FOTO: DIVULGAÇÃO / PALMEIRAS
O que num primeiro momento foi uma recusa, se tornou um “sim”. Felipão, 71 anos, aceitou comandar o Cruzeiro, mas não aquele que o mesmo deixou em 2002 para assumir a Seleção Brasileira: saudável financeiramente, com um CT recém-inaugurado referência na América Latina e campeão. Encontrou um clube devastado financeiramente, politicamente e moralmente por sucessivas administrações perdulárias e, por fim, criminosa. O rebaixamento foi inevitável e a vice-lanterna da Série B após 15 rodadas sinaliza que somente um personagem com o seu currículo poderia ajudar num momento tão delicado. Felipão aceitou um desafio do tamanho da sua carreira e era isso que o clube precisava.
Com o seu modelo de jogo simples e efetivo fez o Palmeiras campeão brasileiro de 2018 com 81,8% de aproveitamento em 22 jogos, com dezesseis vitórias e seis empates. Com um estilo direto, objetivo e que não tem vergonha de usar o contra-ataque ou bola parada se necessário, encurtou caminhos num processo de construção de equipe que geralmente costuma ser mais longo. Enderson Moreira sucedeu Adilson Batista com o discurso de um time intragável, de marcação alta, futebol envolvente e ofensivo. Não entregou. Ney Franco chegou discursando ser “um sonho” assumir o clube e que o objetivo era o acesso. No entanto, nenhum dos três treinadores conseguiram colocar em prática sua metodologia e sentiram o peso de liderar um gigante de volta aos trilhos.
Felipão, entretanto, possui casca. Foi de campeão mundial com a Seleção à vítima da pior derrota sofrida pela amarelinha. Sorriu, sofreu, aprendeu, venceu. Seus dramas e conquistas se confundem com a história de um clube quase centenário que implora por uma liderança que consiga colocar ordem na casa. Não somente um treinador, mas um gestor de crises, de egos, vaidades e limitações. Será o bombeiro do vestiário, o escudo para absorver críticas e o espelho que muitos atletas em início de carreira precisam para vislumbrar um sucesso futuro. Ao olharem pra Felipão, não visualizam apenas o último campeão mundial com o Brasil, mas também o último treinador brasileiro a vencer e liderar o Brasileiro da Série A.
Pode-se discutir se o estilo de jogo de suas equipes é bonito ou não, isso depende do gosto pessoal de cada um. Felipão não entrega um jogo sofisticado, abastado ou complexo. Porém, entrega aquilo que o torcedor brasileiro exige e que o clube precisa: resultado e vitórias. Não há tempo a ser perdido. Se o acesso parece distante, agora o torcedor pelo menos tem uma referência ao olhar pro banco de reservas. Ali está Felipão, ali está um vencedor.