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O técnico Vanderlei Luxemburgo, que deixou o Cruzeiro no final de dezembro do ano passado por decisão de comitê de gestão de Ronaldo Fenômeno, que adquiriu 90% das ações da SAF e se tornou sócio majoritário, concedeu entrevista ao podcast “Flow Sport Club” e falou sobre sua terceira passagem no clube que durou pouco mais de três meses. O experiente comandante ressaltou que dirigir um time na segunda divisão não estava nos seus planos, mas o pedido feito por Pedro Lourenço, amigo pessoal e um dos principais patrocinadores da Raposa, pesou na decisão.
“O Cruzeiro estava combalido, totalmente combalido, o Cruzeiro estava para ir pra 3ª divisão. Cheguei lá, era horrível, seis meses de salário atrasado, fornecedores atrasados, transfer ban, funcionário sem receber, tudo horrível. Conversei com o patrocinador (Pedro Lourenço), eu vou, mas primeira coisa que quero é salário de jogadores e principalmente de funcionários em dia e ele concordou.”
O técnico ressaltou que um dos seus pedidos junto ao patrocinador para aceitar comandar o clube era de colocar o salário em dia dos atletas e principalmente dos funcionários que receberiam salários mais baixos em relação aos jogadores. O pedido em sua chegada foi atendido, mas no mês seguinte os salários voltaram a atrasar e uma nova conversa precisou acontecer.
“Aí atrasou de novo, tivemos que conversar novamente e minha preocupação foi tirar o Cruzeiro daquela zona, que estava em 19º lugar. O clube grande quando chega pra ganhar, chega pra ganhar, mas quando chega aqui embaixo, chega pra ir embora. É impressionante”.
Luxemburgo ainda comentou sobre o trabalho de recuperação feito com o clube, mas que em determinado momento, quando o time venceu alguns jogos e teve chance de brigar pelo acesso, não conseguiu uma sequência capaz de mantê-lo no objetivo. O técnico reconheceu que o time não era pra tal ambição, principalmente pelo histórico dos jogadores e a pressão de vestir uma camisa do tamanho do Cruzeiro.
“Consegui tirar e ir pro meio da tabela, mas nos jogos mais importantes a equipe não conseguiu ganhar aquele jogo, que você poderia ir pra sétimo, sexto lugar e encostar na turma de cima, e aí a camisa entra em campo. O time não era pra ganhar, era de jogadores jogando no Cruzeiro que vieram da segunda, terceira divisão e de clubes muito pequenos, e a camisa pesa muito. Tem que ter jogadores, mesmo na segunda divisão, de primeira divisão. O Grêmio fez certo, manteve jogadores da primeira divisão, ganham bem, ter um custo maior do que perder 100 milhões do ano que vem (cota de televisão da Série A.”
O treinador voltou a repetir o discurso de que o Cruzeiro precisa de um time de “Primeira Divisão” disputando a Série B” e falou até de “assumir riscos” gastando um pouco além do orçamento para conquistar o acesso e vislumbrar uma receita maior com cota de televisão de Série A e outros patrocinadores.
“Tenho falado para o Vasco da Gama, pro pessoal do Cruzeiro. Isso é primeira divisão. Ah, não tem condições de investir. Tem que ser criativo. Você não vai ter a receita agora (na Série B), mas futebol é um jogo. Você tem que arriscar. É fazer um investimento de jogadores que podem te levar pra primeira divisão, e você gastou 10 ou 15 milhões a mais na Série B, mas você vai receber 100 no orçamento do ano seguinte estando na Série A, já muda totalmente patrocinador e outras coisas. Tem que fazer um time de primeira divisão jogando a segunda divisão”, finalizou.
Ronaldo e sua equipe foram por outro caminho e optaram pela readequação salarial dos jogadores contratados por Luxemburgo e Mattos e os que já estavam no elenco. Tal decisão fez com que o lateral-direito Pará e o volante Fernando Netto, por exemplo, não permanecessem. O lateral Raúl Cáceres e o zagueiro Ramon também acertaram sua saída por não aceitarem a readequação salarial.
Em coletiva no dia 11 de janeiro, a primeira após adquirir as ações do clube, Ronaldo Fenômeno anunciou uma redução prevista de pelo menos 60% da folha salarial, algo em torno de R$ 35,1 milhões por temporada apenas na folha salarial do futebol. Para alcançar tal meta, além das saídas de Luxemburgo e Alexandre Mattos, a diretoria também não renovou com o goleiro Fábio, jogador com mais jogos pela Raposa e um dos principais ídolos do clube, que acabou acertando sua ida para o Fluminense.
Luxemburgo tratou com naturalidade seu desligamento, disse que entendeu a decisão e que é um direito do comprador escolher com quem quer trabalhar.