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Cruzeiro

FALA, TORCEDOR: Dinheiro, expectativa e realidade

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*O autor deste texto, enviado através do FALA, TORCEDOR do DMD, é Lucas Senhorine (Cruzeirense)

Durante a gestão de Ronaldo à frente do Cruzeiro, duas coisas são certas: o Fenômeno nos gramados não fez o aporte financeiro que grande parte da torcida esperava, mas soube ser criativo no mercado para bem e/ou para o mal. A contratação do até então pouco conhecido uruguaio Paulo Pezzolano suscitou as típicas frases “é uma incógnita” ou, citando o técnico Adilson Batista “vamos aguardar”. Aguardamos, e o Cruzeiro conseguiu o acesso à série A em seu terceiro ano de série B.

Há cerca de 10 anos, os nomes para técnicos eram sempre os mesmos, e o único mercado explorado pelos clubes brasileiros era o argentino. Se o time estava mal, era comum presenciarmos diálogos entre torcedores:

– “Ah, tem que trocar o técnico”
– “Tá, mas vai trazer quem? Fulano está empregado e ganhando bem; Sicrano passou por aqui 1 ano atrás e não arrumou nada; Beltrano tá bem na série B, mas não tem currículo para o nosso time”

E hoje, muitos dos técnicos brasileiros vitoriosos em nosso futebol não são a primeira e nem a segunda opção dos clubes.

Outro aspecto inventivo, por optar por baixos aportes financeiros com contratações e consequentemente por necessidade, da gestão de Ronaldo foram os empréstimos, sobretudo em 2024. Matheus Pereira; João Marcelo; Cifuentes; Alvaro Barreal; Villalba. Gabriel Veron; Gabriel Grando são os principais nomes que chegaram ao clube na condição de empréstimo e alguns desses nomes estão agradando aos cruzeirenses.

Agora, nas mãos de Pedro Lourenço e tendo como principal nome do futebol, Alexandre Mattos, o torcedor cruzeirense tem suas esperanças renovadas mais uma vez e espera por um passo maior. Quais expectativas a torcida pode criar? Conquistas de títulos? Contratações de renome? Após a entrevista coletiva em 29/04, contratações pontuais e de qualidade comprovada podem chegar e tornar o time competitivo e regular, sem comprometer os compromissos assumidos pelo clube na quitação de dívidas.

De modo geral, as torcidas das SAFs do Brasil não deveriam esperar a curto prazo a conquista de títulos, ainda mais diante das dívidas contraídas por esses clubes ao longo dos anos. Na Inglaterra, Roman Abramovich comprou o Chelsea em 2003 e concluiu a sua venda em 2022. Durante quase vinte anos da era Abramovich, o Chelsea foi um time competitivo em competições nacionais e continentais, mas e as taças?

Liga dos Campeões em 20/21, 11/12;
Mundia de clubes da Fifa 21/22;
Premier League em 16/17 , 14/15 , 09/10 , 05/06 , 04/05;
Super taça da Uefa 21/22;
Liga Europa 18/19 , 12/13; Taça FA 17/18 , 11/12 , 09/10 , 08/09 , 06/07;
Taça da Liga 14/15 , 06/07 , 04/05;
Super Taça da Inglaterra 09/10 , 05/06

Ao todo, são 21 títulos, alguns com maior peso que outros, como ocorre no Brasil. Podemos dizer que em campo o clube alcançou feitos importantes, nunca alcançados em sua história, porém, o que isso custou ao clube? Em 20/21 o Chelsea foi vencedor da Liga dos Campeões e fechou a temporada com um déficit superior a R$ 1 bilhão. Podemos afirmar que foi um ano positivo?
Outro exemplo, também na Inglaterra, é o Manchester City. Em 2008 o City Football Group comprou o time dos Citizens que, de lá pra cá venceram:

Liga dos Campeões 22/23;
Mundial de Clubes 23/24;
Premier League 22/23, 21/22, 20/21, 18/19, 17/18, 13/14, 11/12;
Super taça da UEFA 23/24;
Taça FA 22/23, 18/19, 10/11;
Taça da Liga 20/21, 19/20, 18/19, 17/18, 15/16, 13/14;
Super taça da Inglaterra 19/20, 18/19, 12/13

Outro clube inglês que incrementou sua sala de troféus após sua aquisição. Mas, apesar de todos os recursos financeiros aplicados nessa empreitada pelo grupo City, o Manchester City somente se sagrou dono do continente europeu na temporada 22/23.

Olhemos agora para o outro lado do Canal da Mancha. Na França, o Paris Saint Germain teve 70% das suas ações adquiridas em 2011 pelo fundo Qatar Investment Authority. Sua soberania na França foi iniciada desde a temporada 12/13, mas 13 anos após a aquisição do clube parisiense, e depois de tantos craques vestirem sua camisa, dentre eles Ibrahimovic; Cavani; Di Maria; Thiago Silva; Neymar, Messi; Mbappé… nem todas as estrelas que por ali passaram e constituíram times de constelações foram capazes de alcançar o topo da Europa.

A constituição de novas SAFs no Brasil, parece ser um caminho natural, tendo em vista que o modelo de associação desportiva fracassou durante décadas na maior parte dos clubes mais tradicionais do país. A expectativa mais plausível é a de uma gestão séria, sem conexões com nomes que faliram os clubes visando cargos políticos e favores, sobre os principais títulos… tenhamos paciência.