
Não existe clube na elite do futebol brasileiro que não tenha problemas financeiros. Vemos quase diariamente na imprensa levantamentos que mostram o tamanho das dívidas de cada agremiação, sempre com valores assustadores. Para compensar isso, os clubes tentam aumentar seu faturamento das mais variadas formas, e uma fonte de receita muito importante para os clubes é a venda de jogadores. E o melhor custo-benefício neste tipo de negociação, são as categorias de base.
Um jogador que é revelado e lapidado ”dentro de casa”, tem um custo muito inferior se comparado à contratar um jogador já em ascensão em outro clube. Em tempos de salários astronômicos, contratar um bom jogador por salário inferior à R$ 300 mil/mês é algo raro. E ainda se vai uns bons milhões pagos para adquirir seus direitos econômicos (ou pagamento de luvas, no caso de jogadores sem contrato). Um jogador que sobe para o profissional recebe em média DEZ VEZES MENOS que isso em seu primeiro contrato e não há necessidade de pagar pelo seu passe.
Alguns clubes do Brasil são reconhecidos pelo seu trabalho na base: Santos, Fluminense, São Paulo, Flamengo e Grêmio são exemplos recentes de clubes com arrecadações altíssimas através da venda de jogadores revelados pelo próprio clube. É um ponto onde o Cruzeiro precisa rever seus conceitos e melhorar.
Para um jogador gerar uma boa negociação, ele tem que se destacar. Para ele se destacar, ele precisa jogar. Para ele jogar, é preciso que tanto diretoria quanto comissão técnica tenham interesse em LAPIDAR E MELHORAR jogadores que ainda não estão prontos. São raros os casos onde o jogador já chega no profissional resolvendo, ele precisa ser TRABALHADO. Nos casos dos clubes citados acima, isso é feito ”em casa”. Temos o exemplo do volante gremista Arthur, que é um dos melhores jogadores em atividade no país e já comprado pelo Barcelona. Fez sua estreia no profissional em fevereiro de 2015 e ganhou status de craque somente 2 anos depois, brilhando à partir de 2017 sob o comando de Renato Portaluppi.
Um dos problemas no Cruzeiro é que este trabalho está sendo ”terceirizado” ou até mesmo ignorado: jogadores são emprestados para clubes que tradicionalmente lutam contra rebaixamento (onde dificilmente vão evoluir), outros são liberados gratuitamente sem serem sequer avaliados e outros viram moeda de troca. Nonoca, Dudu, Rony, Caio Rangel, Nickson e Thonny Anderson são exemplos recentes.
Fiz um levantamento do uso de jogadores de base revelados nas últimas duas temporadas e seu uso em 2017 e 2018:
2017 (74 partidas disputadas/6660 minutos sem acréscimos)
Murilo: 33 jogos (2784 minutos) – 41,8% de participação
Raniel: 23 jogos (723 minutos)- 10,9% de participação
Nonoca: 12 jogos (742 minutos) – 11,14% de participação
Jonata: 5 jogos (140 minutos) – 2,1% de participação
Alex Apolinário: 5 jogos (202 minutos) – 3% de participação
Arthur: 4 jogos (317 minutos) – 4,8% de participação
Nickson: 1 jogo (9 minutos) – 0,1% de participação
Vander: 1 jogo (1 minuto) – irrelevante
2018 (25 partidas disputadas/2250 minutos sem acréscimos)**
Raniel: 13 jogos (608 minutos) – 27% de participação
Murilo: 12 jogos (1080 minutos) – 48% de participação
Nonoca: 1 jogo (4 minutos) – 0,1% de participação
Marcelo: 1 jogo (14 minutos) – 0,6% de participação
**Arthur, Cacá, Vitinho e Victor Luiz estão listados no elenco principal, mas sequer jogaram na temporada 2018.

Murilo: um dos raríssimos casos de jogadores formados nas categorias de base com oportunidades no time profissional
Com exceção do Murilo (não é coincidência ser a única possibilidade de gerar uma grande venda e único a receber proposta) e TALVEZ o Raniel (Fred voltando o que acontece?), jogadores revelados na base são sub-aproveitados pelo Cruzeiro. Enquanto isto assistimos medalhões tendo inúmeras oportunidades sem corresponder ou fazer ou jus ao custo que carregam. A questão é: não seria do interesse do clube valorizar o seu próprio produto e ter retorno técnico e financeiro à um custo mais baixo? Se sim, porque não acontece?
O Grêmio (hoje um modelo a ser seguido no futebol) faturou R$ 165 milhões com venda de jogadores revelados na base APENAS NO ÚLTIMO ANO. Fora isso, recusou uma proposta de 22 milhões de euros (R$ 83,8 milhões na época) pelo Luan e uma proposta de 8 milhões de euros (R$ 31 milhões) pelo Éverton, entre agosto e dezembro de 2017. O Renato Portaluppi faz um trabalho brilhante com jogadores jovens, graças ao trabalho dele e da diretoria, o Grêmio não apenas tem empilhado taças como também tem faturado alto com seus pratas da casa.
E no Cruzeiro, como estamos de negociações e vendas de jogadores formados no clube nos últimos 2 anos? Hora de repensar onde precisa ser corrigido, pois essa gestão inteligente na montagem de um elenco tem salvado vários clubes e estamos ficando para trás. Jogadores acima dos 30 anos raramente se negocia por altas cifras, e não custam pouco (ainda mais quando não rende o que se espera ou só ocupa um lugar no banco de reservas). Acorda, Cruzeiro!
#VamoQueVamo
FOTOS: twitter oficial do Cruzeiro