
FOTO: IGOR SALES / FLICKR OFICIAL / CRUZEIRO E.C.
O Cruzeiro vive momentos complicados nos bastidores – as campanhas pré-eleição já começaram. Diversos movimentos mudam as diretrizes do jogo e como de costume falta transparência para o torcedor que acompanha de fora. Muitos comparam os bastidores a um jogo de xadrez, entretanto, é preciso deixar claro que, ao contrário do que acontece no tabuleiro, por baixo dos panos há muita conversa e muitos acordos invisíveis.
Resolvi fazer esse pequeno e prático guia de perguntas frequentes com o movimento político de hoje – mas assim como é na política tradicional, tudo pode mudar de forma rápida em pouco tempo. É importante ressaltar: tudo dito aqui pode ficar desatualizado ou mudar.
1 – Quando será a próxima eleição? O que será decidido?
A próxima eleição do Cruzeiro será no dia 21 de maio. Ela decidirá um presidente “tampão”, isso porque a validade do mandato será de pouco menos de um ano. O novo presidente assumirá no dia 1º de junho e ficará no cargo até o dia 31 de dezembro de 2020. Aqui é importante dizer que já há divergência entre dirigentes e conselheiros. Vários do envolvidos diretamente queriam uma eleição mais rápida, enquanto outros queriam que já se decidisse um presidente para o próximo triênio.
2- Quem concorre? Quais as chapas e o histórico?
Atualmente, duas chapas estão sendo formadas: uma encabeçada por Emílio Brandi e outra por Sérgio Santos Rodrigues. O histórico de ambos é conhecido: ainda em 2017, o ex-presidente Gilvan de Pinho Tavares queria que Emílio Brandi fosse seu sucessor – na época, Brandi recusou mas apoiou Wagner, entretanto, logo se tornou oposição e hoje é membro do Núcleo Dirigente Transitório, responsável pelo administrativo e pelo comercial.
Sérgio Santos Rodrigues foi o candidato derrotado no pleito de 2017, após romper com Gilvan, se colocou oposição à chapa União. À época, tinha apoio explícito da família Perrella, da qual é abertamente amigo e também advogado pessoal. SSR foi contrário à mudança de estatuto na época – o que abriria o leque para novos candidatos ao pleito. Entrevistamos Sérgio Santos Rodrigues e você pode conferir a entrevista clicando aqui.
3- O voto pode ser aberto?
Não. Apesar de existir um movimento encabeçado por Sérgio Santos Rodrigues e seus apoiadores de abrirem seus votos ao público, o artigo 10, §6º, diz claramente que o voto é secreto e deve ser manifestado através de cédulas.
4- E a mudança de estatuto?
Não há impeditivos para que se altere o estatuto do clube, desde que seja devidamente votado através de uma assembleia geral. É esse, inclusive, o cenário que fez com que as eleições tenham sido marcadas apenas para o final de maio. A ideia do conselho gestor é apresentar uma modernização no estatuto para que seja votado antes do pleito que decidirá o presidente. Essa modernização seria apenas na parte administrativa, com regras de compliance, auditoria externa, responsabilização de patrimônio dos mandatários, entre outros. A parte do estatuto voltada a condições eleitorais não será alterada.
5- E a “família União” vai concorrer?
Ainda não se sabe. O ponto aqui é: os conselheiros que fazem parte desse grupo sabem que a chance de governabilidade vindo através de um candidato deles é baixa (se não for zero). Dificilmente a torcida aceitaria e novos protestos devem acontecer em caso de uma candidatura. Entretanto, é preciso deixar claro que o grupo ainda tem interesse forte em fazer parte do Cruzeiro e representam um número considerável de conselheiros, sendo capazes de decidir um pleito eleitoral – na base da adição ou da divisão. E por isso eles seguem visados, seja pra compor uma chapa majoritária ou para apoiar outra por debaixo dos panos.
6- Mas tanto o conselho gestor como o Sérgio não são contrários à “família União”?
Sim, em partes. Vamos voltar um pouco no tempo: Em 2017, independentemente de quem ganhasse a eleição, uma figura central estaria de volta ao poder: Zezé Perrella. Perrella assumiu publicamente seu apoio ao Sérgio, mas também apoiou Wagner Pires de Sá – de quem é amigo de longa data, assim como também é de Itair Machado – se tornando presidente do conselho deliberativo. Perrella articulou uma situação win-win, em que ele estaria de volta qualquer que fosse os resultados.
Hoje, o cenário é parecido, mas a figura por trás não é necessariamente a de Zezé Perrella. O conselho gestor articula sua candidatura através do presidente interino José Dalai Rocha, que fez parte de todo o movimento e sempre esteve junto a Zezé Perrella. A tentativa de “pacificar” o clube por parte do Dalai vem justamente do contexto acima – Dalai não quer um rompimento brusco com a “família união” e entende que ter os votos deles é garantia de vitória do pleito do conselho gestor. Até por isso Dalai se mostrou receptivo a conversar com conselheiros como João Moreira (conhecido como “João Doido”) e Vitório Gallinari.
Sérgio Santos Rodrigues já é totalmente contrário à família união e seus membros. Entretanto, seu apoio (e consequentemente seus votos) vem de ex-presidentes como Zezé e Alvimar Perrella – em teoria, para conseguir se eleger, SSR também precisaria de membros da “família união” – o apoio de Pedro Lourenço (Supermercados BH) a Sérgio parte dessa mesma vertente. É preciso deixar claro que Perrella nunca foi contrário ou oposição ao conselho responsável por destruir o Cruzeiro e deixar o clube na situação em que se encontra (seja de forma ativa ou pecando pela omissão).