
FOTO: IGOR SALES / REPRODUÇÃO / CRUZEIRO E.C.
Na tarde desta quinta-feira (22) nossa equipe de reportagem teve acesso a ata de reunião do conselho fiscal, realizado no último dia 20. O documento basicamente contraria o que dizem as denúncias veiculadas pela mídia, as investigações realizadas por diversos órgãos públicos – que ainda apontam indícios de lavagem de dinheiro e outros crimes – e a própria sindicância feita independente pedida pelo presidente do conselho fiscal e não vê problemas dentro dos tópicos abordados pelo mesmo. O documento de duas páginas na íntegra segue no final desta matéria.
No mesmo dia que o documento vem a público, o diretor financeiro do clube, Flávio Pena, deu entrevista à rádio 98, onde utilizou de elementos de retórica para desviar dos assuntos mais graves e tentou transferir a culpa da situação atual para a diretoria anterior (alegando que assumiu o clube com dívidas, mas em nenhum momento assumindo o aumento exponencial proporcionado por ele e o restante da atual diretoria), questionando a sindicância (com falácias técnicas de argumentação) e prometendo que o ano que vem será de austeridade (sendo que essa promessa foi uma das bases da plataforma da atual gestão ainda na época das eleições – e que acabou não sendo cumprida nos dois primeiros anos).
Para elucidar o momento que vive o Cruzeiro, divulgamos ontem aqui que o ex-vice-presidente de Futebol, Itair Machado, foi realocado pra função de “Assessor Esportivo da Presidência” – uma manobra para burlar o afastamento judicial do cargo. O portal Gazeta Esportiva e o portal UOL confirmaram que o ex-diretor e hoje assessor segue remunerado no novo cargo – ainda foi apurado que o mesmo segue recebendo valores na casa dos 200 mil reais mensais.
Diante desse cenário, fica evidente que o conselho fiscal – eleito com apoio e lobby da presidência, que chegou a promover “noite de caldos” e “churrascos” para convencer conselheiros a eleger a chapa – não demonstra de isonomia e concretiza a visão de que há parcialidade pró-administração atual. Muito disso, inclusive, só reforça as denúncias expostas pelo ex-conselho fiscal e a recusa de aceitar que auditorias renomadas como a BDO ou a E&Y (solicitadas pelo próprio Wagner e depois rejeitado pelas mesmas, pela falta de transparência e pela recusa em ter acesso total a todos os documentos).
É preciso relembrar algo citado pelo próprio Flávio Pena: o empréstimo de 300 milhões junto a um fundo internacional. Na época, foi vendido como a salvação da lavoura para o clube. Itair Machado chegou a citar penhora na conta do clube para justificar a aprovação do mesmo com o conselho. Entretanto, o empréstimo não saiu e hoje o clube trabalha com dívidas de curto prazo que afetam o caixa: só este ano, já tivemos dois casos de salários de funcionários e colaboradores atrasados, além do pagamento dos atletas e direitos de imagens parcelados. A “contabilidade criativa” não funciona, porque não engana a ninguém. E o Cruzeiro segue na iminência de perder o PROFUT, além do descrédito da marca no mercado e as consequências terríveis dessa política de vender atletas para pagar vencimentos.
Enfim, três meses após as denúncias publicadas pelo Fantástico, que já haviam sendo expostas aqui no DMD, nada foi feito. Não há sinais de melhora e nem se cogita o afastamento de todo corpo diretor (executivo, jurídico e financeiro) responsável por levar o Cruzeiro ao estado atual. Pelo contrário: após as denúncias, o número de desmandos administrativos, incursão da Polícia Civil, novos inquéritos e processos judiciais, demissões em massa de funcionários competentes, mas que não estavam “alinhados” ao que manda a cartilha dos que estão lá, além da omissão do próprio presidente nesse momento crítico. O futuro do Cruzeiro é cada vez mais sombrio.
Confira a ata da reunião do conselho fiscal e sua conclusão: