
FOTO: BRUNO HADDAD / FLICKR OFICIAL / CRUZEIRO E.C.
A derrota do Cruzeiro para o América-MG pelo jogo de ida das semifinais do Mineiro deixou um gosto amargo. Melhor em grande parte da partida, o time acabou batido na reta final em erros de concentração e posicionamento. Porém, ficou evidente que o elenco carece de mais sustentabilidade para disputar a Série B. A medida que Felipe Conceição ia realizando trocas a qualidade caia e a equipe não conseguiu segurar o resultado que lhe daria a vitória no clássico.
Diante desse cenário, uma rápida análise do elenco se faz necessária e é possível notar que apesar de testes terem sido feitos, alguns jogadores que receberam minutos não corresponderam e outros que aguardavam uma oportunidade, não entraram ou pouco jogaram.
Sistema defensivo

Alvo do Sporting-PT em 2019, Paulo Eduardo é visto como um dos melhores defensores da sua geração e ainda aguarda oportunidade com Conceição. Foto: Gustavo Aleixo/Cruzeiro
Ponto forte da equipe de Conceição, o Cruzeiro acabou a fase de grupos com apenas quatro gols sofridos em 11 jogos. Mesmo após a saída de Manoel, o jovem Weverton (18 anos) e Ramon se consolidaram como dupla e mantiveram o bom nível de atuações, ainda que o garoto tenha cometido falhas no duelo diante do América, seu parceiro também não esteve bem. De qualquer modo, agradaram. Na reserva, Eduardo Brock atuou em 4 jogos (2 como titular) sem muito brilho. Paulo, outro jovem de 19 anos, não recebeu oportunidades e desde o ano passado vem recebendo elogios de todos os treinadores que passaram pelo clube. Atuou em duas partidas na reta final da Série B em 2020 e não decepcionou. Figura carimbada nas seleções de base e alvo do futebol europeu, o zagueiro canhoto de 1.90m é mais uma das grandes promessas que precisam de oportunidade.
Nas laterais, o problema é evidente. Raúl Cáceres foi titular em todos os 14 jogos do ano e conta apenas com Geovane – zagueiro da base improvisado como lateral – e Ramon Rocha, recém chegado da base do Palmeiras, para substituí-lo. Mesmo privilegiado fisicamente, a sequência de partidas vem fazendo seu rendimento cair e um suplente de bom nível é urgente. Na esquerda, Alan Ruschel chegou com grande expectativa após ter sido eleito o melhor lateral-esquerdo da Série B e não emplacou. Foram 6 partidas e nenhuma apresentou bom futebol. Matheus Pereira segue absoluto na posição, mesmo com oscilações. Kaiki, outro jovem da base, é opção para posição.
Meio-campo

A saída de Nonoca do Cruzeiro nunca foi bem compreendida. Jogador ainda espera uma oportunidade com Conceição. Foto: Bruno Haddad/ Cruzeiro
Setor mais importante de qualquer equipe, o técnico Conceição parece ter encontrado seu “meio-campo ideal” com Adriano na sustentação e saída de bola, Matheus Barbosa como “box to box” e o experiente Rômulo pelo lado esquerdo central dando suporte ao atacante e lateral daquele lado. O rendimento do time cresceu, mas as peças reservas não conseguem sustentar o mesmo nível dos titulares.
Após um ano de afirmação em 2020, Adriano se tornou o principal ponto de sustentação da equipe de Felipe Conceição. Importante nas coberturas ofensivas, boa noção para pressionar e também se posicionar para efetuar recuperações, além de ser apoio no lado que está a bola. São dos seus pés que saem passes verticais e inversões para acionar o ataque. Inteligente para ler o jogo e ocupar espaço, não tem um substituto a altura. O recém chegado Matheus Neris até iniciou a temporada como titular, mas não conseguiu manter o mesmo nível. Jadson é um caso a parte.
Contratado em 2019 a pedido de Mano Menezes para atuar no lado direito após o fracasso de Bruno Silva, não rendeu no – ainda – bom time do primeiro semestre daquele fatídico ano. Emprestado ao Bahia no ano passado foi devolvido pelo próprio Mano Menezes quando o mesmo assumiu o comando do clube baiano. No seu retorno não defende nem ataca com qualidade. Com 10 jogos na temporada (1 como titular), recebeu quatro amarelos – três entrando no final dos jogos – e serviu apenas para tirar espaço de Lucas Ventura (Nonoca).
Promovido em 2017, o volante fez bons jogos sob o comando de Mano Menezes e, inexplicavelmente, foi colocado de lado no ano seguinte. Aos 22 anos, retornou ao Cruzeiro após dois empréstimos ao Boa Esporte e ainda não entrou em campo. Seu desenvolvimento foi claramente prejudicado, mas na função de primeiro volante demonstrou boa saída de bola e personalidade no combate, mesmo precisando de mais intensidade sem bola. O Mineiro passou e não sabemos como está seu rendimento. Pelo histórico, era uma opção mais viável de ser testada do que Jadson, peça que todos já sabem o que – não – entrega.
Marcinho, Claudinho e Marco Antônio

Enquanto Claudinho soma quase 600 minutos, Marco Antônio ainda é uma incógnita e pouco atuou. Foto: Bruno Haddad / Cruzeiro.
Capítulo a parte, Marcinho e Claudinho iniciaram 2021 disputando posição, mas não conseguiram se firmar. O primeiro chegou com destaque após grande Série B pelo Sampaio Corrêa, enquanto o segundo foi contratado no segundo semestre do ano passado como grande revelação a ser lapidada. Ambos demonstram boa qualidade técnica com a bola, mas não conseguiram se adaptar ao modelo de pressão alta e recomposição defensiva de Felipe Conceição. Já Marco Antônio é rodeado de expectativas pela sua qualidade com a bola nos pés e após oito meses se preparando fisicamente para aguentar o ritmo e competitividade dos profissionais, entrou em campo somente na derrota diante do Pouso Alegre, num gramado em péssimas condições, e teve pouco mais de 15 minutos para atuar.
É outro caso em que o Mineiro passou e não sabemos o que esperar do atleta, já que outros que não corresponderam receberam mais oportunidades e não entregaram. A contratação frustrada de Yeison Guzmán indica que a diretoria busca outra peça para função. Terá chances na Série B? Fica a expectativa e também dúvidas sobre o tema.
Setor ofensivo

Stênio começou a ganhar oportunidades com Conceição, mas entrada do garoto precisa ser gradativa. Foto: Gustavo Aleixo/Cruzeiro
Ponto fraco do Cruzeiro na Série B do ano passado e também no Mineiro desse ano, o setor ofensivo da Raposa segue problemático. Foram somente 12 gols marcados na primeira fase do Mineiro e 4 deles diante do Patrocinense na última rodada, o que acabou “inflando” os números. A média de 1,07 gol por jogo expõe que é preciso melhorar. No entanto, a falta de qualidade técnica é o principal limitador para que a equipe balance mais vezes a rede. No Mineiro a equipe lidera o ranking de finalizações (180), mas acertou o alvo apenas 63 vezes, um aproveitamento baixo de 35%. Rafael Sobis segue sendo a principal liderança técnica e mesmo com apenas dois gols marcados em 13 jogos, é titular absoluto. Marcelo Moreno marcou apenas 1 (de pênalti) em 5 jogos e parece não gozar de prestígio com Felipe Conceição. Em tempo, seu rendimento em campo segue abaixo e pelo modelo de jogo do treinador é difícil que seu futuro siga na Toca da Raposa pelo alto custo e pouca entrega.
Thiago é o jogador mais perto de ter uma saída por empréstimo confirmada. Aos 19 anos, o atacante até teve bons lampejos em 2020, marcou 3 gols no primeiro semestre mas depois caiu de rendimento e não se firmou. Nessa temporada entrou em campo apenas 4 vezes, somando 68 minutos. A provável contratação de Guilherme Bissoli e a utilização de William Pottker como nove indicam que os dois não seguiram no elenco em caso de propostas.
Pelos lados, Aírton e Bruno José seguem sendo os melhores pontas do elenco, mesmo com claras dificuldades de finalização e tomada de decisão. O primeiro chegou da Inter de Limeira no ano passado e apesar das oscilações ainda é uma opção com mais recursos para o drible e velocidade. O segundo chegou na atual temporada após boa Série B pelo Brasil de Pelotas e deu sua primeira assistência pra gol no último jogo. Não marcou gol em 12 jogos, mas oferece uma possibilidade maior de construção pela direita, sendo um contraponto do Aírton, com muita velocidade e pouco raciocínio. Felipe Augusto foi outra contratação após uma temporada irregular pelo América em 2020. A oscilação demonstrada aos 29 anos indica que não é uma opção confiável e viverá de lampejos. Marcou dois gols em 12 jogos.
O jovem Stênio, de 18 anos, entrou nos últimos três jogos com Conceição e dá indícios de que pode ser uma peça útil se tiver confiança, mas ainda precisa evoluir fisicamente para aguentar os enfrentamentos na Série B. Definitivamente, o ataque é setor com mais carência de reforços que cheguem para resolver.
Conclusão
O Cruzeiro tem uma difícil missão para avançar à final do Mineiro. Precisa vencer o América-MG por dois gols de diferença. O foco principal do ano é a Série B e analisando o elenco é possível notar que as laterais, o meio-campo e principalmente o ataque precisam de contratações pontuais. Além disso, jogadores sem grande expectativa de evolução receberam oportunidades em demasia enquanto jovens pouco entraram em campo e isso também precisa ser levado em consideração. A boa notícia é que diferente do ano passado, o time mostra evolução tática e padrão de jogo. Temos boas perspectivas, mas ajustes precisam ser feitos.