenso sucesso a tão sonhada “vaga na Sul-Americana”. Mas, com esse elenco, do jeito como ele foi montado, a forma como o time desempenha desde o Campeonato Mineiro e até a postura dos dirigentes, estava óbvio que isso seria uma tarefa difícil (senão, impossível).
Agora, o que resta ao torcedor é torcer. Não pelo sucesso da gestão Ronaldo, que ainda pode se mostrar profissional e vir a ser um case. Mas para o Cruzeiro, para que algo sobrenatural aconteça. Afinal, o time terá que fazer em menos de 25 dias, algo que não fez durante toda a temporada: superar a média de apenas uma vitória por mês(!).