COMO JOGAVA O FORTALEZA DE ROGÉRIO CENI

Compartilhe

Foto de capa: JL ROSA

Depois de pouco mais de 3 anos, chegou ao fim a era Mano Menezes no Cruzeiro, marcada por muitos títulos e um estilo pragmático que gerou várias discussões entre a torcida. Rogério Ceni desembarcou em Belo Horizonte para resgatar não só o time da zona de rebaixamento como propor um estilo de jogo mais ofensivo, trabalhando bem a bola com a intensidade e velocidade.

De forma bem objetiva vou trazer nesse texto como era praticado o futebol do Fortaleza sob o comando de Rogério Ceni. Foi o técnico mais longevo do clube neste século, além do mais vitorioso. Saiu como ídolo e campeão de praticamente tudo que sua equipe disputou. Venceu o estadual, a Copa do Nordeste e a Série B. 3 taças em quase dois anos de trabalho.

Série B

O Fortaleza de Rogério Ceni liderou a posse de bola (57%) e a troca de passes (média de 413,7 por jogo – 90% aproveitamento). Foi o 3° time que mais finalizou (532, 193✅) e 3° melhor ataque com 54 gols (média de 1.4), precisando de 9.85 chutes para marcar um gol (7° geral) e 12 para sofrer (12° geral). Conquistaram o título com orçamento de R$ 1 milhão, apenas o 9º maior. Por terem mais a bola, ficaram em 18º nos desarmes, com média de 14 por jogo (530 total, 464✅). Natural pelo estilo de posse e por ser uma equipe com certa dificuldade em reagir ao sofrer um contra-ataque. 

Os laterais davam amplitude e profundidade ao ataque enquanto os pontas se movimentavam por dentro ou buscavam tabelas explorando o pivô de Gustagol, fundamental no esquema de Rogério Ceni. O camisa 9 marcou 30 gols em 45 jogos na temporada, 14 na Série B. Dodô era o meia com liberdade para circular pelo meio e buscar bola junto aos volantes que eram opção de saída para os zagueiros. O sistema base era o 4-2-3-1. Foram 34 rodadas liderando a competição, segunda melhor marca da história, perdendo apenas para o Corinthians de 2007 que liderou por 37 jogos consecutivos. Um aproveitamento de 62% com 21 vitórias, 8 empates e 9 derrotas.

Série A

Após perder Gustagol, Ceni precisou se adaptar. Júnior Santos, Kieza, Wellington Paulista, Marcinho e André Luís (por último) foram usados no ataque. Ora utilizando um sistema ousado com apenas um volante (4-1-3-2), com dois pontas abertos dando velocidade e cortando pra dentro mais dois atacantes de mobilidade atacando o espaço às costas dos defensores e fazendo pressão nos zagueiros adversários, conquistou o Estadual e a Copa do Nordeste. Sabendo que o desafio de uma primeira divisão com o segundo menor orçamento exigiria ajustes táticos e de mentalidade, Ceni passou a adotar um estilo reativo (posse de bola caiu para 47%, apenas o 15º) que variava entre o 4-4-2 (defendendo) e o 4-2-4 (atacando) com muita intensidade nas transições e velocidade nas trocas de passe. Os laterais se mantém abertos e os homens de lado possuem importante função, pois precisam recompor com velocidade e também atacar pelas extremidades recebendo lançamentos em profundidade. Os volantes são fundamentais no sistema de jogo de Rogério Ceni, pois além de marcar precisam ter um passe qualificado para armar o time e qualificar a articulação no meio campo. Quem faz isso com muita qualidade é Felipe. Ou seja, os volantes com Ceni precisam ter bom passe, qualidade nos lançamentos e viradas de jogo, além de combativos no meio para evitar um contra-ataque. Nem precisa falar qual setor do Cruzeiro é o mais carente, né?

Existem outras duas situações que provavelmente poderão gerar algum desconforto: a utilização do goleiro como mais um jogador de linha. No Fortaleza, Felipe Alves participava diretamente da construção da equipe, saindo da área e sendo opção com os pés para se associar aos zagueiros e também fazer lançamentos. Ceni precisará adaptar essa situação no Cruzeiro, já que nenhum dos nossos goleiros possui esse costume. Deixa o Fortaleza na 12° colocação com 17 pontos (6 de distância do Z4) e aproveitamento de 40,5%. A outra são os atacantes pressionando no momento sem bola. Thiago Neves e Fred, caso atuem juntos, não possuem a intensidade exigida pelo técnico para dar combate e fazer a primeira pressão. Nesse caso, pode ser que Sassá ganhe mais espaço junto com Rodriguinho que quando voltar de lesão também precisará se adaptar à nova realidade.

O estilo de jogo preferido de Rogério Ceni é um futebol ofensivo, controlando a partida tendo a posse de bola e obrigando o adversário a se defender no seu próprio campo. Contudo, os jogadores do Cruzeiro passaram três anos assimilando uma cultura completamente diferente da sua, o que será um desafio pra ele. A mudança deve ser gradual e ele mostrou capacidade de fazer isso no próprio Fortaleza. A nova era começou e que seja de muito sucesso.

#MeDibre

 

Compartilhe