
FOTO: BRUNO HADDAD / FLICKR OFICIAL / CRUZEIRO E.C.
Passado um mês de Zezé Perrella a frente do Cruzeiro, sendo homem forte do clube, o que de fato mudou na política interna do clube? Quais medidas estão sendo tomadas para sanear e estancar os problemas financeiros? Quem segue e quem, de fato, foi desligado do clube? E a posição do conselho? Essas e outras muitas perguntas seguem vigentes e com respostas turvas, inconclusivas e que não dão um novo parâmetro para aquilo que se vinha sendo cobrado por torcida e oposição: transparência.
A verdade é que a chance de se perpetuar no poder segue sendo o ponto fraco de todo dirigente que assume uma cadeira tão alta no Cruzeiro, tudo corroborado com um estatuto arcaico, nada democrático e um conselho que, em sua maioria, pensa mais em benefício próprio do que no clube em si. Vale ressaltar que não precisou de muito tempo para que as coisas terminassem em pizza: Zezé assumiu o clube com o discurso de fazer mudanças pontuais em áreas estratégicas, desaparelhar o clube e permanecer apenas até o final do ano – alegando que uma nova eleição seria convocada ainda para 2020. Todo esse discurso que caiu por terra logo na primeira vitória do time em campo.
Os bastidores seguem sem transparência. Pessoas que se alinhavam a Itair Machado seguem dando as caras (e as cartas) no clube, vide Alexandre Comoretto, o Gáucho, e Sérgio Nonato. Na tentativa de apaziguar e retomar a ordem, Zezé Perrella se colocou como parte – e não como salvador. Enfraqueceu e cancelou a reunião que poderia determinar a salvação do clube, copiou a ideia do comitê gestor proposta pela oposição – mas com nomes que corroboram o seu pensamento – tendo inclusive que tirar o único nome realmente disposto a fazer as mudanças que o clube determina.
As maiores evidências de que as coisas seguem como antes, são as últimas decisões tomadas pela diretoria: Fabiano de Oliveira Costa, diretor jurídico do clube, acusado em rede nacional de participar de um esquema que prejudicava o próprio Cruzeiro, atualmente investigado, não foi sequer afastado do cargo; nomes como o de Flávio Pena, Alexandre Comoretto, Fabrício Visacro (cunhado de Itair Machado!) e Amarildo Ribeiro também seguem no clube em posições e cargos estratégicos para a manutenção dessa estrutura de poder lesiva ao Cruzeiro; nenhum documento que comprove o desligamento de Sérgio Nonato e também de Itair Machado, aliás, houve pagamento da multa? Como foram feitos esses acertos?
Até mesmo a ideia de que Pedro Lourenço, empresário e dono da rede Supermercado BH, entraria com o aporte financeiro e seria o “homem forte” por trás de uma reconstrução do clube, parece ter fracassado. Perrella teve que fazer malabarismo para fechar o pagamento da folha salarial dos últimos meses, comprometendo valores futuros e criando um rombo ainda maior. Inclusive, a negativa do filho do Pedro Lourenço em participar do comitê gestor e a ausência do empresário em se pronunciar sobre o rumo político do clube atualmente, também levantam questionamentos: Pedro segue com intenções de se candidatar e presidir esse Cruzeiro, mesmo que seja apenas no final de 2020?
É importante ressaltar que a tentativa de tirar o time do Z4 e o poder conciliador de Zezé Perrella abaixaram a poeira. Conseguir a demissão (conseguiu, de fato?) de Itair Machado deu uma sobrevida a muitos e apaziguou, de certa forma, os bastidores. A ideia aqui parece ser “vencer pelo cansaço”, visto que muitos da oposição já deixaram de se manifestar e veem no jogo político uma disputa injusta, em que o sistema sempre irá vencer. Mas as explicações e as cobranças precisam de continuar. Ao menos é o papel da mídia: cobrar por mais transparência, mais efetividade, mais ações. Menos notas e declarações polêmicas.