REALIDADE DIFÍCIL DE ACEITAR, MAS NECESSÁRIA DE SE COMPREENDER

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Foto: William Roth/Light Press/Cruzeiro

Um ano de reconstrução, mas você também pode chamar de recomeço, purificação (termo da moda) ou renovação. A devassa que o Cruzeiro sofreu exigirá da torcida nos próximos anos (talvez década) uma reflexão e compreensão que nunca antes precisou ter. Nem mesmo no hiato de títulos entre 2004 e 2013 nossa situação era tão ruim – muito também pelos anos terríveis do rival – como agora. Afundado em dívidas, tentando retornar ao PROFUT após a última gestão acumular mais de R$ 261 milhões de dívidas fiscais com a União depois de assumir um débito de apenas 16 mil reais. Além disso, processos trabalhistas que saltaram da casa dos 31 em 2017 para 98 em 2020, um aumento de 300% conforme publicou o jornal Hoje em Dia.

Quando a renovação do técnico Adilson Batista foi anunciada, Márcio Rodrigues “tocava” o futebol após saída de Zezé Perrella. Naquela mesma semana, Wagner Pires e seus vices encaravam forte pressão da torcida para renunciarem aos seus mandatos e assim abrirem espaço para o núcleo transitório de notáveis (Conselho Gestor) assumir o clube e estancar a sangria. Após grande insistência, eles saíram e o Conselho assumiu. O que vimos nas semanas seguintes foi uma enxurrada de notícias cada vez mais desesperadoras. Dívidas, contratos temerários, processos, risco de rebaixamento a Série C devido as ações da FIFA e até mesmo a consideração de falência foi levantada. Não sabíamos sequer se teríamos time para colocar em campo no Mineiro. Com mais de quatro meses de salários atrasados, os jogadores poderiam sair do clube recorrendo à Justiça de forma unilateral. Alguns como Ederson, David e Rafael optaram por esse caminho. Empresários de conduta duvidosa somavam os problemas já conhecidos e o buraco parecia não ter fim. Após saídas de Pedro Lourenço e Vittorio Medioli, aos poucos a rotina do clube foi sendo retomada.

Mesmo com desconfiança de muitos, poucos profissionais topariam o desafio encarado pelo Adilson na atual situação do clube. Foto: William Roth/Light Press/Cruzeiro

Feito todo esse flashback, é necessário abordar um tema que ainda parece pouco claro para uma parte da torcida: a nossa realidade é difícil de aceitar, mas necessária de se compreender. Sim, é ruim ter Roberson, João Lucas e outros jogadores de qualidade mediana na equipe, é fato que Adilson Batista não é o técnico dos sonhos e seu último grande trabalho foi justamente no Cruzeiro há 10 anos, mas a situação financeira, esportiva e política do clube afasta maiores investimentos ou profissionais de qualidade superior. A provável chegada de Marcelo Moreno será uma fonte de água no deserto, mas não será nosso padrão de reforços. Hoje temos uma equipe jovem, formada em grande maioria por garotos da base que vão oscilar entre bons jogos e ruins, cometerão erros primários devido a falta de experiência e que precisarão do nosso apoio. A transição está sendo feita de forma urgente e a torcida não está preparada para tal situação pois o que vimos nos últimos anos foi uma série de medalhões que ganhavam muito e entregavam pouco e um treinador que sucateou a base enquanto esteve aqui. Agora, por necessidade, tivemos que mudar tal quadro.

Então, naturalmente devemos criticar o que estiver errado, mas sabendo que infelizmente empates contra São Raimundo fora de casa ou contra o América-MG dentro do Mineirão nesse início de trabalho serão normais. Para Série B muita coisa ainda precisa evoluir, os conceitos de jogo existem mas exigem repetição, treino, assimilação e melhor acabamento. A diretoria precisa agir com sabedoria e não contratar qualquer opção que seja oferecida por empresários e Adilson precisará ser pragmático em alguns momentos, sem inventar improvisações ou tentativas frequentes com jogadores que não estejam rendendo. Porém, um exercício de reflexão nunca é demais, nessa altura do campeonato várias equipes em situações melhores que a nossa estão oscilando. Na Copa do Brasil vimos Bahia, Coritiba, Sport e Avaí serem eliminados na 1ª fase, nosso rival empatou com o Campinense sem acertar um chute no gol adversário e Botafogo e América avançaram no sufoco. Na Libertadores, vimos o Corinthians dar adeus ainda na fase preliminar. Então, muita calma.

Esse Cruzeiro não é o que nos acostumamos a ver, mas infelizmente é o que temos após anos de desmandos e irresponsabilidades. Construir sempre será mais difícil do que destruir. O caminho é longo, críticas pontuais devem ser feitas, mas tenhamos paciência para encarar essa jornada. Não será fácil.

#MeDibre

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