
IMAGEM: REPRODUÇÃO / YOUTUBE / CRUZEIRO OFICIAL
O presidente do Cruzeiro, Sérgio Santos Rodrigues, realizou nesta quarta-feira (07) uma coletiva de imprensa, feita de forma virtual e com os questionamentos enviados por áudio de forma prévia. Entre os diversos assuntos tratados, estão a questão dos salários, a má fase do time na Série B, o tema clube-empresa e a relação com investidores e parceiros.
A coletiva completa pode ser acompanhada no canal oficial do Cruzeiro no Youtube com quase uma hora de duração. Aqui você acompanha, em tópicos, os principais pontos das respostas dadas pelo presidente sobre os mais variados temas.
Desempenho esportivo e relação salarial
Questionado sobre a influência da questão dos atrasos salariais com o desempenho do time na Série B do Campeonato Brasileiro – atualmente o Cruzeiro ocupa a 13ª posição com 10 pontos ganhos em 10 jogos – Sérgio disse que os atletas não deixam de desempenhar por conta desse problema.
“Quero enaltecer muito o nosso grupo e dizer que o torcedor jamais pode imaginar que vai haver uma não entrega, ou um corpo mole por parte dos nossos atletas em razão disso (salários atrasados), pelo contrário. Eu estou todo dia na Toca praticamente, viajo com o elenco esse ano e se tem uma coisa que não tem no nosso elenco é isso. Tem entrega e dedicação. Em nenhum momento atrelar o desempenho esportivo a questão salarial.”
Sérgio ainda destacou que a realidade do futebol brasileiro é essa e que as coisas tomam outra proporção no Cruzeiro.
“O grande problema é que a maioria dos clubes devem, só que só aqui se divulga e fala disso o tempo inteiro. A gente vê clubes da Série A e Série B, temos jogadores que vieram de outros clubes e passaram quatro, cinco meses sem receber lá. Acho que é importante frisar para não parecer que isso é um caso isolado. Infelizmente é a realidade do futebol brasileiro. Não estou justificando, estamos errados sim e estamos buscando para trabalhar e resolver esse problema que nunca foi a realidade do Cruzeiro.”
Planejamento e longo prazo
O presidente do Cruzeiro reitera que sua gestão vem fazendo um bom trabalho e que o foco é no longo prazo. Ainda citou a participação de duas empresas, a Alvarez & Marsal e a Ernest & Young, como sendo fundamentais nesse processo, acompanhando e fazendo o trabalho de consultoria e assistência pro que está sendo aplicado.
“Não existe caso de recuperação em 1 ano. Nosso trabalho é de longo prazo sim e de forma sustentável. Acho que os números mostram que administrativamente a gente conseguiu algumas vitórias, temos esse problema de curto prazo como o salário, uma dívida que chega e a gente não conseguiu recurso para isso, mas é uma situação atípica em todo país e no mundo, em razão da pandemia. Estamos trabalhando em diversas frentes, com esses especialistas, é fundamental falar isso o tempo inteiro. Nós temos as duas maiores empresas de assessoria e consultoria do mundo que tão aqui o tempo inteiro nos ajudando.”
Ao ser questionado sobre ter se comprometido e assumir a responsabilidade da situação atual do clube, Sérgio deixou claro que não conseguiu realizar tudo que planejava por conta das consequências da pandemia que vem assolando o país nestes tempos.
“Eu falei num cenário que a gente tem que entender que ninguém imaginava como que seria esse ano. Eu assumi dia 1º de junho e a gente tava programando festa de centenário, como que a gente ia ganhar dinheiro com o centenário. A gente estava falando com o Belleti de jogar em Barcelona, falando de fazer churrascão, outros eventos junto ao consulado italiano para trazer um time da Itália e jogar num Mineirão lotado. Tudo é recurso, se a gente pegar por baixo, talvez o pior ano do Cruzeiro com bilheteria deu 25 milhões de reais ao Cruzeiro. Com esses 25 milhões eu teria pagado todos os meus transfer ban e estaria com os salários em dia. Eu falei isso num cenário que a gente não conseguiria imaginar. Ninguém imaginava que sobretudo o Brasil estaria sofrendo como está sofrendo. Ainda sem mudança de perspectiva. A responsabilidade é minha? É. Pode cobrar? Pode, com certeza. Só acho que é injusto não saber contextualizar as coisas. É olhar no espelho, enxerga o cenário macro ao invés de só apontar e querer culpar-nos por tudo isso que está acontecendo.”
Dívidas na FIFA e punições
O presidente também respondeu sobre as punições sofridas pelo Cruzeiro recentemente, como o transfer ban causado pela dívida com o Defensor (URU) pela compra do meia De Arrascaeta e as que estão por vir. E deixou claro que não existem recursos atualmente para pagá-las.
“Essas dívidas da FIFA existem a muito tempo e infelizmente estouraram todas praticamente de uma vez. São processos que tramitaram três, quatro, cinco, seis anos dependendo de conforme for a FIFA, de atletas que foram vendidos e renderam muito dinheiro ao Cruzeiro e não foram pagos. Temos essa do Arrascaeta, que gerou o transfer ban, vamos ter outra do Riascos, agora em julho, que geraria também o transfer ban. Não existe recurso para pagá-las.”
A dívida que atualmente pode acarretar na punição mais grave – rebaixamento à Série C do Campeonato Brasileiro – referente à contratação do volante Denilson, em 2015, também foi citado pelo presidente, que deixou claro que existe uma negociação vigente, que envolve a alienação do estacionamento da Sede Campestre, para que seja feito o pagamento.
“Quanto a do Denilson, que pode acarretar uma perda mais efetiva, a gente conseguiu aprovar a alienação da Sede Campestre II e desde então temos procurado compradores. Até conseguimos comprador que vai pagar o valor de avaliação. Só que são aqueles problemas micro que às vezes as pessoas não sabem: quando a gente foi efetivar a venda, vimos que ele não está regularizado, faltam diversos documentos a serem conseguidos. Hoje, quem vive na pandemia, sabe como é difícil conseguir uma certidão, cartório atrasando, mas a gente tá correndo e a gente vai conseguir resolver isso.”
Novo patrocínio e relacionamento com investidores
Questionado sobre sua relação com empresários e investidores do time, em especial com Pedro Lourenço (Supermercados BH), Sérgio disse que existe diálogo. O presidente anunciou em primeira mão que o clube pretende anunciar amanhã, quinta-feira (08), um novo patrocinador para o clube, por indicação do próprio Pedro.
“O patrocinador que a gente vai anunciar amanhã ontem esteve na Toca com o irmão do Pedrinho (Lourenço, dono da rede Supermercados BH), é um fornecedor do Pedrinho, que foi indicado pelo Pedrinho que é um cruzeirense apaixonado. Ontem mesmo ele me ligou e pediu pra receber uma pessoa e indicou esse novo parceiro.”
Saída de Felipe Conceição e “comum acordo”
“Nossa nota é muito explicativa. Ao conversar, chegamos já batendo um papo (com Felipe Conceição) e entendendo que ali não havia mais clima para continuação. Tanto que ali mesmo já se arma a coletiva. Aí eu falo “conversamos e optamos”, no plural, nós, pela descontinuidade do trabalho. Realmente por essa falta de clima. Tanto que dali o próprio Felipe vai pro hotel, não foi no vestiário despedir dos atletas e foi isso que aconteceu. Ele não me pediu demissão e nem eu demiti ele. A gente entendeu, como eu usei a palavra, de dar descontinuidade e não continuar o trabalho no Cruzeiro, de comum acordo. Então foi isso que aconteceu.”
Desempenho em campo e Mozart
O presidente também respondeu questionamentos sobre o momento vivido pelo time dentro de campo. Projeções sobre acesso e a forma como o atual departamento de futebol e a comissão técnica vem realizando seu trabalho. Sérgio relembrou do momento turbulento em que esteve no clube como Superintendente de Futebol.
“Eu passei no Cruzeiro, no futebol, em 2015 e 2016. A gente tem um momento complicado com a saída do Vanderlei (Luxemburgo) aí vem o Mano muito elogiado e um momento de muita euforia. Aí depois quando o Mano sai tivemos problema na época de Deivid e de Paulo Bento. Aí volta o Mano e o momento é bom. A gente sabe que o futebol, infelizmente, vai decorrer muito desse resultado desportivo. Eu passei por esses momentos. Quando a gente começou com o Enderson, ganhamos 6 partidas, era todo mundo enaltecendo. (…) É claro que o momento é turbulento, não tiro a razão do torcedor. Eu também estou chateado. A gente precisa melhorar, mas ele pode ter certeza que essa turbulência não pode afetar nosso psicológico e nosso ânimo de trabalhar. Por isso que eu falo que a gente tem que largar o coração pra sentar na cadeira e tomar a decisão com a cabeça. Porque isso me incomoda muito.”
E foi enfático ao dizer que os problemas atuais dependem de dar tempo ao técnico Mozart e também da disponibilidade do elenco.
“Desde que o Mozart chegou, o tempo de trabalho é o que a gente precisa. Ter o elenco completo à disposição. E se apegar ao tipo de número e de campanha que quiser. Outro exemplo que eu dei foi o próprio Mozart que conseguiu, junto com o Rodrigo Pastana, que arrancam da zona de rebaixamento ao quase acesso. Vamos ter uma semana cheia que vai ser fundamental.”
Clube empresa e SAF
Questionado por nossa reportagem sobre como anda o processo interno do clube em se transformar numa Sociedade Anônima do Futebol, dentro do que determina o Projeto de Lei que tramita atualmente na Câmara dos Deputados, Sérgio disse que até a próxima semana espera lançar o edital para votação do Conselho Deliberativo. Mas não quis estabelecer um prazo.
“Nosso trabalho é esse. Eu acho que sou um dos maiores defensores dessa bandeira do Projeto de Lei (do clube empresa) primeiro no Senado. A gente acredita que até o fim da semana lance o edital para que o conselho deliberativo já deixe aprovado aí o registro da constituição da sociedade de acordo com a valuation que vai ser feito pela Alvarez & Marsal, que é especialista nisso, pra gente já antecipar os prazos. Porque o nosso desafio junto a Ernest & Young é que o Cruzeiro seja a primeira SAF do futebol do Brasil. Então eu tô animado que isso vai acontecer muito mais rápido do que a gente imagina. O difícil de dar prazo é que se tratando de câmara dos deputados, etc, pode demorar mais ou menos, mas internamente a gente vai deixar tudo encaminhado. Tanto que a gente já falou com alguns investidores, ano passado quando eu viajei já fui nesse intuito de abrir portas. Já estamos com mais rodadas de apresentação do clube marcadas. A gente espera que isso ocorra o quanto antes.”
Continuidade no cargo ou possível renúncia
Sérgio Santos Rodrigues foi questionado sobre condicionar sua permanência no clube nos próximos anos ao acesso do time à Série A do Campeonato Brasileiro. Diante dos atuais protestos que aconteceram, tanto presenciais quanto nas redes sociais, o presidente disse que está tranquilo para seguir exercendo sua função no Cruzeiro.
“Não, de forma alguma, não condiciono (a permanência no cargo de presidência ao acesso). Eu quero dizer que estou absolutamente tranquilo e no que me couber, enquanto puder e o conselho quiser e a torcida entender, eu vou cumprir até o final de 2023, pelo menos que é o que a gente quer sim. Porque são vários trabalhos que estão sendo feitos ao longo do tempo. Acho que o trabalho financeiro, administrativo e jurídico apresenta melhoras. Sobre a questão de rejeição e de protesto, eu acho muito curioso falar protesto relevante, eu tive oportunidade de falar sobre o último protesto, né?! É bastante gente, mas é protesto com trio elétrico, protesto que dá briga, que tem ônibus liberado, a gente sabe o cunho que tem por trás. E sobre rede social, eu sou um crítico de alguma forma sim, já de forma reflexiva geral sobre futebol, política, em geral, o ambiente que se criou na rede social de ódio de uma forma geral.”
Denúncias sobre possível interferência em investigações
“Eu acho que um assunto é pertinente pelo que saiu ontem numa reportagem e a coisa mais curiosa que eu estou vendo aqui é a tentativa de transformação de quem roubou, literalmente, o Cruzeiro em vítimas e querendo me colocar como a pessoa responsável por uma coisa ruim. Até recebi recentemente documentos que estariam sendo espalhados por membros dessa ex-gestão que passou no Cruzeiro e que comprovadamente lesou o Cruzeiro. Documentos dizendo que eu influenciei na decisão. Primeiro eu destaco que eu estive sim na Polícia (Civil), mas estive no Ministério Público também, como representante da vítima Cruzeiro, a coisa mais natural que tem é a vítima ser chamada para ajudar a esclarecer fatos. Segundo que tão falando que “o Sérgio influência Polícia”, mas quando um processo sai da Polícia ele vai no MP e depois no judiciário. Se a Polícia tivesse feito um trabalho ruim, o MP não tinha abraçado e o judiciário não tinha abraçado as teses. Inclusive, a época publiquei com quem hoje tá aí batendo na gestão, mas que na época tava aqui que era o deputado Léo Portela, na época ele veio aqui e falava que ia ser veemente contra, publicou várias vezes que estava indo à Polícia também. Aí agora surpreendentemente eu viro influenciador e o deputado que fez várias visitas comigo lá está tudo ok. Eu tô realmente perplexo. As notícias sendo distorcidas, documentos apócrifos sendo criados circulando em grupos para poder dizer que eu agi de forma errada.”