FOTO: STAFF IMAGES / FLICKR / CRUZEIRO E.C.
É impossível falar do presente das finanças do Cruzeiro, sem relembrar as tragédias do passado recente, quando as contas de 2019 foram apresentadas com o maior deficit da história de um grande clube no Brasil: quase R$400 milhões de reais, com um prejuízo superior a R$1 milhão por dia. Desde então, diversas estratégias foram tomadas por aqueles que estiveram à frente do clube, seja na figura do Conselho Gestor, ou na pessoa de Sérgio Santos Rodrigues.
A tentativa de enxugar as contas, ao mesmo tempo que buscava sucesso desportivo e o retorno do time à série A do Campeonato Brasileiro, foi um verdadeiro fracasso. Sempre à mercê de execuções judiciais e bloqueios bancários, a temporada de 2020 continuou assombrando o clube, que permaneceu na segunda divisão e apresentou o deficit de R$226 milhões, o segundo pior da sua história.
Nossa reportagem teve acesso aos demonstrativos financeiros do Cruzeiro referente ao ano de 2021 e, como esperado, o cenário ainda permanece problemático e preocupante. O clube chegou a ser considerado insolvente nos últimos dois anos e se não fosse a recente transformação do clube em Sociedade Anônima do Futebol, a SAF, que, de alguma forma, diminui o peso do vínculo entre o clube social e as obrigações da associação, o exercício do futebol continuaria se tornando inviável para esta temporada.
A parte boa do balanço é mostrar uma queda considerável no prejuízo que o clube teve no último ano. Uma redução de pouco mais de R$110 milhões, saindo dos R$226 milhões de 2020 e indo para o valor de R$113.047 milhões de deficit para a temporada passada. Apesar disso, o valor ainda é histórico e representa o terceiro pior ano financeiro da equipe em toda sua história.

Outro ponto que chama a atenção no demonstrativo financeiro é o gasto específico com o futebol. Novamente, o Cruzeiro gastou mais do que arrecadou. Para a temporada de 2021, o clube teve uma receita líquida de R$138 milhões, mas gastou quase R$177 milhões, o que acarretou em um prejuízo total de R$38 milhões.

Um dos grandes problemas são as dívidas de curto prazo – ou o passivo circulante, como é normalmente descrito nos documentos – que obriga a o clube a pagar de imediato ou sofrer consequências, como foi o caso do transfer ban, que impedia o registro de atletas por conta de dívidas com outros clubes, ou execuções de ordem cíveis, trabalhistas e fiscais, que acabam acarretando em penhora, bloqueio de contas e bens.
Em 2021 esse número aumentou em relação ao ano de 2020, saindo de R$384 milhões e chegando em R$423 milhões. Parte desse aumento é devido ao número de empréstimos e financiamentos e também pelo aumento de obrigações trabalhistas e sociais.

O balanço também mostra que a dívida total do clube persiste na casa do bilhão, mesmo com a tentativa de diminuir gastos e controlar as finanças através de acordos realizados com os credores. No total, o clube deve R$1.016.847 bilhão.

Vale ressaltar que esses números se referem ao período do clube antes da criação da SAF, adquirida por Ronaldo em abril deste ano, mas gerida pelo mesmo desde o interesse em realizar a aquisição, em dezembro de 2021. Desde então, Ronaldo aportou valores para pagamento de dívidas emergenciais e para o funcionamento do futebol sem atrasos de vencimentos com alguns credores, mas esses números só irão aparecer no balanço financeiro referente ao exercício de 2022.
O Conselho Deliberativo do Cruzeiro irá realizar a votação para a aprovação dos números totais do demonstrativo financeiro na próxima sexta-feira (29), às 17:30h, no ginásio do Barro Preto.