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FALA TORCEDOR: O Novo Cruzeiro nunca existiu: Você foi enganado

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FOTO: VINNICIUS SILVA / FLICR OFICIAL  / CRUZEIRO

O Cruzeiro é administrado por uma chapa eleita por um conselho de mais de quinhentos membros. O presidente eleito exerce o poder por um tempo, sai e outro assume. Mas o conselho continua lá. Isso é um sistema. Político. Tal qual o presidente da República e o legislativo. A diferença é que o presidente não é eleito pelo legislativo.

Outra diferença é que o conselheiro do Cruzeiro não é remunerado, ou pelo menos não poderia ser. Então por que alguém gostaria de ser conselheiro? Eu digo que pelo status, pelo poder, pela influência, por interesse. Às vezes, que loucura a minha, por gostar do clube também.

Esse sistema político levou o Cruzeiro até onde ele está. E, pode ser que esteja interessado a levar o clube de volta a seus grandes dias. Mas certamente não a todo custo. Antes de reerguer o clube, o sistema quer se proteger. Do que adianta o clube reerguido se eu não estiver lá dentro, não é mesmo?

Mas o sistema precisa do dinheiro que vem, direta ou indiretamente, do torcedor. Vale enfatizar: todo o dinheiro que um clube tem é fruto de sua torcida. A marca de um clube tem valor para outras marcas por causa do milhões de torcedores. Retire a torcida da equação e acabou o dinheiro. Clube com zero público no estádio, zero camisas vendidas, zero audiência, não vende nada para ninguém.

Portanto, o sistema não pode se dar ao luxo de perder o torcedor. Daí surge o papo de “reconstrução” e de “novo Cruzeiro”. Tem que se vender a ideia de que o que aconteceu será reparado, de que as coisas estão mudando, de que os culpados serão punidos e de que devemos apoiar.

Talvez hoje, dia primeiro de dezembro, um dia após a eleição no conselho, você já tenha se dado conta de que não existe “reconstrução” nem “novo Cruzeiro”. Mas o que eu quero dizer aqui é que nunca existiu.

Voltemos no tempo. Ao fim do Campeonato Brasileiro 2019, o Cruzeiro enfrentava a maior crise de credibilidade da sua história. E não digo em relação a imprensa, ou aos credores, patrocinadores, etc., mas em relação ao seu maior ativo: sua torcida, sua gente. E o que você faz numa situação dessas? Você primeiro recupera sua credibilidade, ou pelo menos se mostra comprometido com isso, e depois pede ajuda. O Cruzeiro fez o oposto.

O que o sistema fez, foi depositar toda a culpa nos três ou quatro membros da diretoria. Esses foram jogados à fúria da torcida e da imprensa como os vilões do Cruzeiro. E sem dúvida o são. São culpados diretamente de tudo o que aconteceu em 2018 e 2019. Mas ao fazer isso, o sistema se isenta. O sistema que elegeu essa diretoria, que participou de noites de caldos, que votou conforme interessava a eles. O sistema que estava lá dentro o tempo todo, no conselho fiscal, por exemplo, e que agora pedia ajuda.

“Ah”, mas alguém pode dizer, “não dava tempo de recuperar toda a credibilidade e o cube precisava do dinheiro para não acabar”. Sem dúvida as coisas não feitas do dia para a noite. Mas não precisavam ser. Um rompimento total e absoluto com tudo e todas que estavam ligados a ultima gestão já seria um bom começo. Firmar um compromisso sério de reformar o estatuto do clube para dar voz ao sócio, responsabilizar a pessoa física (CPF!) que assinasse contratos lesivos ou fora da realidade do clube e reduzir o conselho e seu poder, também passaria uma ideia real de reconstrução. Nada disso foi feito.

Ou você não lembra da conversa de “não existe nós e eles” e de “vamos esquecer o passado” lá no começo do ano? Inclusive vindo de gente que estava nos mais altos escalões do conselho enquanto o clube era destruído. Além disso, ninguém teve coragem de demitir Benecy Queiroz. E você acha que foi devido a sua incontestável competência? Para mim é claro que é apenas por composição política. É o sistema defendendo os interesses do sistema.

Sobre o estatuo nada nunca foi dito. Nem uma menção. Por quê? Porque o sistema não quer dar voz ao sócio. Isso implicaria em perda de poder do sistema. Tanto que, meses depois e já com a nova diretoria, as mudanças propostas no estatuto ainda não chegaram nem perto do que o clube precisa para ter alguma credibilidade. E isso tudo sem falar dos conselheiros que exerciam atividades remuneradas no clube e ainda continuam lá.

Outra falácia é de quem sem o sócio reconstrução, o clube acabaria. Isso a torcida mesmo provou que era mentira porque, ao contrário da bolha que é o Twitter, o torcedor comum não comprou esse discurso. Lembra que a meta era 100 mil sócios reconstrução no primeiro dia (17 de janeiro)? Hoje são pouco mais de 40 mil e essa modalidade já não existe para adesão desde julho. Apesar, da boa intenção de quem contribuiu, não foi isso que impediu o Cruzeiro de acabar.

Mas é difícil lutar contra o sistema. Você vai ser tido com um “não torcedor de verdade” e vai ser chamado de “xiita” como eu já fui. O clube é refém do sistema e o torcedor nada pode fazer. Não há meios legais de mudar isso tudo a não ser de dentro para fora. E quem está lá dentro não tem interesse em mudança.

Portanto, o que eu faço, e tenho visto muita gente fazer agora depois da eleição do conselho, é não financiar o sistema. No dia que o Cruzeiro se livrar de quem fez tudo isso com ele e der voz ao seu torcedor, eu serei o primeiro a contribuir, vou fazer sócio até para o cachorro. Mas talvez a única maneira de chagarmos lá seja asfixiando o sistema. Contribuir financeiramente com o Cruzeiro, é alimentar tudo isso. Infelizmente.

Citando o Capitão Nascimento, “o sistema entrega a mão para salvar o braço, o sistema se reorganiza, articula novos interesses, cria novas lideranças. Enquanto as condições de existência do sistema estiverem aí, ele vai existir. Agora me responde uma coisa: quem você acha que sustenta tudo isso?”

Encaixa perfeitamente com a realidade do Cruzeiro né? Pois é, amigo, o sistema é foda.

P.S.: Tenho tido essa discussão há muito tempo. Siga o fio no link abaixo:


O autor deste texto, enviado através do FALA TORCEDOR do DMD, é Otávio Simões (@_otavioss)