
Para melhor compreender o atual estado de discussão envolvendo Cruzeiro e Minas Arena (administradora do Mineirão) é preciso voltar na final da Libertadores do ano de 2013. Para acolher o time de Vespasiano na final da Taça Libertadores daquele ano a Minas Arena, usando uma prerrogativa conferida pelo Estado de Minas Gerais isentou o time do Mineiro de pagar as taxas e valores habitualmente cobrados quando outros clubes, especialmente o Cruzeiro, jogavam lá.
Começou com um jogo do rival uma situação de mal estar entre as direções de Cruzeiro e Minas Arena, com uma sucessão de fatos mal resolvidos que acabaram desembocando na esfera jurídica, e, pelo visto, com mais capítulos a serem escritos e sem chance próxima de ser resolvida.
Sabendo das condições ofertadas ao rival, o então presidente Gilvan de Pinho Tavares – provavelmente com o aval de seu departamento jurídico – deu entrada com ação contra a Minas Arena (administradora Mineirão) baseada em cláusula contratual que, em suma, garantia ao Cruzeiro igualdade de tratamento em todas as esferas, e nesse caso, segundo entendimento do clube, no que dizia respeito às taxas e valores cobrados por jogo. Com base nisso, a mando do presidente Gilvan e com o aval do departamento jurídico do clube (que é o mesmo da gestão atual) deixaram de pagar as taxas e valores cobrados.
Gilvan constantemente era cobrado pelos órgãos de imprensa e torcedores (todos com razão, a meu ver) na busca de uma solução que pusesse fim ao litígio judicial donde os primeiros resultados foram a favor da Minas Arena (o que poderia gerar, ainda mais, um prejuízo muito grande aos cofres do clube, além de manchar a relação havida com um parceiro importantíssimo e que lhe garante um estádio na capital para seus jogos).
Pois bem.
Veio a eleição presidencial do Cruzeiro no final do ano de 2017 e, ainda nos primeiros dias da gestão de Wagner Pires de Sá foi anunciado que o Cruzeiro iria rever a condição criada com o Mineirão na gestão do antigo presidente, Gilvan de Pinho Tavares.
Para isso, Wagner Pires trouxe Marco Antônio Lage da FIAT para ser seu vice-presidente executivo, bem como criou uma diretoria exclusiva para tratar do relacionamento com a Minas Arena. Dentre as várias e inúmeras diretorias criadas pelo Presidente Wagner Pires (todas elas remuneradas e muito bem, diga-se de passagem), essa diretoria seria ocupada por Aristóteles Lorêdo, mais conhecido como Tote e teria como único e precípuo fim tentar resolver as arestas criadas ainda na época do Presidente Gilvan.
No início a Minas Arena acenou positivamente com o primeiro aceno de bandeira branca erguida pelo Cruzeiro com a criação da referida diretoria. Todavia, passados seis meses da gestão de Wagner Pires e da nova diretoria ocupada por Tote, a única e exclusiva responsabilidade a ele atribuída parece ter se revelado um castelo de areia ao primeiro sopro.
Sem chegar a um consenso que atendesse às partes, Tote falhou em sua missão confiada: a Minas Arena anunciou nos últimos dias que não teria chegado a um acordo com o Cruzeiro e que iria retomar com o curso normal da ação cujo desfecho até o presente momento não é favorável à pretensão do Cruzeiro.

Aristóteles Lorêdo e Marco Antônio Lage
Marco Antônio Lage e Tote falharam em suas missões. Analogicamente, pediram o Mineirão em namoro, cortejaram, e no final ouviram um “gosto de você como amigo” e quiseram sair dizendo que fizeram uma bela amizade (mas não ataram e nem desataram a questão).
A retomada da ação e a possibilidade relevante de chance da Minas Arena sair vencedora poderá causar impacto nas contas celestes em monta igual ou superior a uma dos vários atletas e clubes citados nos últimos dias pela mídia, como nos casos da compra e não pagamentos envolvendo, por exemplo, Mancuello, Bruno Silva, e outros.
Muitos que leram até aqui devem estar se perguntando o porquê da narrativa de fatos públicos e notórios e que já foram e vêm sendo amplamente divulgados pela grande mídia.
A resposta não é e nem pode ser simplista no caso concreto, mas, deverá servir para reflexão de importantes pontos que permeiam o tema e que deverão ser encarados mais dia ou menos dia pelo Cruzeiro, como um todo, senão vejamos:
- O desacerto iniciado pelo Presidente Gilvan teria começado se o Departamento Jurídico do Cruzeiro tivesse orientado da melhor maneira sobre os riscos e efeitos envolvendo a demanda proposta?
- Ainda que, por hipótese, o departamento jurídico tenha orientado o presidente Gilvan, teria ele assumido sozinho o risco de eventual insucesso da demanda e do possível abalo com a relação com um parceiro que dependemos tanto para jogar e estabelecer receita em jogos?
- O sistema presidencialista aonde uma pessoa pode fazer o que quiser pode ser tido como uma opção correta para o clube? Qual seria o papel do conselho diante de atos que podem por em xeque as finanças do clube e sua própria sobrevivência?
- Um Diretor (Tote) colocado para gerir um tema de grande relevância e cuja única e exclusiva responsabilidade seria de estabelecer consenso entre Cruzeiro e Minas Arena seria a pessoa mais qualificada para tal tarefa? Quais os critérios de sua escolha e até mesmo da criação de pasta remunerada (e alta) para o assunto?
- Acaso a nova diretoria de relacionamento com a Minas Arena falhe em sua única missão o que será da referida pasta no Cruzeiro?
- Dentre um dos temas que envolvia o debate havido em 2016 e início de 2017 quanto a mudança do Estatuto havia um que previa responsabilidade dos administradores à frente do clube. Por que não voltarmos à debater a questão da responsabilidade envolvendo os administradores à frente do Cruzeiro?
Para que o Cruzeiro não fique com o pires na mão, com o Mineirão, o que economista Wagner Pires de Sá e sua numerosa equipe deverão fazer (além de colocar culpa unicamente na conduta iniciada por Gilvan)?
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