
Há umas décadas atrás, as convocações para a seleção brasileira eram eventos esperados por grande parte da população brasileira. Especular as convocações geravam muito interesse nos torcedores de todos os times e quanto mais jogadores de seus times eram convocados, mais os torcedores enchiam o peito de orgulho para ostentar perante os rivais. Nessa época, o sonho de todos os jogadores era servir a seleção brasileira e representarem seus times vestindo a amarelinha. Era um tempo de sonho, desejo, civismo e até mesmo de se orgulhar em torcer para a seleção. Não havia redes sociais, assessores, jogadores de brinquinhos, tatuados e chuteiras coloridas… Via de regra, iam os melhores para a seleção…
Da década de 90 para cá, aproximadamente, muita coisa mudou… As convocações começaram a perder o brilho perante os torcedores. A “seleção” começou a preferir longe de seu povo, o time passou a ostentar mais jogadores jogando fora do país, interesses de patrocinadores começaram a interferir na escolha dos convocados e muita gente começou a perder o brilho e encanto que antes tinha pela amarelinha… A seleção BRASILEIRA começou a ser tratada como “o time da CBF”… Muitos jogadores começaram a ser convocados não por méritos exclusivos, mas, por grupos e interesses de terceiros… A poesia e tom saudoso do futebol brasileiro deu lugar ao interesse dos patrocinadores, empresários e a cifra tomou o lugar do sentimento cívico.
Em grande parte do país, os torcedores começaram a desgostar do time da CBF e a busca de jogadores convocados passou a ser mais como prêmio aos atletas de suas equipes do que por interesse na melhor representação nacional.
Certo é que hoje, as convocações nacionais não são encaradas mais de forma simplista e com tom de orgulho. Muitas das vezes elas podem revelar desconfiança e até mesmo uma teoria da conspiração que por vez ou outra fica difícil de não supor interesse obscuro por traz disso.
Em 1998, a torcida celeste sempre pedia a convocação do goleiro Dida por conta de suas brilhantes atuações. Dida era, á época, um dos grandes e decisivos goleiros do cenário nacional. Por várias vezes foi preterido nas convocações até que veio uma coincidência que foi decisiva.
Na semana do jogo de volta da final da Copa do Brasil de 1998, entre Palmeiras e Cruzeiro, coincidentemente o goleiro Dida veio a ser convocado para amistosos nos Estados Unidos. Sem conseguir a liberação do goleiro titular, o Cruzeiro foi ao jogo com o reserva Paulo César Borges (que já não era o PC Borges do início da década de 90) e com falha clamorosa deste o Palmeiras veio a puxar o caneco das mãos da raposa. Palmeiras campeão. Detalhe: Dida não foi titular nos amistosos do time da CBF. O interesse ou a força oculta (ou nada oculta) de grupos empresariais que nos bastidores ocupam a CBF foi mais forte que o próprio bom senso e por conta de amistosos caça-níqueis um jogador celeste que poderia ter sido decisivo naquela decisão teve que viajar para servir interesses de terceiros. A ilusão saudosista de representar o país serviu de escudo para, nas entrelinhas, beneficiar a agremiação alviverde.
Vinte anos depois, após um fracasso na Copa do Mundo, a seleção brasileira volta a repetir nova situação envolvendo Cruzeiro e Palmeiras, também, em jogo decisivo pela Copa do Brasil.
Antes da Copa da Rússia, mais uma vez com o intuito de premiarem as atuações de seus atletas, a torcida cruzeirense constantemente pedia oportunidades de convocações aos atletas celestes, Fábio e Dedé. Ambos foram preteridos na ida à Copa.
Nessa sexta, 17/8, novamente para amistosos caça-níqueis nos Estados Unidos, o Cruzeiro se viu diante da mesma situação vivida em 1998. Contrastando com a alegria de Dedé pela convocação, a torcida celeste se encontra dividida. Se por um lado fica feliz pelo reconhecimento do bom futebol do “Mito”, a mesma fica “cabreira” com o desfalque contra o Palmeiras, pela primeira partida da Copa do Brasil, ainda mais quando nenhum jogador palmeirense foi convocado (mesmo com o volante Bruno Henrique se destacando, por exemplo). O zagueiro celeste, um dos pilares da defesa celeste, praticamente titular absoluto, irá desfalcar em jogo decisivo pela Copa do Brasil.
Coincidências ou não, havendo provas ou não de tentativa de minar a equipe celeste (como mineirinho a gente desconfia…), certo é que a torcida celeste não está nada feliz com o desfalque certo em mais um jogo decisivo contra o alviverde paulista (mesmo contente pelo reconhecimento do bom futebol do Mito, Dedé).
Esperamos que este desfalque não seja decisivo como em 1998 e que nas próximas convocações o técnico do time da CBF, Tite, se mostre razoável e continue convocando o zagueiro celeste no restante da temporada. Até mesmo para que a convocação não seja tida como oportunista e que o cruzeirense possa voltar a tratar o time da CBF com carinho próximo ao que defere ao seu amado clube. Se isso não for possível, muita gente engessará mais ainda o conceito de que a CBF se presta a terceiros e não ao país.
Hoje, o meu sentimento com relação à CBF é de que desconfiança e descrédito. Pra mim, está mais como CBFdp. Pelo histórico e pelas “coincidências” do passado e de hoje. Boa sorte e sucesso ao Dedé nessa viagem pelo time da CBF, mas, que os interesses da CBF se explodam. Sou Cruzeiro e minha seleção veste é azul e branco e não quero mais ser sacaneado por conta de interesses estranhos.
Contra tudo e contra todos, vamos, vamos Cruzeiro.