FOTO: GUSTAVO ALEIXO / FLICKR / CRUZEIRO E.C.
Os bastidores da política do Cruzeiro seguem movimentados após a saída de Fernando Torquetti da Comissão de Ética do clube. Em reportagem do portal ge.globo uma carta do conselheiro foi divulgada na íntegra, onde o mesmo cita os problemas que enfrentou enquanto esteve à frente da comissão e levanta suspeitas sobre os motivos que levaram a sua saída.
A carta, que você confere na íntegra ao final da matéria, aponta que um dos motivos para a saída de Torquetti é a possível tentativa de proteger Gustavo Perrella, filho do ex-presidente Zezé Perrella, de ser devidamente expulso do quadro de conselheiros do Cruzeiro. Torquetti, inclusive, alega que o pedido de sua saída ocorreu através de uma representação do ex-presidente Alvimar de Oliveira Costa, do patrocinador Pedro Lourenço e “em ato autoritário do Sr. Sérgio Santos Rodrigues”, atual presidente.
Vale ressaltar que é a segunda vez que a Comissão de Ética sofre uma mudança desde que foi instituída. A primeira vez aconteceu em maio deste ano, quando quatro membros deixaram a comissão. Na época, apurou-se que o motivo foi por conta de uma discordância na forma como os processos, que poderiam acarretar na expulsão dos conselheiros remunerados da gestão Wagner Pires de Sá, estavam sendo conduzidos. Fernando Torquetti era, até então, o único remanescente da comissão.
Antes da saída do atual presidente, a comissão havia votado pela exclusão de Gustavo Perrella, mas o processo acabou não andando e diversos questionamentos sobre a forma como foi conduzido surgiram. O receio de uma nova judicialização dos processos de exclusão, como aconteceu no início de 2020, acabaram travando o andamento dos demais processos.
A apuração do portal ge.globo também procurou Nagib Simões, atual presidente do Conselho Deliberativo do Cruzeiro, e constatou que o interesse da mesa deliberativa é colocar primeiro em votação os casos do ex-presidente Wagner Pires de Sá e do seu vice-presidente Hermínio Lemos – ambos ainda sem data definida.
Confira a íntegra da carta de Fernando Torquetti:
Em janeiro/2021 fui convidado por V.Sa. a compor a Comissão de Ética, Disciplina e Corregedoria do Cruzeiro Esporte Clube pelo Presidente do Conselho Deliberativo, tendo aceitado o desafio de colaborar mais uma vez com o Clube e cumprir as funções da citada Comissão, doando meu tempo e os conhecimentos acumulados ao longo da vida. Como é de seu conhecimento, na mesma época meu nome foi aprovado em reunião do Conselho Deliberativo, assim como os dos demais membros da Comissão foram também aprovados.
De abril a setembro de 2021 a Comissão se empenhou em analisar as representações encaminhadas, relativas à conduta do ex-Presidente Wagner Pires de Sá e de vários conselheiros que fizeram parte da sua gestão.
No final de setembro/21, o então presidente da comissão, conselheiro Francisco Massara Gabrich, solicitou seu afastamento do cargo, alegando sofrer muitas pressões de ordem política para alterar o encaminhamento dos processos de apuração em curso, em razão de vazamentos dos assuntos discutidos na Comissão.
Diante deste fato, em 28/09/21 os membros da Comissão, com o suporte de membros do grupo de Compliance do CEC, me elegeram Presidente da Comissão de Ética, seguindo os preceitos estabelecidos no Regimento Interno.
Assim, a comissão deu continuidade à análise dos processos de apuração, tendo inclusive apoio jurídico de advogados do Compliance, estes profissionais de altíssimo nível, com reconhecidas carreiras na área jurídica e acadêmica, a fim de cumprir com rigor todos os trâmites legais aplicáveis.
Em 26/10/21 foi encaminhada à Comissão uma representação contra a minha pessoa pelos conselheiros Alvimar de Oliveira Costa e Pedro Lourenço de Oliveira, solicitando minha exclusão como membro da Comissão, sem apresentar elementos concretos sobre minha atuação como membro ou presidente da mesma. Além de extemporânea, a representação foi indevidamente recebida pelo tesoureiro da Comissão, Sr. Flávio Antônio N. de Carvalho, que não possui atribuições para tal, infringindo o Regimento Interno.
Para surpresa de todos e em desacordo com as regras previstas no Regimento Interno da Comissão ou no Estatuto de Clube, em 27/10/21 fui destituído do cargo de presidente da Comissão de Ética, Disciplina e Corregedoria do CEC, em ato autoritário do Sr. Sérgio Santos Rodrigues, Presidente do CEC corroborado por V.S.a, comunicado a mim por e-mail.
Além de desrespeitosa e covarde, esta ação, na minha opinião, configura uma clara manobra política e ilegal, já que o Regimento Interno prevê que a comissão é independente e a destituição do seu presidente ou de qualquer um dos seus membros somente pode ocorrer após a análise e aprovação do Conselho Deliberativo, assim como sua condução ao referido cargo.
Para minha grande decepção, este ato foi apoiado por três dos cinco membros da Comissão, em total desacordo com o aconselhamento dos advogados do Compliance, os quais confirmaram que a representação enviada pelos conselheiros Alvimar de Oliveira Costa e Pedro Lourenço não está juridicamente fundamentada para ser admitida.
Cabe-me então constatar que a minha destituição é mais um reflexo da política inescrupulosa que perpetua no Clube, iniciada nas administrações dos “perellas”, continuada pelos ex-presidentes Gilvan de Pinho Tavares e Wagner Pires de Sá, ambos ligados ao ex- presidente do Clube e do Conselho Deliberativo, Sr. Zezé Perella. Este último, inclusive, como Presidente do Conselho Deliberativo, fez vista grossa aos atos desastrosos da administração Wagner Pires de Sá, que levou nosso Cruzeiro à decadência fiscal e esportiva que assistimos agora.
Ressalto que alguns processos em trâmite na Comissão de Ética referem-se à apuração de denúncias contra conselheiros que receberam vantagens financeiras ou firmaram contratos disfarçados de prestação de serviços com o Clube, contrariando as restrições previstas no Estatuto, com o evidente propósito de dar suporte político à administração do ex-Presidente Wagner. Porém a política inescrupulosa em vigor mantém os “conselheiros intocáveis”, sendo um deles sobrinho do conselheiro Alvimar de Oliveira Costa, signatário da representação que questiona na minha conduta ética.
Diante de tantas ilegalidades, as quais não posso aceitar, solicito a V.Sa. o meu desligamento definitivo como membro da Comissão de Ética, pois entendo que a mesma perdeu seu objetivo de analisar e apurar com rigor possíveis atos infracionais cometidos por conselheiros, sem distinção, com ética e imparcialidade.
Espero sinceramente que os membros e o futuro presidente da Comissão de Ética do CEC possam ser independentes para que denúncias contra conselheiros sejam apuradas e levadas democraticamente ao Plenário do Conselho Deliberativo para decisão.
A grande torcida celeste merece transparência e respeito!