Crônica: mostre-me um herói e eu escreverei uma tragédia

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A frase que estampa o título desse texto é do escritor norte-americano Francis Scott Fitzgerald, um dos grandes romancistas do século XX, e diz muito sobre as sensações que a torcida do Cruzeiro vem sentindo nesses últimos dias de pré-jogo de Libertadores. Sem levar em consideração o primeiro jogo contra o Flamengo e o placar que dá uma grande vantagem ao time, a ansiedade toma conta de cada um que acompanha a rotina desse clube.

O histórico de jogar sempre pelo regulamento, com o livro de regras debaixo do braço e avançar com requintes de sofrimento e taquicardia não proporciona à torcida qualquer sensação de alívio ou confiança excessiva. Junte o estilo de jogo com o histórico de grandes decisões que pareciam “favas contadas” e pronto: tragédia.

Longe de mim querer ser arauto do apocalipse, mas relembrar o passado é manter a história viva e permitir que erros crassos não voltem a acontecer. Então, nobre celeste, se você já está ansioso essa coluna não é pra você! A partir de agora pretendo lembrar das nossas três últimas eliminações na Libertadores e, com isso, reforçar a ideia de que o mais fácil por muitas vezes é o mais difícil e traçar um comparativo do que aquelas equipes não tinham e que hoje tem.

A começar pela mais recente: Cruzeiro x River Plate, quartas de final, 2015.

Depois de um grande jogo no Monumental de Nuñes, o Cruzeiro fez o que parecia impossível e desbancou o time cisplatino com louvor, voltando pra casa com o 1 a 0 e o gol fora de casa. A confiança para avançar à fase de grupos era inversamente proporcional ao futebol apresentado pelo time naquela fase, mas o apelo e a tradição da camisa na competição faziam com que o mais cético acreditasse na classificação. Mas o final dessa história é uma tragédia de Shakespeare. O River, que viria a ser o campeão dessa edição, não tomou conhecimento de nada: nem do time, nem da camisa, nem da freguesia e nem de um Mineirão lotado. Um 3 a 0 com requintes de crueldade adiaram o sonho do tri e custou o fim de uma trajetória: Marcelo Oliveira seria demitido.

Quando faltou tudo e mais um pouco (Foto: Divulgação/Trivela)

Esse é um cenário praticamente impossível de se repetir. A equipe preza pela defesa e pela marcação, foram raros os momentos em que o Cruzeiro sofreu com placares com diferença de 2 gols ou mais.

O ano anterior e a sina do campeão: Cruzeiro x San Lorenzo, quartas de final, 2014.

O time que encantou o Brasil por dois anos chegava com a responsabilidade de fazer bonito também na Libertadores. O adversário era o San Lorenzo e a decisão, pra variar, seria em casa. A derrota em Almagro por 1 a 0 seria vista como reversível e completamente plausível para um time que fazia do Mineirão seu grande trunfo. Mas um gol logo no início, com menos de 10 minutos no relógio, fez o barraco todo desabar. Faltou maturidade para buscar a diferença, pois futebol tinha com toda certeza. O time ainda chegou a empatar, mas… o San Lorenzo acabou campeão da Libertadores.

Quando faltou maturidade e experiência. (Foto: Juliana Flister/Dom Total)

Maturidade é o ponto chave do elenco celeste. Muito se questiona sobre a idade do elenco e até sobre o preparo físico, mas esse mesmo time tem muitos jogadores que viveram em campo essas duas decisões lembradas e muitos outros com história longa no futebol. Com certeza a experiência é um dos pontos fortes desse time “cascudo”.

A maior zebra: Cruzeiro x Once Caldas, oitavas de final, 2011.

“Barcelona das Américas”. Os deuses do futebol não deixariam essa alcunha passar impune. Adversário fraco, sem tradição e vindo de um revés em casa. O cenário era tão favorável ao Cruzeiro, que só uma hecatombe poderia eliminar o Cruzeiro – e ela aconteceu. Dois gols do adversário no quarto final do jogo. Uma ducha de água gelada que culminaria num terrível ano. Talvez o jogo mais “sem explicação” que eu já tenha presenciado.

Quando faltou pé no chão. (Foto: Divulgação)

A diferença, agora, é o próprio adversário. Não se pode relaxar em nenhum momento contra um time tão forte e de camisa tão pesada como é o Flamengo. A ideia de “salto alto” não existiu em nenhum momento, mesmo com um placar amplamente favorável.

Relembrar é viver. Eliminações fazem parte de qualquer história de um clube gigante que se proponha e faça por merecer participar de grandes competições. Mas amanhã, não queremos escrever essa história pelo viés da tragédia, preferimos seguir o caminho da aventura e que nos leve a um final feliz!

Foto de capa: Vinnicius Silva/Cruzeiro E.C.

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