FOTO: STAFF IMAGES / FLICKR / CRUZEIRO
De técnico desconhecido para os mineiros a um dos grandes nomes do acesso e do título do Cruzeiro na Série B do Campeonato Brasileiro, Paulo Pezzolano já é um dos nomes que está marcado na história do clube. Com seu jeito sincero, sempre buscando explicar em detalhes o que pensa e tendo na cobrança de um time “intenso” sua marca, o atual técnico da Raposa falou sobre diversas coisas na última quinta-feira (10), no podcast Cabuloso, do canal Samuel Venâncio, no Youtube.
Na conversa que durou quase 2 horas, Pezzolano falou sobre aspectos de sua vida, a realidade do clube nesta temporada, como funciona os bastidores do Cruzeiro neste momento em que a gestão de Ronaldo Fenômeno assumiu o futebol e aspectos táticos, além de projetar como será o 2023 para o seu time.
Um dos momentos em que mais se sentiu confortável, foi quando falou sobre suas escolhas táticas para o Cruzeiro. Iniciando o ano com uma formação e logo alterando para um esquema com três zagueiros, Pezzolano achou o que queria para os seus comandados e o clube engrenou na segunda divisão. Questionado sobre como fica essa formatação do time para a próxima temporada, respondeu que o mais importante não é o desenho e sim a intensidade e o comprometimento com o trabalho.
“Tiveram jogos em que jogamos no 5-3-2, defensivamente. Jogo que fizemos 4-3-3 defensivamente, 4-1-4-1. O que vamos manter, sem dúvida, é a intensidade, essa pressão alta constante. É tentar sair com a bola, jogando, por mais que às vezes se sofra um pouco, quando saímos com a bola, jogando, encontramos os buracos, fica mais claro para atacar e a bola chega mais livre no atacante. A figura tática você sabe que muda quando está com a bola. Mas a linha de três, quando temos a bola, é difícil de marcar. Porque se você marca a linha de três e tem uma equipe que joga com bloco alto, o rival tem que mudar todo o esquema tático deles, só para jogar um jogo. Então tem que jogar muito certo para ganhar. Gosto muito de atacar com essa linha de três. O mais importante é a equipe intensa, aguerrida, até o último segundo.”
Sobre contratações, o técnico uruguaio não falou de nomes, mas deixou claro que vem trabalhando diariamente na observação de jogadores e mostrou que o discurso e a forma de trabalhar junto à diretoria de futebol do Cruzeiro está bem alinhado: o clube não irá contratar grandes jogadores de renome para a próxima temporada.
“Estamos vendo muitos jogadores. Dificilmente chega uma estrela. Mas o que estou convencido, como treinador, não é porque tem uma estrela que vai dar certo. As vezes por ter um jogador assim é que não dá certo. O que nós temos que estar convencidos de contratar são jogadores que querem estar no Cruzeiro, que entendam o estilo e o modelo de jogo que tem o Cruzeiro hoje. Seja o jogador que seja. Porque se tem uma estrela, e está para fazer nosso modelo de jogo, bem vindo. Porque vai subir a qualidade. Mas o mais importante é arrumar uma equipe forte. O nosso trabalho tem que ser dia e noite, milimétrico, não podemos errar. Nós estamos jogando o ano, o trabalho de 2023 estamos jogando agora, vendo os jogadores. Podemos conquistar coisas muito interessantes, porque é futebol, mas não vamos ter a folha salarial das grandes equipes. Vai ser um ano muito difícil. Vamos ter que estar mais juntos que nunca. É um ano mais difícil que o ano de 2022. Não é o Cruzeiro da história, que conquistou tudo, é outro Cruzeiro, o da reconstrução. O torcedor é paixão, o torcedor quer ganhar, eles não vão entender.”
O técnico ainda ressaltou que observa uma média de 10 jogadores por dia, além dos membros da sua comissão técnica, para minimizar ao máximo os erros na próxima temporada.
“Tem dia que vejo 15 jogadores, dia que posso ver 5, mas estou vendo muito. Eu sozinho, Martin está vendo outros e aí vamos cruzando. Tentamos ver o máximo possível.”
Questionado sobre como é trabalhar num clube que tem como proprietário Ronaldo Fenômeno, Pezzolano fez questão de elogiar o “patrão” e deixou claro que não há nenhuma interferência por parte do ex-jogador em sua forma de montar o time.
“Todos sabemos que Ronaldo não fica muito em BH. Ele vem a cada dois meses, um mês e meio. Fica uma semana, duas semanas. Eu o vejo por momentos, ele vai ao campo. É um cara muito legal, humilde, nunca falamos nada tático, nunca falamos de um jogador… como ele mesmo falou uma vez, se ele quer falar de jogar ou tático, ele deveria ser o treinador. E é verdade! Ele pode ser o que ele quiser. E isso faz a diferença com muitas equipes. Tem equipes que tem um presidente que não jogou bola e só por ver o futebol acha que sabe muita coisa tática, isso gera um problema para o clube. Aqui não, aqui cada um cumpre o seu papel. E ele demonstrou ser muito humano. É muito bom trabalhar para Ronaldo, para o que significa o Ronaldo para o mundo, para o que foi ele como jogador. Imagina ter um dos melhores da história que não fala de futebol taticamente? Parabéns para ele, tem um presente e um futuro impressionante.”
Uma das marcas da personalidade de Paulo Pezzolano é sua sinceridade e a forma como transparece suas opiniões. Sobre essa característica, o técnico da Raposa ressalta que isso é parte da receita do sucesso do seu trabalho e do Cruzeiro na temporada.
“A mensagem sempre foi sincera de toda parte, de dentro do clube para fora. E como tudo na vida, quando você é sincero de coração, sempre vai ter uma resposta melhor. Foi o que ensinaram meus pais, ser sincero, ser claro, ser honesto. É o que eu tento fazer. As vezes o treinador necessita ocultar jogador, equipe, jogador que vai chegar, porque vai ser o melhor para o clube. Aí mais que sincero, eu seria um burro. Mas sinceridade é muito importante, porque sempre vai ter a melhor repercussão. É quando você ganha como pessoa.”