
FOTO: RAFAEL RIBEIRO / VASCO / SITE OFICIAL
As mudanças prometidas pela atual diretoria do Cruzeiro na virada do ano começaram a acontecer. Se com a saída de Alexandre Mattos da direção de futebol do Atlético e a forte relação do dirigente com o técnico Felipão davam indícios de que a dupla – campeã brasileira pelo Palmeiras em 2018 – poderia ser refeita, a dúvida foi sanada com menos de 24 horas, com o anúncio do Cruzeiro de que André Mazzuco, que esteve em seu último trabalho no Vasco. Seu histórico de trabalho pode ser conferido clicando aqui.
Apesar de deixar o Vasco em uma situação delicada e não ter conseguido recuperar o time durante o Campeonato Brasileiro da Série A (a equipe luta contra o rebaixamento e está, atualmente, na 17ª posição), Mazzuco trabalhou durante quase dois anos com um orçamento limitado devido a grave crise financeira vivida pelo Vasco. Na maior parte do tempo buscou jogadores por empréstimo ou em fim de contrato, mostrou assertividade no mercado Sul-Americano fazendo boas apostas com um índice de acerto alto, o que pode ser uma válvula de escape para o Cruzeiro fugir de um mercado cada vez mais inflacionado.
Uma característica marcante do seu trabalho em 2020 foi a opção por buscar jogadores mais experientes e livres no mercado. Traço que deve agradar ao técnico Luiz Felipe Scolari. Recentemente, o comandante externou a necessidade de buscar atletas com mais rodagem para disputar a Série B: “Não sai da Série B só com camisa, sai com jogadores. Não sai só com meninos, sai com jogadores um pouco mais veteranos e mais rodados”. Das 17 contratações feitas pelo diretor durante sua passagem no Vasco, quatro tinham mais de 30 anos e dois tinham 29. No geral, a média de idade foi de 26 anos. Ao todo, foram 11 contratações.
Outro traço forte do seu trabalho é a tendência a fugir do senso comum buscando jogadores em mercados alternativos e pouco explorados no Brasil. Um deles deu muito certo: a aquisição do polivalente lateral Léo Matos junto ao PAOK, da Grécia, sem custos e em definitivo efetivada em outubro. O veterano de 34 anos já atuou em 10 partidas, com 1 gol e 1 assistência, rendendo elogios dos torcedores. Do estadual do Rio de Janeiro vieram em julho o zagueiro Marcelo Alves (22 anos) e o atacante Ygor Catatau (25) por empréstimo. O defensor demonstra ser uma boa aposta para o futuro, tendo agradado nas partidas que atuou (10 jogos, 8 como titular). No entanto, essas duas contratações possuem lobby político, com o diretor tendo pouca – ou nenhuma – decisão sobre elas.

Germán Cano e Martín Benítez: dupla argentina fez sucesso no Vasco. Foto: Getty Images
Se a contratação de Léo Matos foi uma boa sacada, às chegadas de Carlinhos (meia, 26 anos, contratado em agosto junto ao Standard Liège-BEL em definitivo e sem custos) e Neto Borges (lateral esquerdo, 24 anos, contratado em agosto de 2020 junto ao Genk-BEL, por empréstimo) não tiveram o mesmo impacto positivo. O meia-atacante atuou em 24 partidas e marcou 1 gol e deu uma assistência. Sua oscilação é o principal ponto de crítica dos torcedores. Já o lateral fez 16 jogos (11 como titular), não marcou gols e deu uma assistência. Suas atuações não convenceram o torcedor. O atacante Guilherme Parede (contratado em agosto junto ao Talleres-ARG) também não rendeu e foi devolvido. Contratado por último junto ao Portimonense-POR por empréstimo a pedido do ex-treinador Sá Pinto, o zagueiro Jadson, de 29 anos, atuou em quatro jogos e ainda não convenceu.
Por fim, o principal ponto positivo do seu trabalho no cruz-maltino foi o mapeamento do mercado Sul-Americano. O argentino Germán Cano (33 anos) e o meia Martín Benítez (26 anos) chegaram sem custos e são os principais nomes da equipe vascaína. Além deles, o volante Leonardo Gil (29 anos) chegou em outubro por empréstimo junto ao Al Ittihad-ARA e tem potencial para ser um jogador útil, com bom passe e poder de marcação. Em 2019, o experiente colombiano Fredy Guarín teve participação importante na recuperação da equipe no Brasileirão com Vanderlei Luxemburgo. O único que ainda não correspondeu foi o atacante colombiano Gustavo Torres, de 24 anos, contratado em outubro junto ao Atlético Nacional-COL, por empréstimo. Em 11 jogos, ainda não marcou gols. O atacante angolano Toko Filipe, de 21 anos, foi contratado em outubro junto ao Louletano-POR, por empréstimo e ainda não estreou. É outro que teria vindo por influência política.
É preciso entender que Mazzuco enfrentou desafios durante sua passagem pelo Vasco. O principal deles foi a falta de recursos, tendo que utilizar da criatividade e um bom banco de dados para trazer jogadores livres no mercado ou por empréstimo. Dessa forma, é mais complicado ser assertivo, mas o diretor mostrou criatividade quando buscou opções na América do Sul. Com exceção de Gustavo Torres e Parede, os outros quatro estrangeiros mostraram qualidade. Dos 11 contratados em 2020, pelo menos cinco atuam com regularidade entre os titulares. A má campanha do Vasco no Brasileiro serve de alerta, mas a constante troca de treinadores, os atrasos salariais e o caos político vivido pelo clube devem entrar na equação. No Cruzeiro, encontrará semelhanças e na Série B terá a missão de buscar o acesso em 2021.