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Cruzeiro

CFO do Cruzeiro, Raphael Vianna fala sobre transição da SAF, redução de gastos e projeto de longo prazo

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IMAGEM: REPRODUÇÃO / YOUTUBE / TMA BRASIL

Que o Cruzeiro vive um momento de reconstrução não é novidade, mas alguns pontos desse processo, principalmente após a aquisição de 90% das ações da SAF por parte de Ronaldo, foram melhor explicadas com a participação de Raphael Vianna, atual diretor financeiro do clube e um dos membros da gestão do Fenômeno.

Participando de um seminário promovido pela TMA (Turnaround Management Association), que debateu entre diversos aspectos, sobre a lei que rege a Sociedade Anônima do Futebol (SAF), Raphael – que ocupa o cargo denominado de CFO – falou sobre diversos assuntos desses poucos meses à frente do Cruzeiro e dos desafios encontrados.

Com uma participação que durou cerca de 2 horas, de um total de 5 horas de evento, Raphael falou sobre os processos realizados no Cruzeiro nesse momento da “gestão Ronaldo” e abordou diversos pontos específicos de estar à frente de um clube de futebol que adotou o modelo empresarial.

Abaixo, você confere em tópicos os principais assuntos abordados por Raphael Vianna no seminário, que também está em sua íntegra no Youtube, no canal da TMA Brasil.

Início do processo de transição

Nós já assumimos o controle financeiro do caixa, já fizemos uma espécie de sign da transação,  só que a gente já está operando no Cruzeiro desde o final de dezembro, foi criado uma equipe de transição. A SAF naquele momento era só uma ata na junta comercial, não tinha nada, a gente ajudou a associação a colocar de pé processos, sistemas, estrutura financeira, ajudar o futebol.

Problemas imediatos do clube

Existia um risco muito grande do Cruzeiro não conseguir registrar jogadores na primeira janela de transferência em janeiro e existia um risco muito grande dos jogadores ficarem sem salário, porque o clube tinha uma folha muito cara, fora dos padrões de um clube da Série B.

Atuação na área financeira

O que a gente fez, no momento, foi estabilizar o caixa de curtíssimo prazo, dialogamos algumas dívidas mais urgentes, começou a trabalhar em novas receitas, como o sócio torcedor, uma fonte bastante interessante de receita. Saímos de 10 mil sócios pra mais de 48 mil sócios. E trabalhamos na redução de custos, reduzindo a folha de 60%. Saindo de 60 milhões para algo em torno de 35, 37 milhões esse ano.

Planejamento inicial do futebol

O negócio do futebol é de longo prazo, então as decisões que você toma em um ano, vão te acompanhar pelos próximos três anos. Só pra exemplificar, em termos de transfer ban internacionais e nacionais, a gente já pagou mais de R$30 milhões, sem a entrada de um investidor isso não seria possível. E o Cruzeiro ia começar a sofrer punições que iam reduzir a performance esportiva do clube.

Dívidas, renegociações e diligência

 A dívida da associação é muito grande e pode contaminar a SAF sim, mas a gente tem um plano bem desenhado e as partes mais complexas já foram superadas. Agora faltam pequenos detalhes e continuar com esse plano que está em execução. É complexo, com muitas surpresas pelo caminho, mas é algo que é possível fazer.

Nosso foco principal da diligência foram as dívidas trabalhistas, que são gigantescas. As dívidas fiscais também são grandes. E também existem dívidas cíveis. Tudo já tá muito judicializado e existem poucas contingências que não são conhecidas ou estão materializadas.

Complexidade de estruturar um clube de futebol

O futebol tem muitos órgãos reguladores, entes que controlam os processes, como as federações, a CBF, a FIFA, tribunais de arbitragem (CNRD, CAS). Isso traz um nível de complexidade maior. E a gente precisa de especialistas pra fazer essa diligência. Não é um profissional acostumado a fazer um processo de diligência em empresas normais, como startups, que vai conseguir todas essas informações. 

Interferência “política” e migração de associação para SAF

Aqui no Cruzeiro, especificamente, já tinha o mapeamento das dívidas muito bem feio, o que facilitou. Os níveis de governança são mais baixos. O ambiente associativo não estimula a governança e cria ingerência política no processo, os conselheiros mudam, os presidentes mudam. É um pouco do que a gente enfrenta na política como um todo. O modelo associativo não é ruim, mas isso é um desgaste causado pelo modelo associativo.

Crescimento em outras áreas

Além de uma Série B forte, a gente precisa de um futebol feminino forte, uma categoria de base forte. É essencial a gente conseguir abranger todo o público que pode se beneficiar dessa paixão.