Como vão as coisas torcedores do esporte bretão das gerais. Por anos vi os maiores absurdos do futebol mineiro e hoje resolvi compartilhar com vocês o que poucos tem coragem de contar.
Como primeiro tema resolvi falar umas verdades sobre o conselho e os conselheiros do gigante Cruzeiro Esporte Clube – acho que não poderia ter escolhido um tema mais atual. Assistindo a transmissão da reunião do conselho que votaria pela venda do imóvel, conhecida por “Sede Campestre II”, percebi que os torcedores ficaram espantados com as tantas asneiras ditas pelas pessoas que supostamente teriam a honraria de fiscalizar o patrimônio de 9 milhões de torcedores. Então, vamos do começo: como o conselho do Cruzeiro se transformou nesta coleção de pessoas, no mínimo, exóticas?
Ato I
Durante a difícil década de 80, quando o reinado do grande presidente do Cruzeiro Felício Brandi tinha chegado ao fim, o Cruzeiro lutava para se reerguer. Após duas décadas de glórias e protagonismo. A “conta” do sonho do Felício tinha chegado e o clube se encontrava quase em estado falimentar. E como tragédias sempre estão acompanhadas, o cruzeirense teve que acompanhar o que talvez seja o maior time da história do Atlético Mineiro. Anos difíceis para os Cruzeirenses. Coisa que a geração millennial nunca passou perto de ver.
Nesta década, liderados pelo grande Benito Masci, houve uma tentativa de se trazer pessoas influentes para dentro do clube. O objetivo era ajudar a reerguer o clube. Vários cruzeirenses, das mais variadas áreas foram convidados a entrar para o conselho do clube, empresários, políticos, desembargadores, etc. Era a tentativa na época de aproximar pessoas que poderiam ajudar. Um sonho que durou pouco.
Liderados já pelos Masci, o Cruzeiro entrou na década de 90 já com o clube saneado, os títulos voltaram e a torcida voltou a sorrir. Duas Supercopas dos Campeões da Libertadores, Copa do Brasil, hegemonia nos estaduais. No meio da década por uma denúncia (nunca comprovada, que fique claro) de desvio de dinheiro na venda do Ronaldo “Fenômeno”, entra em cena o então jovem dono de um pequeno frigorífico Zezé Perrella.
Ato II
Zezé Perrella tinha acabado de assumir como conselheiro do clube e com pouco tempo já se tornava presidente. Sim, na década de 90 o estatuto do Cruzeiro não era engessado como nos dias atuais! A título de comparação: hoje, se você torcedor, se tornar membro do conselho, na melhor das hipóteses você poderá se tornar presidente depois de apenas 17 anos (!) como sócio do clube. Zezé faz uma gestão grandiosa e mantém – até amplia – a chama vencedora do clube.
Com o poder das conquistas e com claras aspirações políticas, Zezé vende o frigorífico e resolve se dedicar 100% ao clube. O ex-dirigente resolve, em uma manobra, mudar o perfil do conselho do Cruzeiro. Grandes Cruzeirenses, até com mais poderio econômico e político, são “desconvidados” a participar do conselho. Nomes como o do empresário e então deputado Vittorio Medioli, do ex-senador Helio Costa e outros, são impedidos de participar da vida política do clube.
Passado quase duas décadas de dinastia da família Perrella, o conselho que antes era “notável”, se tornou comum, curral eleitoral, pessoas que pareciam trocar apoio por benesses e badulaques. Camisas, relógios, churrascos, bebidas. Na época, diziam que “um pedaço de carne e barril de choppe ” era o necessário para controlar o conselho.
Ato III
A revolução digital chega ao Cruzeiro. Com o surgimento das redes sociais, ficou muito mais fácil juntar e organizar os torcedores do clube – que estava pressionado pelo período de quase 10 anos sem títulos relevantes. Zezé esperava fazer seu sucessor e indicar Dimas Fonseca como presidente do clube. A ideia fracasso graças a uma outra turma que ainda não havia entrado em cena: os “velhinhos”.
Encabeçado por Francisco Lemos e Gilvan de Pinho Tavares, uma alteração no estatuto é aprovada e Dimas não conseguiu ser indicado a presidente. Esse, inclusive, é o estatuto que perdura até hoje.
Gilvan era o “plano perfeito” de Zezé. A ideia ao deixar o clube destruído, sem ativos e brigando contra o rebaixamento era evidenciar que, sem ele, o Cruzeiro não conseguiria sobreviver. Gilvan até tentou, mas teve ao seu lado conselheiros dispostos a comprar a briga e retomar o Cruzeiro ao caminho das vitórias. Dois brasileiros (com mérito pra Marcelo Oliveira e Alexandre Mattos) e uma Copa do Brasil (com mérito de Klauss Câmara, Tinga e Bruno Vicintin).
Gilvan então cai no mesmo erro de seu antecessor: um conselho fraco é o ideal parar perpetuar no poder. Em 6 anos de gestão, quase não há renovação. Poucos conselheiros conseguem ser indicados – mas quase nenhum deles consegue se tornar elegível por conta do próprio estatuto. Em seu último ano de mandato, Gilvan se nega a reformar o estatuto. E o que veio depois, bem… vocês sabem…
Último Ato
Wagner se elege. Itair Machado e Sérgio Nonato estão juntos nesse pacote. Gilvan conseguiu o impensável: eleger o pior possível. E com o poder na mão, Itair, Wagner e Sérgio se aliam a… isso mesmo, Zezé Perrella! Mantendo o mesmo movimento que atrapalha o clube desde a década de 90.
Conselheiros são excluídos sem oposição. Nomes como Alberto Mediolli, Kris Brettas, Antônio Assunção, Bruno Vicintin, entre outros, são excluídos sem justificativa alguma. Os conselheiros que agora deliberam sobre o clube são os principais responsáveis por toda a destruição interna, toda dilapidação do patrimônio. Ali se estabelecia a conhecida “família União”.
Enfim, o resto da história vocês já sabem. No fundo, tudo gira em torno do modelo do clube, onde um conselho fraco favorece quem quer se perpetuar no poder. Não é de causar estranheza que a preocupação de um conselheiro, numa reunião que decide o futuro do clube, seja de “onde vou estacionar meu carro?” diante da iminência de um rebaixamento pra série C. Os culpados, vocês sabem quem são.
_*O autor deste texto, enviado através do e-mail do DMD, preferiu não se identificar._