
Foto: Washington Alves/Light Press
Vencedor em 2003, 2013 e 2014, além de um vice em 2010 e boas participações entre 2007, 2008, 2009 e 2017, o Campeonato Brasileiro dos pontos corridos sempre fez do Cruzeiro um dos times mais tradicionais e favoritos da competição. Contudo, o ano de 2019 representa a antítese desse clube que, outrora, era referência no formato. Após a derrota para o Grêmio (mas, antes mesmo, já na derrota pro Vasco) está confirmado que essa é a pior campanha do clube, de longe, desde o seu início. Podendo chegar a apenas 39 pontos, fica bem atrás dos 43 somados em 2011, ano da salvação do rebaixamento superando o rival. O Brasileirão dos “nego veio” envergonha o torcedor e pode nos rebaixar pela primeira vez na história.
Isso não aconteceu por acaso. Os problemas extracampo interferiram diretamente dentro das quatro linhas pelo modus operandi que o clube foi “administrado” (o mais correto seria lesado) desde o início de 2018. O dirigente pode conseguir o respeito dos atletas de duas formas. Conquistando através de postura, ações, discurso e currículo ou comprando, seja com renovações de contratos, aumentos, bichos, premiação, etc. O problema do segundo é que quando acaba o dinheiro, os mesmos jogadores que outrora te chamavam de “mito”, deixam de correr por você. Não é coincidência. Como diz Ferran Soriano em seu livro, “A bola não entra por acaso”. No caso do Cruzeiro até entrou, mas está custando caro.

Fred comemorando seu último gol pelo Brasileiro, contra o Corinthians. Para variar, de pênalti. Foi difícil ir as redes sem eles. Foto: Daniel Vorley/LightPress/Cruzeiro
Apesar de todos os problemas, é notório que não temos elenco para estar nessa situação. Porém, falta atitude, ambição e compromisso. Veteranos como Thiago Neves que, apesar de ser artilheiro do clube no Brasileiro com 6 gols marcados e 5 assistências, foi afastado por seguidos atos de indisciplina e conflito com todos os treinadores. Seu rendimento em campo beirava o constrangedor, passou 22 dos 28 jogos que entrou em branco e a cereja do bolo foi o pênalti perdido contra o CSA. Além dele, seu companheiro de ataque, o centroavante “goleador” Fred, marcou apenas 5 gols. É o vice-artilheiro, entretanto com bola rolando balançou as redes apenas duas vezes. A sensação é que fisicamente não tem mais condições de atuar em alto nível. Robinho, dono da frase “o dinheiro ano passado estava jorrando” marcou apenas 1 gol e deu 1 assistência. Saiu do jogo contra o Grêmio com suspeita de rompimento dos ligamentos do joelho, não deve mais atuar esse ano. Um final melancólico, digno da sua temporada.
Edílson e Egídio já sinalizavam, desde agosto, um fim de ciclo. O lateral direito que não consegue reunir condições físicas pra estar presente em 50% dos jogos da temporada e que, segundo ele, recebe o maior salário da posição no Brasil, até fez jogos regulares nessa reta final, mas durante o ano ficou marcado mais por cartões e problemas físicos, além do atrito com Rogério Ceni. Uma contratação que serviu apenas para desfazer de Alisson e Thonny Anderson, dois jovens de qualidade, num projeto megalomaníaco de Itair Machado. Aqui, faço um mea culpa por ter gostado dessa contratação na época, mas Edílson se mostrou um jogador desequilibrado emocionalmente. Vai tarde. Egídio ou “piscininha amor” comprometeu a equipe em vários jogos do Brasileiro com falhas grotescas, ora técnicas, ora de posicionamento, entendimento de jogo. Outro que não fará falta, o famoso “já vai tarde”.
Além dos “medalhões”, jogadores secundários mas com muita responsabilidade nessa campanha horrorosa merecem destaque. Marquinhos Gabriel, contratado por ocasião e dito pelo então ex vice-presidente de futebol como “melhor do que o Arrascaeta”, atuou em 27 partidas do Brasileiro e não marcou gols, dando apenas 2 assistências. Seu último gol foi em abril, na final do Mineiro. Suas atuações são constrangedoras, quase sempre se escondendo do jogo. David, o atacante que ano passado teve uma proposta de 25 milhões recusadas segundo Itair, não marca um gol sequer desde março. São 33 partidas disputadas no Brasileiro em branco. Apesar de não se omitir e até criar algumas situações de gol, não se justifica tanto tempo em jejum. Pedro Rocha e Sassá, com 2 e 3 gols em 23 e 22 jogos, respectivamente, nunca assumiram a responsabilidade nesse vácuo técnico, fizeram parte da mediocridade.
Thiago Neves criticou Rogério Ceni exigindo a entrada dos “nego veio”, Dedé foi à público após o empate contra o Ceará e demissão do técnico pedir a palavra para defender publicamente Sassá, Edílson e Thiago. No fim das contas, vimos que quem realmente estava preocupado e motivado para fazer algo pelo Cruzeiro foi mandado embora e quem se mostrou muito disposto a defender os amigos apareceu mais por fazer “sarradas no ar” enquanto tratava de lesão do que em campo nesse momento turbulento. O Brasileiro dos “nego veio” é o pior da história do clube, com menos vitórias que o já rebaixado CSA e desempenho contra os concorrentes diretos na luta contra o descenso de apenas 22,2%. Parabéns aos envolvidos.
#MeDibre