FOTO: STAFF IMAGES / FLICKR / CRUZEIRO
O diretor de negócios do Cruzeiro, Lênin Franco, participou na última terça-feira (22) do Podcast Cabuloso, do canal Samuel Venâncio, no Youtube. Contratado pela equipe de gestão do Ronaldo, Lênin teve passagem por clubes como Bahia e Botafogo e explicou sobre o modelo atual de trabalho no clube e outros assuntos referentes ao marketing e ao departamento comercial do Cruzeiro.
Em um bate-papo que durou quase 2 horas, Lênin exaltou principalmente a velocidade como as coisas foram se transformando no clube e como o mercado vem enxergando o Cruzeiro depois da transição do futebol para o modelo de Sociedade Anônima do Futebol (SAF). O diretor também falou sobre a produção do documentário, o “efeito Ronaldo” nos bastidores do clube, patrocinadores e atuação no mercado, pressão da Série A e mais.
Confira abaixo, em tópicos, as principais falas do diretor de negócios do Cruzeiro:
Documentário
“A gente está em negociação com algumas plataformas. Não é uma negociação tão rápida de acontecer e a gente vem gravando. Então desde o início do processo, vem captando todo dia material, tem equipe que fica full time dentro do Cruzeiro gravando tudo. Desde a chegada (do Ronaldo). E isso não para, documentário vai registrando tudo. E depois você cria a linha de condução da narrativa que você quer trabalhar.”
Efeito Ronaldo
“(A relação de patrocinadores e parceiros) muda, sem sombra de dúvida. Porque o Ronaldo tem um carimbo de credibilidade. E esse carimbo é muito importante pro mercado. Além disso, a gente entra no modelo de SAF, que é um modelo que a gente não trabalha com tempo determinado, que é outra coisa muito importante. Eu vivi clube de futebol sempre com o fim da gestão como limite. E era aquela agonia. Quando chega no final da gestão, as pessoas não sabem se ficam, se vão ser demitidas, quem é o novo presidente, como é que ele pensa. Eu acho que isso também contribui muito pro mercado dizer assim ‘eu prefiro investir aqui, que tem continuidade, do que outro clube, que tem modelo associativo’ e somado ao fato de ter Ronaldo, muda muito a forma como o mercado olha o Cruzeiro.”
Patrocínios
“Não foi a primeira vez que eu tô vivendo essa situação (de antecipação de receitas). Dificulta muito. Às vezes você tem um contrato que não foi bem negociado, mas não porque negociavam mal, mas porque a gente não pode tirar o contexto. O que atrapalha não é o vender barato. No caso do Cruzeiro, tem contratos que foram feitos pelas necessidades que o clube passou. O que atrapalha é a forma como o contrato foi amarrado, às vezes o contrato é de muito tempo, às vezes não dá opção de saída, de flexibilidade de chegar patrocinador… isso dificulta mais. Mas é um trabalho de corpo a corpo.”
“Eu acho que tem duas coisas importantes. Uma é o fato de a gente ter como patrocinador master o Supermercados BH, na figura do Pedrinho, que é um cara que não tem uma vírgula pra se dizer o quanto que ele apoia e se doou pelo clube. E ele tem o entendimento que ele quer o melhor pro clube. Se o melhor pro clube for vir outra empresa e ele abrir mão daquele espaço e ir pra outra, ele topa. Isso já é um ponto importante. O segundo é o fato de a gente ter a credibilidade que a gente já construiu no mercado, além de ter uma figura com o Ronaldo, o engajamento do torcedor, faz com que as empresas consigam enxergar diferente. A gente tem que usar isso a nosso favor no mercado. O Cruzeiro vendia isso por X, mas não é mais aquele Cruzeiro. Já tive situação de empresa procurar pra ofertar um patrocínio de quando ela fala o valor, eu falo que é melhor nem continuar o papo. Precisa entender o tamanho desse processo.”
Pressão da Série A
“Essa pressão é eterna. Eu começo o ano com uma bigorna na cabeça. Eu preciso colocar não sei quantos milhões no clube. A gente tem que buscar o tempo todo pra bater as metas, porque o clube de futebol vive um problema eterno que é fluxo de caixa. Num mês você vai ter uma receita de patrocínio que às vezes vai ser dividido em 12 parcelas, às vezes paga em 3 parcelas. E as despesas continuam.”
Sócio 5 Estrelas
“O que mais facilita pra gente ter fluxo de caixa é o programa de sócio. É a unidade de negócio que mais proporciona ao clube ter paz pra poder viver. Ele proporciona todo mês uma receita certa, garantida. Óbvio que em um mês ou outro surge alguma dívida do passado, mas o que fez a gente viver um 2022 com um caixa relaxado foi o programa de sócio, sem dúvida. A meta era 50 mil até dezembro, e 50 mil a gente bateu em maio. Então isso foi o que foi proporcionando, de fato. A gente teve um crescimento orgânico, mas que o torcedor pode ter ciência que podia ter Ronaldo, Pezzolano, mas se não tivesse o Sócio, a coisa ia ser difícil.”
“Uma coisa que precisa ficar claro, é que não existe programa de sócio engessado, pronto. Porque o programa precisa se oxigenar o tempo todo. Porque as demandas vão mudando. À medida que evolui ou muda a demanda, você tem que estar atento pra resolver. A gente viveu um crescimento fora do normal e por conta da gente ter dificuldade de fluxo, a gente teve dificuldade de crescer a equipe. Isso faz com que nossa taxa de abandono chegava a 70% em dia de jogo. E a gente obviamente vai monitorando isso pra fazer os ajustes. Tem sofrimento em alguns momentos, mas não podemos rasgar dinheiro. Se eu aumento minha despesa, o plano não equilibra.”
Adidas
“É uma relação que tem várias pontas e as vezes o torcedor não é obrigado a saber disso, mas é bem complexa. A Adidas vende ao varejo, do valor que ela vende, ela paga um royaltie ao clube. Vocês tem duas coisas importantes: a Adidas trabalha com 4 janelas de vendas. Os produtos que eles vão vender em março, eles já tão tendo que fazer compra agora, em novembro. São 5, 6 meses de diferença. O que eles vão vender em julho, eles já começam a comprar em dezembro. A Adidas trabalha com muita antecedência, porque tem muito material importado e do lado do varejo, do lado do lojista, ele não sabe como vai ser o rendimento do Cruzeiro no campo. Aí ele tem que fazer uma decisão de desembolso, as vezes alto.”