Logo Deus Me Dibre
Cruzeiro

Qual o critério da diretoria do Cruzeiro na montagem e utilização do elenco?

Compartilhe

FOTO: GUSTAVO ALEIXO / FLICKR OFICIAL / CRUZEIRO E.C.

O Cruzeiro chegou a cinco jogos sem vitória. Além do péssimo futebol apresentado, alguns questionamentos precisam ser feitos em relação a montagem e aproveitamento do elenco executado pelos diretores  Deivid e Ricardo Drubscky. Aliás, qual o papel de cada um na estrutura administrativa do clube? Atualmente, não só os dois como André Argolo, Pedro Moreira e Benecy Queiroz estão presentes em todas as viagens da delegação para os jogos. Quem fica na Toca II traçando diretrizes e buscando soluções? Hoje, temos um elenco inchado com 37 jogadores (excluindo Dedé, lesionado) e que, mesmo assim, segue com carências. Quando serão questionados?

É no mínimo incoerente notar que no meio da maior crise financeira atravessada por um clube quase centenário, os principais ativos não estejam sendo valorizados da forma que deveriam. Qual o sentido de seguir dando oportunidades para Roberson, com 31 anos e 30 gols na carreira em detrimento de Vinicius Popó, que durante sua passagem pela base marcou 127 gols em 189 jogos e em todos os jogos treinos da temporada de 2020 deixou sua marca? O jovem Caio Rosa, vice-artilheiro do Sub-20 em 2019 com 10 gols e segundo maior garçom com 7 assistências em 37 jogos, não entra em campo desde março, quando recebeu oportunidade em dois jogos atuando 30 minutos em cada um. O mesmo que coleciona passagens pelas seleções de base, é cobiçado por Flamengo, Grêmio e Palmeiras, mas parece que para o Cruzeiro não serve. Marco Antônio, o mais próximo que o elenco possui de um camisa 10, foi o principal garçom do Sub-20 no ano passado com 8 assistências, recebeu apenas 36 minutos de Enderson Moreira. Sequer é relacionado.

Medalhões como Ariel Cabral e Henrique que num passado não muito distantes estiveram presentes no rebaixamento do clube seguem prestigiados ainda que apresentem um nível técnico aquém do necessário para serem titulares absolutos. O ex-capitão saiu no início do ano, era reserva no Fluminense e retornou passando na frente de Pedro Bicalho (retornou ao Sub-20) Adriano e Machado. A gratidão ao que foi feito no passado não pode servir de muleta para o presente. O critério técnico sempre deve estar na frente em qualquer avaliação. No Cruzeiro, parece que se premia o “tempo de casa” ao invés da meritocracia. O capitão Léo, um dos veteranos remanescentes do ano passado, sendo o elo mais fraco no quesito saída de bola. Basta ao adversário isolar os volantes e pressioná-lo que seus chutões excluem qualquer possibilidade de um jogo baseado na posse e toques curtos.

Em duas partidas, Matheus Pereira agradou e mostrou segurança na lateral. Jogador quase foi negociado sem receber oportunidades. Foto: Gustavo Aleixo/Cruzeiro

Os diretores passam o sentimento de desconhecimento sobre a capacidade dos ativos da base. Há duas semanas, Matheus Pereira quase foi cedido de graça ao Estoril, de Portugal. Não fosse a torcida reclamar e cobrar oportunidades, hoje estaríamos com Giovanni e alucinados no mercado em busca um nome meia boca. Como que a comissão técnica integrada a direção não percebeu antes o potencial do atleta? Por que jovens como Riquelmo e Stênio, que claramente ainda não estavam prontos para jogar em sequência (o último, inclusive, ficará 4 meses afastado devido a uma lesão no ombro após uma dividida) foram escalados precipitadamente passando na frente de outros atletas mais prontos? A titularidade de Riquelmo diante do Confiança surpreendeu, afinal Welinton vinha entrando bem. No mínimo, uma opção incoerente. Houve uma paralisação que durou dois meses e os reforços demoraram a chegar, os processos foram acelerados e agora colhemos os problemas de um time que segue em montagem na sétima rodada da Série B.

Em  um levantamento feito pelo Esporte Interativo (confira aqui) o Cruzeiro foi o 10° clube que mais vendeu jogadores na década, movimentando € 49 milhões (R$ 229,8 milhões) em 17 negociações. Somente Everton Cebolinha foi vendido nessa temporada pelo Grêmio ao Benfica por € 22 milhões (R$ 140 milhões), quase metade do valor. O clube fica muito atrás de agremiações como Santos, Grêmio, Flamengo e São Paulo. O alvinegro praiano movimentou € 223,3 milhões (R$ 1,04 bilhão), enquanto os gaúchos € 80,6 milhões (R$ 378 milhões) em 11 vendas e o rubro-negro € 141,7 milhões (R$ 664,5 milhões) em 9 vendas, respectivamente. Essa disparidade está ligada a captação, que precisa evoluir, e também às oportunidades que os atletas recebem. Entre 2015 e 2019, o Santos liderou o ranking de aproveitamento da base com 39,6% de minutos, enquanto o Cruzeiro ficou em 18° (de 20 clubes) com somente 12,6% (veja aqui). Nada é por acaso.

Casos recentes mostram como jovens promissores foram desperdiçados pelo clube devido a má avaliação e falta de critério. Há dois anos, o clube cedia Thonny Anderson ao Grêmio em troca do lateral-direito Edílson, de 30 anos. O veterano foi dispensado em 2020, enquanto o Grêmio faturou R$ 15 milhões com a venda do meia ao Bragantino. Rony, que fez sucesso no Athlético Paranaense, também foi liberado pelo clube a pedido do técnico Mano Menezes, ainda em 2017, por não ter interesse em utilizar o jogador. Recentemente, o jovem Vitinho, que era um dos destaques do Sub-17, foi emprestado ao Palmeiras com passe fixado por “opção técnica”. O jogador já treina com os profissionais do Palmeiras e dificilmente não será adquirido em definitivo.

A sensação transmitida é que os profissionais do futebol ainda estão muito aquém do é feito em outros clubes em termos de avaliação de potencial e processos de trabalho. A filosofia parece disparar no mercado em busca de qualquer um ao invés de analisar o que temos internamente. Ao mesmo tempo que o jovem Alejandro recebe uma proposta do Pumas-MX, é devolvido para o Sub-20. O melhor reforço pro ataque veio graças a uma análise de mercado feita pelo Footure, site de scouting e consultoria. Um clube que precisa angariar receitas despreza seus ativos e insiste em medalhões. Mudam as pessoas, mas as velhas práticas continuam. Pelo visto, 2019 deixou poucas lições.