ME DIBRE RETRÔ: Ih rapaz, o busão sumiu!

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Você acha que já viu de tudo no futebol? Vou te dar um tempo para pensar… Está bom? ou quer mais um tempinho? Tá bom mais um tempo… Então resolveu?

Vou contar uma história que provavelmente você nunca ouviu e se eu não estivesse lá eu não acreditaria.

Libertadores de 2009, sei que não traz boas recordações para ninguém, mas o fato foi inédito e merece ser contado, tenha um pouco de paciência e chegue até o final do texto.

Cruzeiro ia para a segunda rodada do returno da primeira fase da libertadores, a campanha muito boa, 10 pontos dos 12 possíveis. Na estreia atropelou o Estudiantes no Mineirão por 3 a 0, empatou com Deportivo Quito no Equador em 1 a 1, em casa bateu o Universitário Sucre por 2 a 0, voltou a enfrentar o time de Sucre, dessa vez na Bolivia e também venceu, 1 a 0 e aí chegou a vez do Estudiantes, na Argentina, em La Plata.

A equipe argentina estava com 6 pontos, uma derrota ou até mesmo um empate poderia significar a eliminação dos hermanos ainda na primeira fase da copa e as chances deles tomarem um sapeca era grande, afinal o time de Adilson Batista estava certinho, jogando um futebol bem ajustado.

Estávamos no hotel, eu na minha rotina de TV Cruzeiro e os jogadores na deles, concentrados para o jogão das 22 horas. Mas aí começaram as coisas que não eram da nossa rotina.

Chegou a seguinte notícia. A rodovia que liga Buenos Aires (cidade onde o Cruzeiro estava hospedado) a La Plata estava fechada por manifestantes que faziam greve e que ninguém sabia quando as autoridades liberariam o tráfego no local, resumindo, não tinha hora para acabar. Isso significava que o jogo poderia não acontecer. Essa conversa nos chegou lá pelas 10 hs da manha e as 17 horas não tínhamos ainda uma definição se o jogo aconteceria ou não. Ficamos de prontidão.

Normalmente o Cruzeiro chegava uma hora antes do início da partida no estádio, como La Plata ficava uns 40 minutos de Buenos Aires, sairíamos as 19:40 do hotel, tempo de sobra para chegar ao nosso destino.

A confirmação que o jogo seria realizado só aconteceu por volta das 18:30, beleza, a apreensão atrapalha um pouco, mas normal, a equipe estava preparada.

19:40 todos no busão e seguimos para La Plata. Até ai tudo bem, os batedores da polícia Argentina fizeram um excelente trabalho, o ônibus seguia sem problema algum, até que…

Trocaram os batedores, a policia deu lugar a batedores contratados e aí começou o nosso inferno.

20:40 Uma hora na estrada e nada de placa de La Plata, começamos a perceber que algo não estava certo, o então diretor de futebol do Cruzeiro Eduardo Maluf começava a ficar inquieto

21:00 No meio do nada, me sai uma BMW de lugar nenhum, fecha o busão e o faz parar. Sai de dentro do carro um senhor que deveria ter uns 70 anos, completamente piradão e xingou o motoca todo. Ninguém entendia o que aquela figura falava, a única coisa que sabíamos é que ele estava muito puto da vida e estava nos atrasando. Essa confusão durou mais ou menos uns 20 minutos.

21:30 Avistamos uma placa, LA PLATA 100 km, pronto, FODEU! Faltavam meia hora para o inicio do jogo e ainda estávamos longe pacas do estádio. Maluf pirou, tirou satisfação com o motorista do busão e ninguém entendia o que ele falava,(o motoca galera, sei que a voz do Maluf é complicada mas da para entender) língua danada esse tal de espanhol.

21:50 INACREDITÁVEL o busão seguiu um caminho e os batedores outro, depois de andarmos uns 5 minutos, o motoca fez o retorno e tomou o caminho certo.

22:00 Estamos no caminho certo, bem ao longe avistamos o estádio, dentro do busão uma zona, olho para meu lado e estava o Wellington Paulista cantando: “vamos, vamos cruzeiro, vamos, vamos é chegar”

22:10 Agora é a vez do Magrão. Ele chegou até a parte da frente do busão, viu que o estádio estava próximo e saiu gritando: Ó galera é o seguinte, hoje não tem nada de escalação, quem vestir primeiro joga.

22:20 O busão finalmente chega ao estádio Ciudad de La Plata e o motoca ouviu belos elogios de todos nós.

22:30 Geraldinho, o roupeiro do clube, acelerava para entregar o material esportivo da rapaziada e adivinha? A turma foi colocando o seu uniforme de trabalho no caminho para o gramado, Fabrício entrou no campo de sunga, outros colocando meião, chuteira enfim foi uma várzea.

22:40 Começou o jogo sem que os nossos atletas fizessem o seu devido aquecimento. O resultado todos sabem, os “honestíssimos” hermanos venceram o jogo por 4 a 0.

Até hoje me faço algumas perguntas:

  • A merda da greve, ela existiu ou não?
  • Quem era aquele senhor maluco que apareceu do nada? Fantasma? Será que ele estava escondido no asfalto? Pessoal o homem simplesmente apareceu e desapareceu
  • O que a emissora de TV que detém os direitos de transmissão da libertadores colocou no ar enquanto aguardava o Cruzeiro chegar?
  • Será que se estivéssemos chegado no horário correto teríamos vencido aqueles Argentinos safados?
  • Se tivéssemos vencido aqueles putos, eles não classificariam. Será que a final seria diferente?

 

Já ia me esquecendo, à volta, hum! Essa foi rapidinha, em 40 minutos estávamos no hotel. Coisas de libertadores

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