FOTO: REPRODUÇÃO / CRUZEIRO
A associação do Cruzeiro apresentou no final do mês de abril aos seus conselheiros os balancetes com os números totais da dívida do clube. A reunião, realizada no clube do Barro Preto, teve momentos de questionamentos e discussões por conta da falta de apresentação mais clara dos números do Cruzeiro através de um balanço financeiro devidamente detalhado com notas explicativas.
De toda forma, o clube apresentou uma dívida total de R$1,058 bilhão e teve suas contas aprovadas pelo conselho com ressalvas. Apesar da situação financeira delicada e de viver um processo para reestruturar sua dívida através da Recuperação Judicial, o relatório em si apresenta um superavit de R$148,306 milhões, que só foi possível por conta das consequências da transformação do futebol do clube para o modelo de Sociedade Anônima do Futebol (SAF).
Nossa reportagem teve acesso ao balanço financeiro da associação do Cruzeiro. O relatório teve auditoria da empresa BDO Brazil e, segundo as considerações da responsável pela auditoria, apesar de apresentar nos números esse possível lucro ao fim de 2022 a associação teve um real deficit de R$80.895 mil. Parte dessas informações foram trazidas em primeira mão pelo jornalista Thiago Fernandes, do portal Goal.com.
Um ponto importante destacado nos demonstrativos financeiros diz respeito à transferência dos centros de treinamento (Toca da Raposa I e II) à SAF. Segundo as notas explicativas do balanço, em “Contas a Receber” há o valor de R$209,023 milhões descritos como “Venda Tocas 1 e 2” e as notas explicativas deixam claro que esse valor entra como uma contrapartida: a SAF assumiu a obrigação de repassar à associação os recursos para o pagamento da dívida tributária do clube, que foi devidamente parcelada no que é chamado de PERSE (Programa Emergencial de Retomada do Setor de Eventos).
Os valores dessa negociação, realizada em março de 2022 com a Procuradoria Geral da Fazenda Nacional (PGFN) e que ficam a cargo da SAF realizar os pagamentos, giram em torno dos R$183 milhões, divididos em 145 parcelas mensais e sucessivas
O balanço também aponta a diferença e o impacto de transformar seu futebol em SAF, uma vez que o clube passou a não contabilizar mais ativos intangíveis, ou seja, direitos federativos e econômicos de atletas, que se transferiram para a nova modalidade, sob a gestão de Ronaldo Fenômeno. Desta forma, o clube saiu de um custo de R$24 milhões em 2021 para menos de R$2 milhões em 2022.
Vale ressaltar que o Cruzeiro, apesar de ter votado e aprovado suas contas com ressalvas, deveria ter publicado suas demonstrações financeiras até o último dia do mês de abril, conforme legislação vigente determina. Segundo apuração, essa publicação deverá ser devidamente disponibilizada pelo clube ainda nesta semana e mais detalhes poderão ser analisados até lá.
Em contrapartida, o “Cruzeiro SAF” não apresentou, até o momento, suas demonstrações financeiras e nenhum outro tipo de relatório que apresente transparência em suas contas. De acordo com o Estatuto Social que constituiu a própria SAF, não só o balanço anual das contas é obrigatório, como também a apresentação de balanço trimestral sempre ao final de cada mês de junho, o que ainda não aconteceu.