Logo Deus Me Dibre
Cruzeiro

Cruzeiro apresenta deficit de R$226 milhões, o segundo pior da história; situação é grave, mas perfil das dívidas muda

Compartilhe

IMAGEM: REPRODUÇÃO / CRUZEIRO E.C.

O Cruzeiro ainda não divulgou de forma oficial seu balanço financeiro referente ao ano de 2020, mas o portal Deus Me Dibre teve acesso ao documento de 33 páginas que detalha as condições em que o clube se encontra financeiramente. E os números, até por uma questão óbvia, continuam alarmantes. O clube teve o segundo pior deficit de sua história, sendo mais de R$226 milhões. A situação só não é mais alarmante do que foi em 2019, por conta de cortes e acordos realizados. 

O documento, que será enviado a todos os conselheiros, foi auditado pela Moore, mesma empresa responsável por apontar a insolvência no clube no ano passado, quando apresentou o maior deficit de sua história (R$394 milhões). As grandes mudanças em relação aos demonstrativos de 2019 e de 2020 se dão nas negociações e nos cortes necessários de gastos.

Dívidas

Quando o clube foi expulso do PROFUT, teve boa parte de sua dívida tributária realocada para o passivo circulante – ou dívidas de curto prazo – e isso fez com que a dívida global naquele momento chegasse a casa do R$1 bilhão. Esse número, hoje, é de R$897 milhões, boa parte por causa do acordo realizado com a Procuradoria Geral da Fazenda Nacional (PGFN): uma dívida na casa dos R$334 milhões caiu para pouco mais de R$182 milhões, a serem pagas em 145 parcelas mensais desde outubro de 2020. Essa diferença é descrita no balanço como “Benefícios Fiscais” no valor de R$152 milhões.

O perfil da dívida é o principal ponto de mudança. Se em 2019 as dívidas enforcavam o caixa e deixavam o clube sem qualquer fluxo de dinheiro, em 2020 o trabalho das gestões que comandaram o clube – tanto o Conselho Gestor, quanto a atual gestão presidida por Sérgio Santos Rodrigues – é de inverter a característica dessas dívidas. 

O Cruzeiro terminou 2019 devendo cerca de R$609 milhões a curto prazo e R$195 milhões a longo prazo, muito por conta dos gastos desenfreados e da irresponsabilidade administrativa da gestão do ex-presidente Wagner Pires de Sá. A realidade, hoje, ainda é problemática. E embora a somatória seja pior, a dívida que menos compromete no momento (não circulante) já é maior (R$586 milhões) que a dívida a curto prazo, que diminuiu (R$312 milhões).

Essa mesma mudança de perfil pode ser vista também nos empréstimos bancários. Os valores totais não tiveram tanta alteração. O Cruzeiro segue utilizando dos financiamentos bancários um recurso, fechando o balanço com mais de R$128 milhões a serem pagos (em 2019 esse valor foi de R$142 milhões). Mas, desse valor total, apenas R$14 milhões entraram no passivo circulante (contra R$65 milhões em 2019).

Receitas

Com a queda pra Série B do Campeonato Brasileiro, a desvalorização do elenco e a pandemia do Covid-19, era previsível que a receita do Cruzeiro caísse bruscamente. E esse baque foi sentido em praticamente todos os setores: direitos econômicos, publicidade e transmissão, bilheteria, sócio torcedor e outros. O Cruzeiro saiu de mais de R$280 milhões em 2019 para os R$118 milhões ao final de 2020.

O resultado total da venda dos atletas também chama a atenção. Se em 2019 o resultado da cessão definitiva dos jogadores negociados rendeu ao clube R$67 milhões, em 2020 esse valor foi de R$6.873 milhões. Algumas negociações no demonstrativo chamaram a atenção, como a venda dos 20% do meia Thonny Anderson na qual o clube ainda tinha direitos econômicos – hoje o jogador pertence ao Red Bull Bragantino.

Custo Futebol

A diminuição no custo das atividades desportivas também é visível no balanço. A redução de gastos com pessoal no futebol profissional, liberação de atletas, direitos econômicos, acordos e indenizações, são os maiores responsáveis por baixar significativamente os valores. O Cruzeiro saltou dos quase R$438 milhões gastos em 2019, para os R$250 milhões em 2020. Juntando com as categorias de base, os esportes amadores e os sociais, essa diferença passa dos R$200 milhões gastos.

Por consequência, esse valor não iria diminuir sem que outros aumentassem. Com a rescisão unilateral de funcionários e atletas por parte do clube, atrasos de salários e decisões liminares na justiça, além das diversas execuções fiscais, tributárias e de ordem desportiva, fez com que o clube precisasse aumentar sua provisão de gastos com o judiciário.

Aqui é importante ressaltar que o clube busca, há algum tempo, um acordo junto ao Ministério do Trabalho para resolver as pendências judiciais. Mas enfrenta, no momento da publicação desta matéria, uma ação civil pública em razão dos descumprimentos e irregularidades salariais.

FIFA

Por fim, é preciso ressaltar os gastos com os processos do clube na FIFA. O procedimento denominado “OPERAÇÃO FIFA” consistia na doação direta de valores vindo de torcedores e investidores ao clube, através da plataforma MEEP. O valor total arrecadado foi de R$741.165, do qual foi usado pouco mais de R$722 mil para pagar custas processuais, impostos e a parcial de uma parcela ao Independente Del Valle. Os valores foram descritos da seguinte forma: