FOTO: ANDRÉ ARAÚJO / FLICKR OFICIAL / CRUZEIRO E.C.
Oi Cruzeiro Esporte Clube. Não vou perguntar se está tudo bem, pois infelizmente não está.
Escrevo essa carta, mal traçada e também mal equacionado pois estou sem rumo para com ti. Mas prometo ser sucinto e sincero.
Minhas lembranças de você, Cruzeiro, não são tantas, mas sou um conhecedor da sua história, sei de feitos de anos que eu nem era nascido (1995). Qual cruzeirense não sabe o time que ganhou do Santos de Pelé por 6×2? Qual cruzeirense não se lembra da primeira Libertadores de 1976, com o melhor ataque da competição? Lembro também de meu pai contar de um jogo daquela época contra o Internacional, 5×4. Lembro de ter visto vídeos da Copa do Brasil, ali de 1996, e eu nem tinha um ano de vida. 1997, outra Libertadores, chute fora da área com ajuda do goleirão do Sporting Cristal do Peru. Ô Cruzeiro … 2000, lembro do meu tio contando que desligou a TV de raiva e ouviu os gritos de gol ao final do jogo, do Giovanni, passando no meio da barreira. E isso não é nem 1/10 das histórias suas meu compadre. Eita Cruzeiro, até escorre uma lágrima de lembrar disso.
2003 já estava com alguma idade e tenho relapsos de memória do jogo Cruzeiro 3 x 0 Santos pelo campeonato brasileiro. Que time. Ali o Alex virou meu eterno ídolo. Carrego isso pra vida. Falta ali perto da área era meio gol. Sem falar o gol de letra do maestro azul contra o Flamengo numa final de Copa do Brasil. Mais uma, a quarta.
Depois de 2003, minha memória era eu escutando no rádio Cruzeiro na Libertadores e alguns jogadores. Nada demais. Minha memória ativa mesmo que lembro do Cruzeiro e que meu sentimento virou forte mesmo é a partir de 2009.
2009, Libertadores. Eu ficava sozinho em casa todos os dias pelo período da noite. Meus pais trabalhavam numa faculdade no interior. E meu relento era ligar na Itatiaia. Escutava tudo sobre o Cruzeiro. E, principalmente, a narração do grande Alberto Rodrigues. Confesso que a fase de grupo não lembro muito bem, mas lembro das suas classificações até a final, principalmente contra o São Paulo e o Grêmio. Lembro o Alberto dizendo, contra o São Paulo “2×1 não é ruim, mas pô Cruzeiro, faz mais um pra ajudar”. Mal ele saberia que a volta no Morumbi teria um GOLAÇO do Henrique. E poucos se lembram, mas era o Bosco no gol do time rival. E quem não lembra do Cruzeirão enfrentando o Grêmio em Porto Alegre no antigo/demolido Olímpico? Eu me recordo daquele jogo por conta de um jogo no dia anterior na mesma cidade, onde teve Inter x Corinthians pela final da Copa do Brasil. Ficou 2×2. Mesmo placar do Grêmio x Cruzeiro. Lembro também do Alberto Rodrigues falando “não é replay de narração, Cruzeiro faz dois a zero. É outro gol. Gol gol gol gol”. Que emoção.
Infelizmente, a final foi triste. Mesmo tendo ganhado dos cara na fase de grupo em casa, não conseguimos levantar o caneco. E eu me culpo, pois vi o jogo na TV e não no rádio. Havia passado no canal aberto, na época eu nem tinha condição de ter TV a cabo.
2010 conheci a magia da internet e de ver jogos online. Mas não deixei o rádio de lado. Que campanha daquele time do Cuca em? Se não fosse o tal do Sandro Meira Ricci, talvez teríamos batido campeão e levantado a taça lá na Arena do Jacaré, em Sete Lagoas. Ganhamos do Palmeiras, por 2×1, de virada. Wallyson brilhando. Mas o Fluminense conseguiu fazer um golzinho contra o já rebaixado Guarani de SP. Não tinha dado. Ainda não havia gritado “É Campeão” de fato. Só campeonato mineiro. (Lembro bem dos dois 5×0 seguidos, depois de ter perdido uma final por quatro. E lembro da capa de jornal “com juros e correção” … 2x Leonardo Silva, 2x Jonathan, 1x Ramires e no outro ano com direito a Kleber Gladiador).
Enfim, chegou 2011, que ano apático. Mas em resumo, ali me deixou mais cascudo e mais cruzeirense ainda. Aprendi com a derrota na Libertadores nas oitavas pro “grandioso” Once Caldas e gritei bem com o gol do Gilberto na final do Mineiro. E gritei muito com Farias fazendo gol contra o Internacional e o Cruzeiro somando três pontos suados … E de camisa branca em?! E ai, todo mundo sabe como foi o último jogo. 6×1. Sem mais. Eu vi.
2012 meio de tabela, nem tem o que falar.
2013 … Ô 2013. Eu triste e mal com a vida, havia mudado de cidade, estava muito chateado com tudo e com 17 anos. Mas um tal de Borges, Ricardo Goulart, E. Ribeiro, Dedé, Nilton, Fábio, Lucas Silva, Mayke, Ceará, Egidio, Elber, Alisson, Léo e tantos outros me fizeram feliz. Que campanha. Que título. Naquele ano ganhamos até do São Paulo, com direito a três gols do Luan! Cara, que campanha.
2014? Idem. Mais um título. Eu aprendi em 13/14 como era gritar campeão brasileiro. Como era estampar camisa do Cruzeiro com orgulho. Mas triste por nunca ter ido ao Mineirão.
2014 quase rolou uma Copa do Brasil. Quase. Quase outra tríplice coroa.
2015 e 16 sem muita expressão. Um quase ali na Copa do Brasil, outro quase ali na libertadores e brasileiro mediano.
2017 me reservava uma experiência única. Eu finalmente conheci o Mineirão. Cruzeiro x Flamengo. 1×1. Gol do Sassá. Fiz amizades de estádio. Gritei gol no gigante. Fui feliz. Mas faltava uma coisinha: ser campeão dentro do estádio. E cara, Deus é bom demais comigo. Num é que eu inventei de ir num Cruzeiro x Grêmio? O Grêmio melhor time do Brasil, atual campeão da Copa do Brasil e ia bater campeão da Libertadores. Mas eu fui. Precisava de um golzinho pra ir pros pênaltis. Hudson fez. Eu só pulei e chorei. Pênalti. Criei ali a sina de que NUNCA iria ver pênaltis do Cruzeiro. Sentei e só via a torcida gritando. Era lindo. E detalhe, Cruzeiro de branco … O final sabemos, Cruzeiro passou para a grande final. Pouco importava o adversário, eu sabia que ia ser campeão.
Arrascaeta, no rebote, empata. Thiago Neves, escorregando, faz o gol de pênalti. Grita, grita mais alto, pula, chora. Abraça desconhecidos. É campeão no Mineirão. Que sonho realizado. Fiz questão de ir para Praça Sete. Vi foguete indo na janela de prédio. Que loucura meu Cruzeiro!
2018? Rapaz, nem te conto. Eu fui contra o CAP após a parada para Copa do Mundo. Passamos. Fui contra o Santos e “vi” Fábio pegando TRÊS PÊNALTIS. Passamos. Acompanhei da TV Cruzeiro passando do Palmeiras. Vi a final numa república contra o Corinthians meu time sendo campeão, após trabalhar durante a noite lecionando. Que loucura cara.
2019 queria o tri da tal da Libertadores. Nunca havia ido num jogo de Libertadores. Fui. Cruzeiro x River. 0x0. Pênaltis. Não deu. Não passou. E talvez ali começou a maior desgraça da história do time, que eu não preciso contar. Torci de casa, chorei, gritei, xinguei. Acreditei no último jogo num milagre. Não deu.
2020? Mudança? Fui em todos os jogos do Mineiro. Sofrível. Deu certo? Nem nas finais chegamos. E hoje, em plena série B, estamos mais para ter outro rebaixamento do que acesso.
E por que escrevi isso tudo Cruzeiro? Para deixar um recado simples. Eu te amo. Mas todo amor tem seu fim. Você não me mostra mais aquele tesão por tudo que passamos juntos cara. Sua direção foi composta nos últimos três anos por picaretas. Quem te gere hoje não sabe o que é futebol, sabe só sobre gel. Acabaram com você. Te tiraram tudo, e agora te tiram até um torcedor, como eu. E por que escrevi isso tudo? Só para mostrar que sei sua história, seu valor e que meu sentimento era verdadeiro. Mas hoje, infelizmente, cansei. Não tenho mais cabeça pra sofrer, para gastar dinheiro com você. Você foi meu único amor verdadeiro, além de pai e mãe. Você era minha única emoção de fazer chorar, emocionar e gritar. Hoje você só me dá pena, de tudo que virou.
Não vou prometer que volto, muito menos que vou te amar de novo. Vai demorar curar essa ferida que você causou, mas um dia passa.
Bons ares para você Cruzeiro.
O autor deste texto, enviado através do FALA TORCEDOR do DMD, é Facundo Conte (@facundiconto)