QUANDO A CRISE DEIXA DE SER CRISE

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FOTO: BRUNO HADDAD / FLICKR OFICIAL / CRUZEIRO E.C.

O Cruzeiro vive uma das suas piores sequências desde que Mano Menezes assumiu o time. Muito além do futebol apresentado e dos problemas administrativos e políticos, antes se via resultados e uma consistência defensiva que, no pior dos cenários, garantia o empate e atenuava essa incessante mania de se jogar sempre no limite, no placar mínimo. Sim, com exceção de uma ou outra sequência, onde a vocação do elenco prevalecia e bons placares eram construídos, o Cruzeiro dos últimos anos em nenhum momento foi exemplo. Em nenhuma área, diga-se. Entramos em crise?

Seria hipocrisia criticar isso só agora, afinal, foi dessa forma que conquistamos dois títulos em sequência da Copa do Brasil, superando os grandes times do momento. Mas da mesma forma que é possível reconhecer os méritos, apontar os deméritos com racionalidade também é saudável para o clube.

Quando decidimos noticiar problemas de bastidores, irregularidades e imoralidades de cartolas e dirigentes, omissão ou cobrança de conselheiros e demais viventes da vida do clube, estamos num processo difícil de ir contra a correnteza da boa fase vivida pelo campo. Entretanto, quando o campo não vai bem, vários novos fatos (e muitos boatos) começam a surgir. Então, é preciso ter muita inteligência e bom senso no momento.

Você provavelmente ouviu dizer que os salários estão atrasados, ou que o grupo está rachado, ou que querem derrubar o treinador. Mas isso não é notícia. Não há fontes. Isso é achismo, até que apareçam evidências e fontes confiáveis por trás dessas falácias ela são o que são: falácias. Analisando a situação por um quadro amplo, é possível dizer que o time enfrenta uma fase instável numa linha que sempre terá seus altos e baixos.

Entretanto, é preciso ser ainda mais amplo nesse quadro. Sim, talvez a má fase do campo seja apenas reflexo de fatores no próprio campo. Mas a crise que o Cruzeiro enfrenta é além das quatro linhas. Esperar que as coisas só apareçam e ganhem destaque na “fase ruim” é corroborar com todo imediatismo e “resultadismo” que tanto criticamos.

Nessas horas é que é preciso cautela. O time deve ser cobrado? Sim. O técnico tem suas responsabilidades? Evidente. Mas não entender que há um risco ainda maior por trás dos placares pode ser ainda mais perigoso. A cobrança deve ser também em cima daqueles que são muito bem remunerados e, até então, não tinha vivenciado uma situação tão “pouco favorável” assim.

Num resumo bem resumido mesmo: atualmente o clube conta com uma diretoria de futebol questionável, que tecnicamente não soube fazer um bom trabalho, herdou um time forte e se sustentou nele para conquistar algo grande. No campo administrativo, um desastre de ingerência que aumentou a dívida de forma absurda, não assume suas responsabilidades (sempre há um terceiro a se culpar) e tem um histórico nada bom. Justamente por causa disso tudo, foi necessário “comprar” apoio de gente estratégica: vozes de destaque na mídia, em redes sociais e com influência em grupos organizados.

Fiquem atentos! Se eu pudesse dar uma dica, seria: antes de tudo, pensem e questionem as ações e os interesses – acima da passionalidade que todos os torcedores carregam – que podem existir por trás de cobranças direcionadas. É um momento de análise geral e conscientização.

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