FOTO: THOMÁS SANTOS/STAFF IMAGES
O autor deste texto, enviado através do FALA, TORCEDOR do DMD, é Otávio Simões Silveira
Talvez essa quarta-feira seja o dia que todo cruzeirense vem imaginando e idealizando há alguns anos. Dia de pagar promessa, de lavar a alma, de se emocionar. O dia da glória com papel passado e tudo. Sem mais nenhuma conta ou probabilidade para atrapalhar. Sem nenhum “talvez”, “se” ou “porém”.
É amanhã. Tá quase.
Mas hoje eu queria na verdade falar um pouco sobre esse grupo de jogadores, principalmente.
Todo mundo sabe que o elenco tem suas limitações, que foi montado dentro da realidade do clube e sem nenhum grande destaque individual, a princípio. O destaque sempre foi o conjunto, como eles mesmos dizem o tempo todo.
Pois sendo assim, quando falarmos desse grupo no futuro, eu gostaria de falar de todo mundo.
Digo isso porque hoje, já pensando no ano que vêm, o que mais tem por aí é lista de quem pode ficar e quem tem que sair. E, de fato, vários não vão ficar e não tem que ficar mesmo.
Foram contratados para trabalhar, trabalharam, receberam em dia, obrigado pelos serviços e até mais. Puramente profissional. Apenas negócios.
Mas futebol não é uma planilha.
De novo: do ponto de vista do futebol, vários não podem ficar mesmo. Mas pelo lado humano, eu acho um pouco triste.
Esses caras tiraram o clube do pior momento da sua história. Roeram o osso, mas não vão ficar para comer o filé. Vieram pra alcançar um objetivo e, em meio a comemoração do objetivo alcançado, serão silenciosamente dispensados.
Estritamente profissional.
Mas do ponto de vista do torcedor, não precisa ser assim. Esses caras viveram o Cruzeiro 2022 com uma intensidade que não víamos há muito tempo. E nem importa a qualidade técnica de ninguém. Estou falando do lado humano.
Talvez alguns estejam vivendo o auge de suas carreiras. Jogando em um gigante nacional em um ano de protagonismo, em frente a 50 ou 60 mil pessoas todo jogo. Não é justo que sejam apenas descartáveis.
Quando olharmos para trás, vamos lembrar dos gols do Edu, das defesas do Rafael, do carisma do Luvannor, do Pezzolano enlouquecido na beira do campo. Vamos lembrar do Neto Moura, do Oliveira e do Zé Ivaldo.
Mas vale também lembrar do gol do Rodolfo aos 40 e tantos contra o Londrina e a entrevista dele emocionado depois do jogo falando do quanto tinha trabalhado para aquele momento. Do ponto de vista humano, isso é espetacular.
Lembrar da história do Stenio, que era uma promessa, saiu, voltou, e no meio de alguma incerteza fez um gol fundamental contra o Bahia, num confronto direto com um jogador a menos.
Lembrar do Machado, que em meio a críticas de parte da torcida, nunca deixou de se entregar e de se emocionar. A história de superação dele por si só já vale a lembrança.
Enfim, como esses, temos vários outros. Adriano, que saiu no meio do ano, teve jogos importantes. O Rômulo que, em fim de carreira, nunca reclamou de nada, pelo contrário, sempre foi um cara de grupo e feliz de estar ali. O Brock e a volta por cima, de criticado à capitão do acesso. E vários outros que não mencionei.
Meu ponto é: todo mundo fez parte. Todo mundo viveu. E quando olhamos para trás, mesmo no grupo do rebaixamento e que foi vitorioso antes, ninguém vivia o Cruzeiro como esse grupo. E eu vou lembrar de cada um dos que estão hoje com gratidão. Posso e critico vários com relação à parte técnica, mas com relação ao profissional e ao ser humano, nunca.
Porque esse é um grupo que têm uma sintonia inexplicável com a torcida e com o Mineirão. Que entende onde está e o que representa. Talvez não grupo que queríamos, mas o que precisávamos.
Herdeiros do nada, como diz a letra do compositor mineiro Zé Geraldo. Frutos da união entre o desencanto e canção. Gerados no ventre da noite, na dor da paixão.
São os homens que subiram o Cruzeiro. Que resgataram nosso orgulho. Que devolveram nossa alegria.
E mesmo que o acesso não venha amanhã, não faz diferença. Virá na próxima rodada ou na outra. Porque, na verdade, já veio há algum tempo. Graças a nós e a esses homens.
“Companheiro, irmão de esperança, já é quase amanhã.”