
FOTO: GUSTAVO ALEIXO / CRUZEIRO E.C.
Indo para o terceiro ano consecutivo na Série B, o Cruzeiro deu passo importante para sua manutenção na competição ao bater o Londrina por 1 a 0, na última sexta-feira, e abrir cinco pontos em relação ao Z-4. A equipe estava a dois pontos do seu rival e, em caso de derrota, poderia ter entrado na zona de rebaixamento faltando apenas cinco jogos para o fim do torneio. Na tarde desta segunda-feira, o presidente do clube, Sérgio Santos Rodrigues, concedeu coletiva na Toca da Raposa II e comentou sobre o imbróglio envolvendo a carga de ingressos no Mineirão e também em relação ao planejamento para 2022.
Na última pergunta da coletiva, o dirigente foi questionado sobre a situação de 15 jogadores com contrato se encerrando em dezembro, além do técnico Vanderlei Luxemburgo, e a ausência do diretor de futebol desde a saída de Rodrigo Pastana, em outubro. Sérgio Rodrigues lembrou de toda comissão técnica envolvida no planejamento, citou conversa encaminhada com Vanderlei e frisou que a torcida pode ficar “tranquila” para o ano que vem.
Todo o departamento. Já falava sobre isso antes, as vezes entende-se que o papel do diretor de futebol é muito menor do que realmente é. As vezes acha-se que é o diretor que vai fazer a contratação, e existe todo um departamento por trás. O do Cruzeiro começa na análise de mercado, que é o Toninho filho do Toninho Almeida. Temos a nossa equipe de transição e fixa que conta com Célio Lúcio e com Belletti. Temos a comissão do Vanderlei, sobretudo Vanderlei e Ricardo Rocha, que conhecem bastante o mercado. Eu estou presente aqui diretor também, e hoje nós temos também o André (Argolo) que é nosso diretor e está auxiliando nos trabalhos da Toca.
O departamento de futebol é o setor que mais cometeu erros na gestão do atual mandatário. Em dois anos consecutivos, o dirigente precisou recorrer a técnicos de renome para salvar o time de um rebaixamento inédito para Série C. Em 2020, Felipão chegou na 17ª rodada, com o clube na vice lanterna, e terminou o ano com aproveitamento de 55,5%, 12 pontos atrás do 4º colocado, com 49 pontos. Antes dele, Enderson Moreira e Ney Franco foram demitidos.
Na atual temporada, Luxemburgo chegou durante a Série B para salvar o time do rebaixamento, mas seu discurso era sobre acesso. Felipe Conceição foi demitido após eliminação na terceira fase da Copa do Brasil para o Juazeirense. O presidente, assim como no episódio da contratação de Ney Franco, passou por cima de patrocinadores e torcida e anunciou Mozart. Em 15 rodadas, o comandante conseguiu apenas duas vitórias e ficou nove jogos sem vitória (6 derrotas e 3 empates). Há um turno no comando da Raposa e com o risco de rebaixamento praticamente eliminado, o dirigente mantém a confiança no trabalho, garante que o clube ainda olhará um novo diretor de futebol e pede tranquilidade ao torcedor.
“O Cruzeiro vai olhar sim ainda um diretor de futebol, mas o fato de não tê-lo nada impede que a gente faça esse planejamento para o ano que vem. O principal era entender a comissão, os atletas tem que ter muito a ver com o que a gente pretende, a forma que o time vai jogar e o técnico vai escalar. Isso já tá sendo feito, não prejudica em nada o planejamento e a torcida pode ficar tranquila em relação a isso”, finalizou.
A esperança de toda torcida é que, dessa vez, a escolha por um novo dirigente para comandar a pasta mais importante da Instituição seja assertiva. Assim como a alta rotatividade de técnicos, o cargo de diretor de futebol é recorrentemente trocado e os profissionais que passam por lá, questionados. O último, Rodrigo Pastana, também foi contratado sob imensa rejeição. Com o clube na iminência de sofrer um novo transferban da FIFA, foi ao mercado de forma agressiva e contratou sete jogadores. Destes, apenas Wellington Nem apresenta em campo justificativa para estar no time (você pode conferir mais detalhes clicando aqui).
Antes dele, Ricardo Drubscky, Deivid e André Mazzuco estiveram à frente da pasta do futebol. Com formas bem diferentes de atuação, nenhum conseguiu implementar de forma duradoura suas filosofias de trabalho. José Carlos Brunoro também pode ser considerado relevante nessa questão, o dirigente ficou por dois meses e chegou a atuar no futebol, mas como consultor, a pedido do técnico Felipão. Ao todo, 41 contratações foram feitas entre 2020 e 2021, com retorno técnico em campo quase inexistente.
Tranquilidade é, de fato, algo que o torcedor do Cruzeiro almeja para o próximo ano. Com o processo de transição do clube para SAF, a esperança é que o comando do futebol seja trocado e tocado de forma separada do clube social, fazendo com que pitacos e interferências de conselheiros e dirigentes estatuários não mais ocorram. Afinal, a situação calamitosa que o clube se encontra hoje passa diretamente pelas ações – e omissões – daqueles que, politicamente, poderiam ter atuado de forma mais decisiva para evitar a chegada ao fundo do poço. A caminhada para retomada será árdua, e erros tão grandes na gestão da principal pasta não poderão mais ocorrer.