PARA MEU PAI

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A primeira vez que fui ao Mineirão eu tinha apenas seis anos, como eu lembro? Até pouco tempo eu tinha o canhotinho do ingresso guardado. O que me lembro bem, foi meu avô enchendo o saco do meu pai para ele me levar ao estádio e meu pai como bom Cruzeirense que era (é), tratou de atender ao seu Natal.

Lembro também que fui todo uniformizado e na inesquecível CB 400 do meu veio, é moto viu gente, para quem não sabe.

Desde aquele dia, daquele jogo, meu pai se ferrou. Tomei tanto gosto, que eu queria ir em todos. Ele também queria, era daqueles torcedores fanáticos. Então começamos os dois a frequentar o estádio (ele ja ia antes, é claro)

E te contar, era duro, por que eu e Geraldinho, também conhecido como meu pai, pegamos a desgraceira da década de 80. Poxa!!! Era foda, íamos ao campo de teimosos, só tunda que o time tomava.

Logo estaremos juntos e vamos colocar a prosa em dia

Mas aí veio o ano de 1984. Final do Mineiro, Cruzeiro e aquilo lá, meu pai fez uma hora danada para sairmos para o estádio, resultado, quando chegamos tivemos que entrar pela torcida do rival. Imaginem o que ouvimos. Mas até aí tudo bem, o problema era quando aparecia algum engraçadinho querendo me dar uns petelecos, vê! Dar cascudo num guri de 8 anos! Hum!!! Era ruim, meio veio era bom de briga. Mas também, o homem foi nascido e criado no conjunto IAPI, era ruim de encarar.

Pois com algumas dificuldades passamos para o lado foda do Gigante da Pampulha e de lá vimos o nosso Cruzeiro trucidar aquilo lá. Poxa!!! Essa lembrança não sai da minha retina. Como eu e o meu pai nos abraçávamos, comemorávamos, felicidade pura. Fomos embora na motoca buzinando, fazendo um estardalhaço, afinal, era a primeira conquista que eu via meu time levar.

Outro jogo que não me esqueço foi contra o Olimpia, pela Supercopa, me desculpem, mas não lembro o ano. Caiu uma tempestade, no meio do caminho meu veio queria desistir de prosseguir, mas Cruzeirenses brutos que somos, persistirmos, lutamos contra o temporal e chegamos a Toca III. O Cruzeiro fez valer o esforço, detonou os paraguaios. Novamente vieram aquelas sensações boas, de amizade, companheirismo, de amor. A volta como sempre, muito buzinaço.

E a Supercopa de 91, putz!!! Fantástico. Quando acabou o jogo, meu pai me ajudou a invadir o campo, sei lá, acho que ele queria que eu vivesse aquele momento mágico. E eu o fiz, o problema foi acha-lo depois.

Mas achei e novamente o que rolou no caminho de volta, a farra da buzina.

O futebol foi uma forma de nos manter próximos, ja que meus pais eram separados. E obrigado futebol pelo belo trabalho prestado.

Me lembro no dia que vi meu pai pela primeira vez como herói. Foi em um Cruzeiro e Corinthians. Arrebentaram uma colmeia de abelhas, aquelas que enrolam no cabelo, foi uma correria, uma multidão veio para cima de nós dois. Meu pai virou meu escudo e não deixou ninguém me tocar.

São tantas histórias que daria um livro.

Mas esses pequenos fragmentos de nossas vidas e tantos outros, fizeram de nossa jornada uma viagem inesquecível.

Tivemos nossas diferenças, como todo pai e filho, eu deveria ter dito que o amava mais, deveria ter o visitado mais, deveria te-lo abraçado mais. Deveria, mas tanto ele quanto eu, sabíamos e sabemos do amor que um sentia e sente pelo outro.

Valeu pai, valeu por me tornar o Cruzeirense que eu sou, raiz, bruto.

Valeu pelo conselho, um dos mais importantes da minha vida: “Homem não anda em turma, isso se chama bando, você não precisa disso”.

VALEU POR HOJE EU ESTAR CHORANDO A SUA PERDA, SIGNIFICA QUE ESTOU VIVO, GRAÇAS A VOCÊ E MINHA MÃE.

Descansa pai. Logo estarei aí e temos muita prosa para colocar em dia.

Te amo.

Como você carinhosamente me chamava:

Branco

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