Diretor das categorias de base do Cruzeiro fala em “dia da dificuldade” para atletas

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FOTO: REPRODUÇÃO / TWITTER OFICIAL / CRUZEIRO E.C.

Não é de hoje que as dificuldades do Cruzeiro, em todos os âmbitos do clube, são públicas. Uma delas é a categoria de base, com profissionais e atletas lidando com atrasos no vencimento de pagamentos, 13º salário, além de uma série de denúncias recentes que vão da escassez de insumos a problemas com a hierarquia instituída na Toca da Raposa I com a nova diretoria.

Mas ao que tudo indica, nem mesmo essas dificuldades são o suficiente na visão do Diretor Executivo das Categorias de Base do Cruzeiro, Gustavo Ferreira. Em uma conversa com torcedores na live do canal do Youtube Somos Gigantes, o dirigente disse que pretende criar o “dia da dificuldade” com o objetivo de fazer os atletas da base verem “o que que a família brasileira às vezes passa”:

“Sabe o que eu to querendo fazer aqui? Vou abrir aqui pra vocês. Vai ter o ‘dia da dificuldade’, porque um dia, nós vamos, uma vez por mês, o menino vai ver o que que é dificuldade. O que que uma família brasileira às vezes passa. Porque aqui é tanta fartura, é tanta coisa bacana que às vezes o menino até esquece. Ele fica até um pouco alienado de quanto o mundo tá complicado hoje. O quanto é difícil para um trabalhador brasileiro colocar comida na mesa.”

Após as declarações que repercutiram mal e imediatamente tomaram conta das redes sociais, o dirigente, pouco tempo depois, usou o mesmo espaço da live para tentar corrigir sua fala. 

“Eu fiz uma brincadeira aqui de ‘dia da dificuldade’. Isso é uma brincadeira. Não tem nada de atleta passar fome. Aqui tá uma moda de falar que passa fome. É uma brincadeira que eu falo que um dia vou implementar.”

Sobre a “moda” dita pelo diretor, em dezembro de 2020, nossa reportagem em parceria com o portal UOL Esporte trouxe uma matéria que apresentava os problemas das categorias de base do Cruzeiro, apurada após uma série de denúncias de funcionários do clube, que mostravam, entre diversos problemas, o fim do jantar servido na Toca da Raposa I. Você confere a matéria completa clicando aqui.

Nossa reportagem entrou em contato com o advogado Antônio Queiroz, mestre em direito pela PUC Minas e professor de direito do trabalho, que explicou sobre o que diz a legislação vigente e o que a fala do diretor pode acarretar para o Cruzeiro:

“Diante de uma situação dessa, por se tratar de atletas menores de idade e em formação, por se tratar de violação à lei, inclusive a garantias constitucionais, o Ministério Público, especialmente, o Ministério Público do Trabalho, como órgão fiscal da Lei e responsável pela proteção de menores, poderá atuar e, ainda que previamente, solicitar esclarecimentos ao Clube. Uma declaração dessa atrai a atenção deste e outros órgãos de defesa de direitos dos menores, inclusive, aqueles de âmbito desportivo com implicações não só ao clube, como aos profissionais que estão à frente da base.”

O advogado e mestre ainda completa dizendo que há a possibilidade de que as declarações, junto de uma investigação do MPMG acarretarem em restrições e também punições, inclusive, na seara desportiva, pelo descumprimento de normas administrativas editadas pela FIFA e CBF, caso seja comprovado que os menores sejam submetidos a uma condição degradante, como a ressaltada pelo próprio diretor.

“O Cruzeiro pode ser notificado pelo MPMG e pelo Ministério Público do Trabalho. Para prestar esclarecimentos e caso seja comprovado alguma violação do direito, um inquérito civil pode ser instaurado.”

A assessoria do Cruzeiro foi procurada para se posicionar sobre as declarações do Diretor, mas até o fechamento desta matéria, não houve resposta. Prezando pelo bom jornalismo que é praxe no portal Deus Me Dibre, o espaço segue aberto para caso o clube ou o Diretor queiram prestar os devidos esclarecimentos.

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