
Foto: Cruzeiro E.C./Flickr Oficial
13 jogos sem marcar gols. Ausente nos principais desafios do clube após a conquista do Mineiro (lesão contra o Fluminense pelo segundo jogo da Copa do Brasil e labirintite que impediu de viajar para Argentina enfrentar o River) e sendo vaiado pela torcida após a última derrota contra o Athlético Paranaense, no sábado. A vida do centroavante Fred não está fácil no Cruzeiro. Agora, é possível entender o motivo de uma queda tão brusca em seu desempenho? É o que pretendo comentar nesse texto.
Fred é um atacante de área. Com 35 anos, não possui a mesma mobilidade de outrora para driblar, correr ou enfrentar seus marcadores. Acaba se tornando um alvo “fácil” muito longe da área ou quando a bola chega pouco na sua zona preferida de ação. Todos os gols do Fred desde o seu retorno em 2018 foram marcados na grande/pequena área. Além disso, se no Mineiro terminamos com o melhor ataque (36 gols em 16 jogos) e na fase de grupos da Libertadores marcamos 11 vezes em 7 partidas, no Brasileiro a média despencou. Durante o estadual éramos a segunda equipe com mais finalizações, 212 (86✓) e média de 41% de aproveitamento. No Brasileiro, esse número caiu para 122 (50✓), assim como o número de gols (9 em 12 jogos). Se no Mineiro precisávamos de 2,3 finalizações para marcar um gol, no Brasileiro subiu para 13,5 conclusões para balançar às redes. É claro que o centroavante irá sofrer com isso. Se o time não marca muitos gols e a bola não chega, é evidente que sua média irá despencar.
Na Copa do Brasil, são 4 jogos de jejum. Sua última atuação contra o rival, no Independência, externou o grande problema que a equipe vem apresentando para manter um jogador como o Fred: o sistema de jogo mais reativo. Se somarmos o número de finalizações da equipe com Fred em campo (contra Fluminense (ida) e rival (volta)), chegamos ao total de 5 finalizações totais e 2 no alvo. Com uma equipe montada exclusivamente para se defender, o camisa 9 fica simplesmente sem vez. O melhor jogo do Cruzeiro no ano foi a goleada contra o Huracán, no Mineirão, em partida que o centroavante marcou 3 vezes. Naquela oportunidade, finalizamos 13 vezes, 6 no alvo. Com um time mais ofensivo, também cedemos oportunidades, sofrendo 14 finalizações (5 no alvo), trocação que nosso treinador abomina.
Com esse time base, Marquinhos Gabriel era responsável em dar profundidade, drible e velocidade pela esquerda. Ele e Fred se entenderam muito bem, sendo o ponta responsável por 4 assistências diretas pra gol do centroavante, líder no quesito. Outro jogador importante nesse estilo mais ofensivo do Cruzeiro era Robinho. O meia e verdadeiro maestro deu 3 assistências para o camisa 9, a maioria com passes em profundidade, rompendo a última linha de marcação do adversário e proporcionando ao centroavante dar apenas um toque pro gol. Outras situações aconteceram em ultrapassagens dos laterais rumo à linha de fundo. Seja Edílson ou Orejuela pela direita ou Dôdô e Egídio pela esquerda, todos contribuíram com 1 assistência para gol de cabeça do artilheiro. Rodriguinho também teve papel fundamental nesse esquema pois, além de buscar a bola junto aos volantes, tabelava com Fred e pisava na área, dividindo com ele a responsabilidade de marcar gols. Antes do seus problemas lombares, marcou 6 gols em 8 partidas. Com Thiago Neves ausente, seu encaixe aconteceu rapidamente.
Além dos problemas citados, atravessamos um período de seca de vitórias. Fomos pra pausa da Copa América na zona de rebaixamento, sem vencer há 9 jogos e com graves problemas defensivos. O retorno pro segundo semestre ainda está cambaleante. Se o sistema defensivo melhorou, o ataque segue com problemas. Tirando a expressiva vitória contra o rival por 3×0, pela Copa do Brasil, ainda não conseguimos marcar gols nas outras 5 partidas, somando apenas 1 vitória em 15 jogos. Buscando mudar o estilo de jogo, Mano sacou Fred da equipe e escalou Pedro Rocha como um falso nove. A intenção era trazer mais mobilidade ao ataque, além de um jogador mais apropriado para um sistema reativo, buscando escapadas rápidas em contra-ataque. Com isso, o veterano centroavante perdeu sua titularidade.
Ela retornou no Independência, contra o rival, devido a ausência de Thiago Neves. A atuação, contudo, foi mais uma vez limitada. Além de problemas técnicos e de confiança, Fred não é apto para atuar num sistema de jogo onde às linhas são baixas e o deixe tão longe do gol. Sem explosão para percorrer grandes distâncias e com dificuldade de reter a bola, foi incapaz de trazer posse no campo ofensivo. Ao ser substituído por David, a equipe teve uma potencial melhora, chegando a marcar um gol (invalidado pela arbitragem) com Pedro Rocha.
Mano sabe que o estilo reativo com um centroavante tipo o Fred sendo uma parte da engrenagem e não a referência vai de encontro com suas características. Centroavantes como ele precisam de um time jogando em sua função, não o contrário. No entanto, já vimos em situações passadas que no momento de dificuldade o treinador sempre recorre à sua forma mais pragmática, onde se sente confortável. A fase do Fred não é boa, seu custo é muito alto e provavelmente veremos o camisa 9 passar por dificuldades enquanto o sistema de jogo for esse. Diante de tantas decisões que teremos pela frente, a prioridade do técnico será vencer e sobreviver. E se pra isso o estilo apresentado sacrifique o goleador, assim será.
#MeDibre