CENI CHEGOU, CRUZEIRO VENCEU (E CONVENCEU). O QUE MUDOU?

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FOTO: VINNICIUS SILVA / CRUZEIRO E.C. / FLICKR OFICIAL

Depois de 11 jogos, o Cruzeiro voltou a vencer. A estreia de Rogério Ceni contra o líder do campeonato entregou aquilo que seu discurso como técnico propõe: um time ofensivo, intenso, vertical e objetivo. A clara evolução coletiva da equipe proporcionou que alguns nomes em baixa até então voltassem a se destacar também individualmente. O resultado tirou o time da zona de rebaixamento e deixou o torcedor com um gostinho de quero mais. Há tempos não víamos o Maior de Minas atuar de forma leve, vistosa e agradável. O lúdico voltou a circular pelo Mineirão, nos fez sonhar e criar expectativas.

Não vou ficarei criticando o trabalho do técnico antecessor, mas ficou claro que os métodos de treinamento, a filosofia aplicada e os conceitos de jogo estavam saturados. Os jogadores tentavam, mas os resultados não acompanhavam. Era necessário novas ideias. Esse choque de mentalidade ao menos no início foi positivo: Terminamos a partida com 21 finalizações (nossa média no campeonato é de 11,2) e 66% de posse de bola, superando a média dos tempos de Mano Menezes no Brasileiro (49%). Outro ponto importante, o time não marcava gols há 8 jogos e nos últimos dois confrontos fizemos 4.

Estrutura inicial: 4-2-4. Marquinhos e David abertos, Thiago e Pedro com liberdade e dois volantes responsáveis pela transição.

Apesar do discurso ofensivo, Ceni já mostrou repertório para diversificar. Seu Foraleza saiu de líder em posse bola na Série B para ser apenas o 15° no quesito na Série A. Nada mais natural devido ao material humano disponível. Ao encarar o Santos, sua escalação inicial sugeria um Cruzeiro reativo pronto para utilizar o contra-ataque com intuito de explorar a linha alta dos comandados de Sampaoli. Contudo, haviam diferenças em relação ao que era executado anteriormente. Ceni utiliza dois jogadores agudos pelo lado, enquanto Mano prefere um atacante e um meia. A intenção é aplicar velocidade e verticalidade ao ter a bola, enquanto Mano optava por retirar a velocidade do jogo e, apesar de reativo, tornava-se pragmático: cadenciar, esperar o adversário falhar e estocar. Outra mudança aconteceu na dupla de volantes: Ceni ousou e optou por Dodô, um lateral com características de cortar pra dentro e bom trato com a bola, algo destacado pelo treinador. Enquanto Mano preferia dois volantes mais posicionais e menos agressivos (Cabral e Henrique), Ceni opta por dinamismo e um melhor passe vertical. O ensaio era um 4-2-4 com Pedro Rocha e Thiago Neves na frente com total liberdade para flutuar o movimentar, algo que foi tentado por Mano Menezes mas esbarrava na execução, com um Thiago plantado próximo aos zagueiros, de costas e pouco móvel. Os pontas davam amplitude alargando o campo na fase de criação e se associavam com os laterais nas ultrapassagens.

Essa estratégia logo foi desfeita devido a expulsão de Gustavo Henrique aos 4′ de jogo. Sampaoli tentou manter sua estrutura (3-4-3) e ao invés de lançar um zagueiro no lugar de um atacante, optou por Pará na vaga de Evandro, trazendo o lateral pra atuar na última linha pelo lado direito, enquanto Jorge seguia pelo esquerdo da defesa e Lucas Veríssimo por dentro, com o intuito de ter uma boa saída de bola. Vendo a possibilidade de explorar o fato do adversário ter apenas um zagueiro de ofício na última linha, Ceni foi corajoso e chamou Fred. O Cruzeiro já tinha mais posse e finalizações (4 arremates em 18 minutos). Assim, Egídio deu lugar ao centroavante e assim a estrutura tática foi modificada.

Ainda no 4-2-4, mas com Thiago Neves atuando de volante e Fred na referência com Pedro circulando.

 

O 4-2-4 seguiu como modelo base, mas houveram mudanças. Dodô passou a atuar como lateral e Thiago Neves baixou para ser o volante responsável em fazer a ligação defesa/ataque. Sua atuação foi o ponto alto da partida. Neves foi um verdadeiro “box-to-box”, ou seja, o jogador área à área, buscando a bola, aplicando intensidade, finalizando, criando e chamando a responsabilidade. Foi o termômetro da equipe. Com Fred, os laterais passaram a dar amplitude e os pontas circulavam por dentro. Henrique baixava e encostava próximo aos zagueiros. O time chegava a atacar com 8 jogadores, mantendo apenas os zagueiros mais recuados. Os dois gols saíram bem a ideia do técnico. No primeiro, o lateral (Dodô) abre, o ponta (David) corta pra dentro e acha bom passe para Thiago Neves assistir Fred na sua característica: vence dois marcadores na força física, ajeita o corpo e finaliza, quebrando um jejum de 16 jogos. Com um sistema de jogo que o favoreça, tem tudo para voltar a ser útil. O segundo gol também é bonito e bastante conceitual: Fabrício Bruno (muito bem no quesito) acha um passe no ataque para Pedro Rocha, quebrando às linhas de marcação do Santos, este toca para Fred que, de costas, prende os marcadores e faz o pivô para Thiago Neves chegar finalizando e fazer um golaço.

A partir daí, passamos a atuar de forma mais pragmática, buscando atacar apenas na boa e levamos bastante perigo devido a constante objetividade da equipe. Com a bola, nada de toques pro lado esperando apenas o tempo passar (algo que acontecia bastante com o Mano), o time precisava ser vertical e buscar o gol. A estreia de Rogério Ceni a frente do Cruzeiro foi excelente. Suas ideias iniciais demonstram uma intenção de fazer uma equipe propositiva através de constante pressão no adversário aliada a uma posse agressiva, objetiva e vertical, buscando sempre progredir no campo e marcar gols. Há muito caminho pela frente, mas a primeira impressão colocou um sorriso no rosto do cruzeirense.

#MeDibre

 

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