
FOTO: VINNICIUS SILVA / FLICKR OFICIAL / CRUZEIRO E.C.
Esgotamento tático e trabalho saturado de Mano Menezes à frente do Cruzeiro é um dos fatores da maior crise vivida pelo clube em sua história, mas não o único
Após colocar o cargo a disposição da diretoria depois de mais uma derrota no último domingo, Mano praticamente reconheceu que seus métodos não estão sendo suficientes para extrair do grupo o seu máximo. Chegamos ao maior jejum de gols da história do clube: sete partidas. Uma vitória nos últimos 17 jogos e 10 rodadas seguidas no Brasileiro sem vitória. Seu esquema de jogo está batido pois é o mesmo há três anos. Suas tentativas de mudança não surtiram efeito (testou três volantes, falso nove, mexeu nas peças do time…). É muito confortável simplesmente pedir pra sair. Além disso, não existe colocar o cargo “a disposição”. Ou você pede demissão ou é demitido, inclusive a multa contratual existe pra isso. Não adianta transferir a responsabilidade. Nesse caso, ainda há um agravante: a diretoria recusou demiti-lo. Chamaram ainda mais pra si a incumbência em caso de tragédia que, sejamos razoáveis, parece cada vez mais tangível.
Em 2011, escapamos do rebaixamento na última rodada com um elenco pior do que esse. Aquela equipe ocupava o 9º lugar com 18 pontos (46.15% de aproveitamento) após a 13ª rodada do Brasileiro, diferente do desempenho atual, onde amargamos a 18ª colocação, com 10 pontos (25,6% de aproveitamento). Mesmo assim, conseguimos nos recuperar e após aquele fatídico ano se reorganizar com pessoas competentes (leia-se Alexandre Mattos) para buscar um bicampeonato Brasileiro. O caminho atual passa por um pouco mais de vontade e brio dos atletas, além de uma mudança completa na gestão do clube.
A atual diretoria capitaneada por Wagner Pires, Itair Machado e Sérgio Nonato é a pior da história do clube, não há como negar este fato
Desde o início da atual gestão ficou evidente que Mano Menezes seria o escudo para os cartolas fazerem todos os desmandos que vieram à tona no último dia de maio. Enquanto os resultados em campo camuflavam o rombo financeiro, foi possível segurar as pontas. Agora, fica cristalino como quem está a frente do futebol não possui colhão, caráter e moral para cobrar do treinador e jogadores uma postura diferente. Falta credibilidade. O futebol não possui mais espaço para sujeitos desse tipo. O interesse não é o crescimento do clube e sim de suas contas bancárias. Os poupudos aumentos salariais, generosas comissões para agentes próximos e cortesias em ingressos, churrascos, caldos e demais mimos para conselheiros, influenciadores e organizadas falam por si só.
Para manter o funcionamento de uma máquina inchada e seguir gozando de prestígio, foi necessário vender jogadores importantes para manter, ainda que por pouco tempo, a roda girando. Somente entre maio e no último jogo contra o River, Mano viu cinco peças importantes no grupo deixarem o clube. Rafinha rescindiu seu contrato, Murilo, Raniel e Lucas Romero foram negociados e Lucas Silva não teve seu empréstimo renovado. Essa medida mostra outro sinal de amadorismo: vender ativos por um preço baixo e manter medalhões que não darão retorno financeiro e possuem alto salário. Como não havia dinheiro para reposições, foi necessário recompor o elenco com atletas da base e assim Weverton, Maurício, Cacá e Ederson ganharam oportunidades.
Medalhões deveriam chamar a responsabilidade, mas não conseguem entregar em campo o alto rendimento que se espera
Sem peças de reposição que pudessem trazer algum sopro de renovação no batido esquema do treinador, os medalhões também não estão justificando o alto investimento dispendido pelo clube e entregam pouco em campo ou sequer reúnem condições de jogo, casos de Edílson e Rodriguinho (lesionados). O centroavante Fred é o maior exemplo. Com 36 anos, foi na imprensa alegar que o esquema de jogo do treinador vai de encontro com seu estilo (escrevi sobre isso aqui) e soma 15 jogos de jejum. Thiago Neves também convive com problemas crônicos na panturrilha e não consegue desempenhar e decidir como antes. Além disso, sobram reclamações do seu extracampo.
O resumo de toda essa situação é que a parte esportiva acaba sendo atingida. Em algum momento, apenas a capacidade de gerir o vestiário do técnico Mano Menezes não seria suficiente. Ele não é um super-homem e deixa claro que também está no limite. Nesta quarta-feira, temos o Internacional pela frente e precisamos de uma vitória para tentar sobreviver até o fim do ano. Ano que vem serão necessárias mudanças drásticas para salvar o clube. Não dá para seguir assim.
#MeDibre