FOTO: STAFF IMAGES / FLICKR / CRUZEIRO
O autor deste texto, enviado através do “FALA, TORCEDOR” é o jornalista Marco Antônio Astoni (@MarcoAstoni)
Este é o desabafo de um cruzeirense. Mas eu acho que pode valer como reflexão para todos os torcedores que tem seu time sob o comando de uma SAF.
O gol de empate que o Cruzeiro sofreu ontem à noite, para o Corinthians, aos 53 minutos do segundo tempo, no Mineirão, me doeu demais. De um jeito mais doído do que um gol desse tipo costuma causar. Não foi a primeira vez que fez que fiquei baqueado assim por causa de um gol sofrido pelo Cruzeiro e tenho certeza que também não será a última. Mas, ontem foi diferente.
Eu pensei em largar tudo e deixar essa loucura com o Cruzeiro pra lá. Eu sei que é impossível simplesmente tirar da minha vida um amor tão fundamental como é o Cruzeiro. Uma existência que se confunde com a minha, com minha família, com meus amigos, com tudo que é relevante pra mim. Não seria abandonar, mas sim uma mudança na relação. Uma inversão de prioridades. O Cruzeiro deixaria de ser o principal aspecto da minha vida para se tornar uma diversão para as horas vagas.
Também não é a primeira vez que pensei este tipo de insanidade, mas, desta vez, quando recobrei o juízo e a raiva diminuiu um pouco, o que bateu foi uma sensação de impotência como nunca tive na vida. E olha que eu venho de três anos seguidos do inferno da segunda divisão.
A diferença de agora para os outros momentos de derrota e tristeza é que antes eu tinha certeza de que poderia fazer alguma coisa para ajudar e para mudar a situação ruim. E isto era verdade. O clube era nosso. Ainda que fosse uma parte muito pequena. Mas era nosso. E quem comandava o clube nos dava satisfação, nos respeitava e nos temia. Porque, de um jeito ou de outro, eles dependiam de nosso aval pra continuarem onde estavam.
Não sou ingênuo, ou, pelo menos, tento não ser. Sei que foram estes mesmos caras das antigas diretorias do Cruzeiro que levaram o clube ao buraco quase sem fundo em que ele chegou. Os mesmos que falei no parágrafo de cima. Uns mais, outros menos, mas todos eles têm uma parcela de culpa e são responsáveis pelos piores anos da história do Cruzeiro e da minha vida. Não tem perdão.
E também não sou ingrato a ponto de não reconhecer a importância que o Ronaldo teve ao comprar o Cruzeiro. (comprar o Cruzeiro… que frase terrível e inimaginável há até bem pouco tempo) Não sei como a situação estaria hoje se não fosse a sua intervenção. E tenho dúvidas até mesmo se o clube ainda existiria da forma que sempre existiu.
Mas, e aí? É só isso? Vamos ficar o resto da vida nos contentando em ser um coirmão do Valladolid? Em fazer uma campanha medíocre apenas para permanecer na Série A? Em ficar em casa vendo pela TV as principais competições do continente? Porque, agora, o clube não é mais nosso. É deles. E não importa pra eles o quanto a gente fique puto, triste ou revoltado. Não importam as noites de sono que a gente perde. Porque agora, se os números da contabilidade estão verdes, não importa se a gente é 15o ou 16o na tabela.
Eu fiz minha parte. E vou continar fazendo. Mantive meu sócio-torcedor este tempo todo. Estive em todos os jogos do Cruzeiro como mandante na Série B do ano passado, com exceção da partida com a Chapecoense, que foi em Brasília. A mesma coisa este ano. Não estou me gabando. Não fiz mais do que minha obrigação. Eu jamais abandonaria quem me deu tanta felicidade ao longo da vida, no momento mais difícil.
E é esta a sensação de impotência. O Cruzeiro não é mais nosso. E parece que, para o Ronaldo e sua trupe, tanto faz. A gente não tem com quem reclamar. O clube está distante do seu povo. O clube se tornou frio, impessoal e alheio a tudo que a gente sente. Muito obrigado, Ronaldo, somos gratos pelo que você fez. Mas, não se esqueça que o clube é nosso, mesmo que você seja “dono” dele.
O valor de mercado do Cruzeiro é gigante, e a marca é absurdamente grande e conhecida. O potencial de lucro que o clube pode gerar para quem investe nele é fenomenal. Sem trocadilhos. Mas, isto só tem razão de ser porque é a torcida cruzeirense quem paga a conta, de uma forma ou de outra. Todo este interesse no clube só existe porque por trás dele existe também uma multidão de apaixonados que consome e faz com que ele seja notícia de primeira página mesmo na pior fase de sua história.
O Cruzeiro é a sua torcida. Não há exagero nenhum nisto. O clube nunca teve ajuda de governos. Nunca teve megaempresários como mecenas. E nunca foi o queridinho da imprensa. O povo cruzeirense foi quem sempre fez com que o clube chegasse onde chegou. E não vai ser diferente agora. O Cruzeiro é nosso. Nunca vai deixar de ser.