O PATROCÍNIO DE CADA DIA

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FOTO: IGOR SALES / FLICKR OFICIAL / CRUZEIRO E.C.

Na tarde da última quarta-feira (27) o presidente do Cruzeiro, Wagner Pires de Sá, foi questionado durante a coletiva sobre o patrocínio principal para a camisa celeste dessa temporada. Entre as informações repassadas à imprensa, muitas dúvidas foram geradas e pautaram boa parte dos debates em redes sociais. Algumas dessas ainda pairam sobre os torcedores.

O que se sabe até agora é que o grupo financeiro que assinou com o Cruzeiro é o Banco Renner, que deverá estampar a marca da “Digi+”, sua modalidade de conta digital, no lugar mais nobre da camisa celeste. O anúncio oficial deverá acontecer no dia anterior ao da estreia do time na Libertadores. Outra informação confirmada e principal alvo das dúvidas é de que será necessário uma ativação por parte da torcida para que metas estabelecidas sejam cumpridas.

O que não sabe é o motivo que nos leva a questionar a real viabilidade desse patrocinador e como isso será, de fato, lucrativo para o clube – que vive dias de caos econômico. E a partir daí, podemos levantar alguns questionamentos:

1) Haverá, de fato, valor fixo estipulado durante o contrato?

Essa pergunta pode parecer até estranha, mas a dúvida surge a partir da fala do próprio presidente celeste, que disse se tratar de uma “associação” e não de um “patrocínio”. Essa ideia de que se trata de uma “parceria” torna obscuro a forma como esse contrato pode ser feito. Apesar de não existir uma fonte oficial ligada ao clube que confirme, o portal Superesportes deu como certa o pagamento de uma cota fixa anual.

2) Caso se confirme, os valores referente à cota fixa são maiores ou iguais ao que pagava a Caixa Econômica Federal?

Aqui, um ponto crucial. A CEF pagou em 2018 um valor fixo de R$10 milhões, fora as bonificações. Esse valor já apontava um mercado tímido para o investimento em publicidade no futebol. Em dezembro de 2018 o próprio presidente celeste, em entrevista à rádio 98FM, alegou que o patrocínio teria um montante “bastante superior” ao do banco estatal. Aqui, novamente, passível de interpretações. Ao que tudo indica, a diretoria já está contando com as previsões das variáveis de adesão massiva da torcida ao serviço prestado pelo grupo gaúcho.

3) Haverá algum ônus para o torcedor que deseja ajudar a instituição?

Creio que essa será uma pergunta respondida na apresentação do patrocínio, mas já fica a indagação. A modalidade de conta digital é uma tendência nos dias de hoje. Muitos desses serviços, inclusive, não cobram taxas de adesão e manutenção de conta corrente ou anuidade para cartões de crédito. Entender o momento econômico do país e a realidade do público que consome de fato o futebol é uma das preocupações acerca de uma realidade financeira a ser planejada com base em variáveis que podem oscilar.

Algumas informações retiradas do site oficial do patrocinador com as condições atuais da modalidade da conta digital. Você pode conferir o site oficial clicando aqui. (Foto: Colagem/Reprodução)

4) Será o maior patrocínio do Brasil e consequentemente maior que o da parceria entre Crefisa/Palmeiras?

Nesse modelo, fica evidente que a resposta é não. Apesar de ser divulgado dessa forma pelo diretor geral do Cruzeiro, Sérgio Nonato, não só os valores não devem chegar perto do que é pago ao alviverde paulista (mesmo com otimismo em um massivo número de adesões), como há de se levar em conta que a relação Crefisa-Palmeiras trabalha diretamente com aporte financeiro para contratação de atletas e pagamento de salários através da compra de “espaços de marketing”. A atual parceria do Cruzeiro se assemelha muito mais ao modelo adotado recentemente por Corinthians e o banco BMG.

De acordo com o especialista Júlio Reis, CEO da empresa Smart Valor, o Cruzeiro deveria manter o pé no chão em relação aos valores e levar em conta que, no pior dos cenários, o valor deve ser equivalente ao que seria tradicionalmente pago pela exposição das marcas: “o Cruzeiro deve ter o cenário pessimista de consumo da torcida, de engajamento, observando as características do produto e os concorrentes do produto, sabendo que a torcida às vezes vai ter que adquirir um produto que nem é tão vantajoso pra exclusivamente ajudar o seu clube. Sabendo que num cenário pessimista, o montante seja equivalente ao que se pagaria por um patrocínio tradicional.”

Esses são os pontos principais a serem debatidos internamente e que também devem ser levados ao conhecimento do torcedor – que a partir de agora terá papel ativo nesse negócio. É necessário cuidado para que não exista uma possível transferência de responsabilidades caso o valor alcançado seja menor do que o esperado pela diretoria financeira. A torcida não pode ser culpada, em hipótese alguma, caso a negociação não renda o planejado – o que demonstraria uma falha da diretoria. Agora é aguardar o anúncio oficial e torcer para que a negociação se mostre vantajosa tal qual o otimismo do presidente que acredita que “o céu é o limite”.

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