
Antes de entrarmos no ponto central dessa coluna faz-se necessário apontar, antes, uma estória bastante conhecida.
Decorria, em casa de Júlio César, no dia 1º de Maio do ano 62 a.C., a festa da Bona Dea (“Boa deusa”) que se tratava de uma orgia báquica, reservada exclusivamente às mulheres.
A celebração foi organizada por Pompéia Sula, segunda mulher de Júlio César, tida como uma mulher bela e cativante.
Acontece que Publius Clodius, jovem rico e atrevido, estava apaixonado por Pompéia, não resistiu: disfarçou-se de tocadora de lira e, clandestinamente, entrou na festa, na esperança de chegar junto de Pompeia para um “algo a mais”.
Todavia, possivelmente denunciado pelo gogó subindo e descendo no primeiro gole de vinho, Publius, foi descoberto por Aurélia, mãe de César, sem que tivesse conseguido os seus intentos.
Nesse mesmo dia, todos os romanos conheceram a peripécia e o motivo donde César, de plano, decretou o divórcio de Pompeia.
Mas César não ficou contra Publius Clodius tanto é que ao ser chamado a depor como testemunha em tribunal, disse que nada tinha, nem nada sabia contra o suposto sacrílego. Foi o espanto geral entre os senadores: “Então porque se divorciou da sua mulher?”
A resposta tornou-se famosa: “A mulher de César deve estar acima de qualquer suspeita”.
Esta frase deu origem a um provérbio, cujo texto é geralmente o seguinte: “À mulher de César não basta ser honesta, deve parecer honesta.
Pois bem.
Para que voltar aos romanos para introduzir uma discussão afeta aos dias atuais e ao Cruzeiro?
Desde a eleição que conduziu Wagner Pires ao cargo de presidente do Cruzeiro este vem sendo visto constantemente em condições nada convencionais para o cargo que ocupa. Fotografias e vídeos em condições nada convencionais vêm sendo disseminados e debatidos constantemente nas redes sociais. Muitas das vezes as associações tomam tons de alegria e, em sua maioria, em tons jocosos e depreciativos.
Nos vídeos e fotos que andam circulando pelas redes sociais o mandatário-mor celeste vem sendo flagrado aos goles, em farras de bares, comemorações com copos ao alto, e sempre entrando nas brincadeiras dos torcedores ou dos “n” asseclas e aspones que andam lado a lado com o mesmo.
Muitos torcedores têm, inclusive, chamado Wagner Pires de “presidente raiz” pois este bebe com o “povo” ou vai à praia curtir com os amigos mesmo em véspera de jogos importantes, está sempre com a turma ébria cantando músicas das arquibancadas (ou pelo menos tentando) em bares…
Lembrem-se que estamos falando do PRESIDENTE. Cargo máximo da instituição.
Sem querer tolher qualquer conduta da vida privada do Presidente, mas, pensando na instituição, necessário faz repensar algumas condutas externas pois a primeira imagem que se associam, no caso do Wagner Pires, não é a dele, pessoa física, mas, sim, do Cruzeiro.
Ainda que estejamos com poucos meses dessa nova gestão, que a conquista do campeonato mineiro mereça comemoração (ainda que mínima perto do que o Cruzeiro almeja e o campeonato representa), a figura do Presidente do clube não pode ser associada à fanfarra, brincadeiras e atitudes que muitas das vezes são compreensíveis e aceitáveis entre os torcedores. As viagens feitas acompanhando o Cruzeiro não são viagens de turismo. A cada viagem, a Diretoria, jogadores e comissão técnica, cada um a seu modo representam o Cruzeiro e as coisas não podem ser tratadas como brincadeira. Futebol é coisa séria e deve ser tratada dessa forma em todas instâncias. Do roupeiro ao Presidente.
Ainda que por hipótese, imaginem a situação do Mano Menezes reportar ao Presidente que o jogador A ou B mereça uma conversa especial com o Presidente pelo fato de ter se atrasado para o treino por ter se excedido numa gandaia no dia anterior? Que moral este teria perante o atleta para exigir?
Outra hipótese: imaginem numa reunião com um possível patrocinador este receber fotos e vídeos em seu aparelho celular das participações do Wagner após a celebração com Baco? Você gostaria de associar sua marca à condições ou pessoas vexatórias?
Alguém já teve notícias de Presidentes de grandes empresas e clubes aparecendo de forma a associar negativamente a imagem das instituições que representam agirem de forma jocosa e desprendida?
Se o “dono” da empresa está tocando o terror, por que o subordinado não pode?
Nas grandes corporações, o exemplo vem de cima para tudo.
Não se almeja querer mudar a vida de ninguém com essa reflexão. Muito pelo contrário. O objetivo é unicamente de se tentar estabelecer os locais e os ambientes para tudo na vida. Se quer comemorar, que escolha o local, ambiente e pessoas. Se quer brincar, idem. Se quer fazer as necessidades básicas, idem.
Sendo assim, assim como a mulher de Cesar não precisa ser “honesta” desde que “pareça honesta”, a reflexão que se pede ao Presidente Wagner Pires é de que apareça com compostura quando representar o Cruzeiro, ainda que não a tenha.
Respeito à instituição e sua torcida.