O QUE REPRESENTA O “RETORNO” DE ITAIR MACHADO

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FOTO: DANIELA LAMEIRA / REPRODUÇÃO STJD

Itair Machado não retornou. A verdade, óbvia e documentada, é que ele nunca tinha saído. Conforme você pôde conferir em matérias no próprio DMD, Itair Machado detem poder total de decisões no clube, foi realocado para uma nova função enquanto estava afastado judicialmente do clube. Uma manobra para ludibriar a liminar que impedia o exercício de suas atividades executivas no clube.

Mas nem mesmo o judiciário mineiro é passivo de confiança. Como forma de estreitar laços visando vantagens, Wagner Pires de Sá, presidente do Cruzeiro, presenteou Nelson Missias, atual presidente do TJMG com o “Raposão de Ouro”, honraria concedida para cruzeirenses relevantes na história do clube – o que claramente não é o caso do presidente do tribunal de justiça. Inclusive, o ditado de “diga com quem andas” segue fazendo jus: Missias foi intimado nesta manhã pela Polícia Federal e pelo STJ. Os motivos você confere nessa reportagem do g1 (clique aqui).

O lobby ao que tudo indica deu certo. Itair Machado teve seu recurso aceito e a liminar que impedia o mesmo de exercer a vice-presidência de futebol do Cruzeiro caiu. Agora o homem forte do Cruzeiro está disponível para continuar exercendo seu papel, mas de forma oficial, uma vez que o mesmo nunca se afastou de fato das decisões principais do clube. Até mesmo o presidente do conselho deliberativo, Zezé Perrella, disse em áudio vazado que Itair Machado é quem “manda” no Cruzeiro. O presidente Wagner Pires de Sá teria um papel meramente figurativo na história, “rainha da Inglaterra”, você pode conferir a reportagem completa no globoesporte.com clicando aqui. O áudio você confere na íntegra abaixo:

O retorno de Itair Machado, nesse momento, representa a derrota moral dos que prezam pela instituição. E mostra que não há qualquer vergonha por parte dos atuais dirigentes com o momento atual. Os desmandos continuam e, dessa vez, não haverá premiação milionária da Copa do Brasil para maquiar os números do balanço. Ao que tudo indica, vamos presenciar uma “contabilidade criativa” ano que vem, uma vez que o próprio conselho fiscal – também alinhado com a diretoria – já deu a entender que irá fazer vistas grossas ao rombo que vem notadamente vem acontecendo no clube.

O mínimo que se espera, no momento, é que Itair Machado seja colocado em xeque – se é que o mesmo está disposto a prestar esclarecimentos com o atual momento, uma vez que a omissão diante dos fatos denunciados nos últimos três meses é a regra. É preciso questionar: 

– atraso de salário de jogadores e funcionários, mesmo diante do discurso de que o clube estava pagando suas dívidas e arrecadando com vários patrocínios;

– venda de atletas/ativos jovens, por preços abaixo do mercado e com dinheiro servindo para pagamento de remunerações, sem qualquer investimento ou retorno para a infraestrutura do clube;

– falta de reposição das peças que saíram e defasagem do elenco;

– os números apresentados pela sindicância que demonstram uma situação ainda mais caótica no clube e vão na contramão do discurso de austeridade e “compliance” pregado pela diretoria;

– a demissão de funcionários antigos sob a única alegação de estarem “ligados a diretorias anteriores”;

– excesso de empréstimos e aumento significativo da dívida do clube;

– escolha e nomeação de Flávio Pena para a diretoria financeira do clube, mesmo com o histórico de ter sido diretor da gestão de Ziza Valadares no Atlético e um currículo de insucesso no futebol;

– o desempenho pífio do time nesse ano, que levou ao Cruzeiro a duas desclassificações e à briga contra o rebaixamento.

É certo que, caso essas perguntas sejam feitas, declarações polêmicas e que rendem manchetes para contornar a situação apareçam e o mérito dessas perguntas não seja respondido. Foi assim na coletiva realizada logo após a denúncia do Fantástico, três meses atrás. Segue sendo assim mesmo com escândalos seguidos envolvendo o alto escalão do comando celeste. A desculpa de que o momento do clube é conturbado por “motivos políticos” não passa de uma cortina de fumaça. O problema do Cruzeiro é incompetência, ingerência e corrupção, tudo com a conivência de um conselho em sua grande parte vendido por interesses próprios.

O Cruzeiro já foi um livro aberto de páginas heroicas e imortais. Hoje, a cada minuto que passa, é um livro que se deteriora com páginas manchadas.

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