
FOTO: REPRODUÇÃO / LIVE PERISCOPE / SUPER 91.7 FM
Sobre a entrevista do conselheiro nato Vitório Galinari para a rádio Super 91,7FM, conduzida brilhantemente pelo apresentador Rômulo Fegalli e os comentaristas Leandro Cabido e Fred Jota, em nome da “família união” – grupo de conselheiros que apoiou e elegeu a chapa União, presidida por Wagner Pires de Sá – resolvi levantar algumas questões ditas e esclarecer alguns pontos através de fatos públicos e conhecidos já noticiados e abordados em outros momentos:
Sobre ter “bola de cristal” e saber como seria o “futuro”. De fato, ninguém tem bola de cristal. Wagner não tinha histórico, mas Itair Machado, seu braço direito e “homem forte do futebol” tinha: quebrou o Ipatinga Futebol Clube ao ponto do time mudar sua sede até deixar de existir. São inúmeras ações trabalhistas e fiscais. Inclusive, sua própria nomeação ia contra o que prevê o estatuto do clube. Itair, sinônimo dos desmandos e do aparelhamento do clube – fatos de conhecimento público – chegou inclusive a ser afastado judicialmente, o mesmo ao qual Vitório Galinari mostra admiração e gratidão na entrevista.
A “família união” não apoiou mudança de estatuto e nem quis, em nenhum momento, que o conselho gestor formado pelos notáveis tivesse sucesso. Pelo contrário, as articulações e reuniões aconteciam e seguem acontecendo nas sedes sociais, a pauta, conforme apuramos, é sempre em torno de um nome provindo deles para concorrer às eleições e retomar o comando do clube.
A conta feita por Vitório Galinari na rádio não faz nenhum sentido e isso é dito por todos os especialistas econômicos: a gestão Wagner Pires de Sá duplicou a dívida do clube sim. Inclusive, hoje, o próprio Cruzeiro através de nota oficial apontou que a dívida está na casa dos 800 milhões. Se a gestão de Gilvan de Pinho Tavares entregou um clube com dívidas e passivos a serem quitados, também entregou ativos e um clube sem dívidas fiscais, operacional e recém-campeão. Foi a gestão do Wagner que através de “contabilidades criativas” e a continuidade de uma política de gastos (aí sim, provinda da última administração) sem austeridade, aumento de vencimento de funcionários (como aconteceu com o próprio Vitório, que confirmou um aumento de 7.400 reais em seu salário) que colocou o clube na situação de hoje. As dívidas de curto prazo, os passivos trabalhistas e progressão da dívida do clube em todos os aspectos (inclusive fiscal) é que torna o Cruzeiro a “terra arrasada” de hoje.
E é importante ressaltar o pior a respeito das dívidas: o Cruzeiro passou a dever a receita federal, o leão. Dívidas fiscais que praticamente não podem ser negociadas. O clube provavelmente perderá os benefícios fiscais do PROFUT por conta da administração passada. Os próprios jogadores, através de suas declarações, seus mega-salários e das informações que apuramos, mostram que não havia responsabilidade financeira nenhuma. Empréstimos e mais empréstimos, inclusive avalizados pelo próprio presidente Wagner Pires de Sá.
Sobre a possível “venda do futebol a um sheik do mundo árabe”. Isso, além de não parecer pouco plausível, foge do estatuto do cruzeiro e é ilegal. O Cruzeiro não poderia vender “o futebol” como algo a parte, assim como não poderia vender sua integralidade. O Cruzeiro não tem capital aberto. O Cruzeiro não é um uma empresa e nem se quisesse, agora, seria. O projeto de clube-empresa, por exemplo, ainda transita no Congresso Nacional e nada garante sua aprovação.
E aqui fica a pergunta: com qual propriedade e poder Vitório Galinari e Alexandre Comoretto (Gaúcho) podem representar o Cruzeiro a ponto de “oferecer” o clube a um “sheik” desconhecido, de um país desconhecido, numa transição que nem permitida por lei é? Ou a ideia é repassar o clube como associação sem fins lucrativos? Com que base isso seria feito? Nem Vitório e nem Gaúcho respondem pelo Cruzeiro como instituição e nem dialogam com a vontade do torcedor – vide os inúmeros protestos que cobram e apontam a família união como os culpados da situação atual. Aliás, será esse o motivo da repentina mudança de postura da chapa União a respeito da mudança do estatuto?
Sobre o dinheiro que “Itair arrumou” quando assumiu, de fato, aconteceu: fez uma linha de crédito com instituições financeiras – que foram contestadas na época – e aumentou ainda mais o problema financeiro, aumentando a moratória e os juros compostos. A conta não fecha e a narrativa do dinheiro “gasto” não faz sequer sentido. Porque não se fala das vendas de atletas a preço de banana para pagar as folhas salariais? Ou da “garantia” de passe de um menino de 12 que sequer poderia ter contrato assinado?
Sobre o contrato da Adidas: falácia. O Cruzeiro não vai receber o dobro. Essa conta desconsidera o valor fixo anual pago pela Umbro e faz projeções de vendas que nunca aconteceram na história do clube. Sobre o número de camisas vendidas, os mesmos não foram divulgados oficialmente, como Galinari teria acesso a algo que nem o próprio conselho gestor ainda tem? Nem mesmo a quantidade total das vendas pode ser apurada, uma vez que as camisas estão disponíveis em plataformas que vão além das lojas físicas. O contrato, que teve um adiantamento de 2,5 milhões de reais, por si só é lesivo. O próprio jurídico do clube da gestão Wagner Pires de Sá apontou a lesividade do contrato conforme já foi noticiado.
Por fim, mas não menos importante, o grande problema de se achar algum aporte financeiro do clube hoje é por um motivo simples: o desastre financeiro foi tão grande, que o Cruzeiro provavelmente teria qualquer valor bloqueado judicialmente. Assim foi com Arrascaeta, por exemplo, que foi vendido por cifras altas e o clube sequer chegou a ver esse dinheiro dentro do seu fluxo de caixa. É o principal motivo pelo qual, até o momento, não foi lançado uma nova modalidade de sócio-torcedor ou ainda se pede “paciência” para que a torcida possa contribuir ativamente com o clube.