
FOTO: GUSTAVO ALEIXO / CRUZEIRO E.C.
Depois de Zé Ricardo ser oficialmente apresentado como o recém-contratado técnico do Cruzeiro, Pedro Martins, o Diretor Executivo do clube, esclareceu a demissão de Pepa e reconheceu os desafios envolvidos na segunda mudança de liderança nesta temporada. Essa foi a primeira declaração emitida pela diretoria do time celeste desde a saída do técnico português, na semana passada.
“A decisão de ficar é um risco, a de trocar também é um risco. Por isso temos que ter clareza em cada passo. Não chegou um salvador da prática, como também não existia antes. É colocar a mão na cabeça e tomar as melhores decisões para obter os melhores resultados. O que culminou na saída do Pepa e na chegada do Zé, é olhar pra trás. Aqui fazemos avaliação, recortes, e um estudo mais profundo ao final do turno. E quando sentamos pra avaliar o turno, nossa rotina, a gente começa a projetar qual é o Cruzeiro que a gente quer, qual o Cruzeiro possível até o final do ano pra gente cumprir a nossa meta. Tinham dúvidas sobre o próximo ciclo. A forma como o dia a dia foi tratado nos fez trocar o técnico.”
Pepa e sua comissão deixaram o Cruzeiro após 26 jogos, com oito vitórias, oito empates e dez derrotas. A equipe marcou 26 gols e sofreu 25. O time não vence há oito jogos na temporada e ocupa a 12ª posição no campeonato, com 26 pontos, cinco acima do Santos, próximo adversário da Raposa após a pausa da Data Fifa.
Confira os principais pontos da entrevista do diretor de futebol:
Fatores que levaram à troca de comando técnico:
“Nunca é um simples fator. Quando você vai avaliar resultado, você avalia todos os critérios necessários e como isso vem sendo absorvido pelo grupo de atletas e gerando resultados em termos de desempenho. Claro que haviam fatores positivos, nunca é fácil fazer esse tipo de avaliação quando se é sério. A demissão não acontece de maneira abrupta, são várias conversas para tomar essa decisão. A gente avalia o todo, que é justamente pontuar a perspectiva futura com relação há algumas mudanças necessárias e não conseguimos verificar que havia essa perspectiva.
Se há o entendimento de que faltou uma melhor comunicação com a torcida após a saída de Pepa:
“Com relação a comunicação, não acredito que a torcida seja cliente, ele é parte do projeto. Ela tem que acreditar e estar junto conosco e a comunicação é fundamental. Estou aqui para dar uma resposta quando temos uma resposta. Como levamos isso muito a sério, tomamos o tempo necessário para avaliar e entender se o treinador concordava com tudo que construímos. Não adianta chegar um técnico e trazer tudo pra si, para construir um clube forte queremos um líder de processo. Por isso que tomou o tempo que tinha que tomar para tomarmos a decisão e comunicar.”
Eventuais erros que possam ter sido cometidos pela direção na temporada:
“Acredito que a diferença do Cruzeiro é um clube que tem um norte. Se alguém está esperando um clube que não vai errar, não é clube de futebol. Na nossa clareza, é sobre onde queremos levar o Cruzeiro. Vai ter dificuldade, vamos errar, e isso ninguém disse que não iria acontecer. Como que concerta um clube devendo 1 bilhão e vindo há três anos de uma Série B sem passar por dificuldade? Vamos passar. A diferença de passar pelas dificuldades com convicção e clareza de onde quer chegar, faz com que se tenha um rumo e um norte pra onde se quer chegar. No dia a dia tem muita cobrança, exigimos demais de todas as pessoas. Trabalhar no Cruzeiro é difícil e tem que ser. Pra respeitar o tamanho e ambição desse clube, tem que ser bom. Não é qualquer pessoa que vai trabalhar e jogar aqui. Dentro das limitações financeiras e dificuldades de reconstrução, vamos atingir nosso objetivo, sabendo que não será do dia pra noite.“
Encerrar o trabalho do Pepa e o risco de trazer o Zé Ricardo:
“Ninguém ficou feliz com a saída do Pepa. Isso é diferente de avaliação de trabalho, não de resultados e projeções. A gente avalia o trabalho para projetar o resultado e por isso tomamos a decisão de tirá-lo. Toda decisão tem seu risco e por isso precisamos ter convicção e clareza. Nesse aspecto, o clube está bem definido e decidido. Agora é trabalhar, para que a gente consiga não só obter resultados, mas o trabalho que a gente gostaria.”
Responsabilidade do departamento de futebol em relação a sequência sem resultados:
“A responsabilidade é do clube. Precisamos reconstruir os valores dessa Instituição, um clube com capacidade de projetar seu futuro e passar pelas dificuldades. Hoje temos um clube estruturado, profissional, e uma avaliação crítica muito forte. Precisamos saber que esse é o primeiro ano de Série A depois de três anos na Série B. Isso ajuda a ajustar expectativa e olhar pro futuro. Estamos montando um grupo de trabalho, vinte e sete novos jogadores. Conseguir conectar e criar um grupo de trabalho não é do dia pra noite. Temos clareza que vamos errar, mas a dificuldade da maioria dos clubes no Brasil é cometer os mesmos erros sempre. A diferença tendo um projeto estabelecido é a capacidade de aprender com o erro, corrigir e olhar pra frente. Não estamos aqui para vender fórmula mágica, o segredo do sucesso ou prometer que o Cruzeiro se tornaria um dos principais clubes do Brasil de forma imediata. Não vamos vender expectativa desmedida porque já fizeram isso aqui bastante, nossa capacidade aqui é de enfrentar a realidade e superá-la com muito trabalho.”
“Queríamos trazer a resposta. Estávamos fazendo todo o diagnóstico, conversando para tomar a melhor decisão. A hora de comunicar, comunicar como se deu e qual a decisão. Talvez se comunicássemos antes tiraria um pouco do receio de como se deu a saída do Pepa, mas geraria outra especulação. O nosso objetivo era de comunicar na hora certa e passar a mensagem correta.”
Lista de treinadores na mira e opção pelo Zé Ricardo:
“Temos uma equipe de monitoramento de atletas em potencial, jogadores, staff, preparador de goleiros, físicos, analista de desempenho, etc. É uma lista grande. A gente como inteligência estamos atualizando a todo momento. Dentro dessa lista, tem uma série de treinadores e profissionais para momentos distintos. Zé Ricardo sempre foi um treinador que acompanhamos, conversamos com ele em outros momentos. Isso vai ajudando a tomar a decisão e diminuir a margem de erro. O Zé é um profissional que já estávamos analisando em outros clubes.”
Protesto dos torcedores, reclamações em relação ao programa de sócios e se há distanciamento entre torcida e diretoria:
“A aproximação deve acontecer, o clube sem a torcida não é ninguém. Existem diferenças, precisamos avaliar o dia a dia, o trabalho e as decisões técnicas para que a gente consiga os resultados e a torcida se agrade e não como já aconteceu de tomar decisões pelo que vem sendo dito. Aqui no Cruzeiro sempre vamos buscar a conexão com o torcedor, mas a decisão técnica deve ser avaliado de acordo com o que vem acontecendo dentro da Toca da Raposa.”
Motivos para decisão da saída do Pepa:
“Se fosse fácil nomear apenas uma coisa para se tomar decisão, teríamos uma vida mais tranquila. Olhamos tudo, desde o método para se conduzir os treinos, a energia colocada, o processo de integração da comissão com o ambiente, tudo isso tem avaliação positiva, do que dava para melhorar e avaliação que identificávamos que, infelizmente, pela forma que o projeto estava, não via evolução. É difícil dar um argumento, estamos falando de ser humano. Fizemos várias reflexões para comissão técnica para chegar nessa conclusão. O Pepa e sua comissão também apostaram muito nesse projeto, e tomamos essa decisão também com uma dificuldade com a relação pessoal que se cria. Na nossa avaliação, o Pepa é um treinador de potencial enorme. Teve a dificuldade de chegar e se integrar como qualquer estrangeiro pode ter, mas não tenho dúvida que por tudo que ele já fez na carreira, tem um futuro brilhante. Decisões precisam ser tomadas e a gente tomou com a clareza e convicção de que alguns pontos deveriam ser modificados dentro da estrutura do clube.