ROGÉRIO CENI ERROU. MAS TUDO FOI APENAS INVENÇÃO?

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Foto: Vinnicius Silva/ Cruzeiro

Antes de mais nada esse texto não é pra passar pano nas escolhas questionáveis feitas pelo Ceni ontem, mas sim tentar entender se tudo foi apenas invenção como ressaltou, principalmente, Thiago Neves ou se algumas tentativas foram feitas respeitando características e até situações que já haviam acontecido antes com o mesmo grupo de atletas. Primeiramente, vale lembrar que Rogério Ceni chegou para apagar um incêndio que deslanchou devido aos problemas políticos extracampo e, também, pela falta de resultados apresentada por Mano Menezes e jogadores. Até a vitória contra o Santos na estreia do Rogério, havíamos vencido apenas 1 jogo em 19 partidas disputadas e caído na Libertadores, nos pênaltis, para o River Plate. Além disso, os 8 jogos sem conseguir marcar gols foi o maior jejum em 98 anos de história do clube. Logo, nota-se que as estratégias que outrora nos deram títulos não estavam mais funcionando.

Agora pense que você é um técnico que acabou de chegar e não montou o grupo que tem a disposição. Após 3 partidas sob sua direção o time passa a finalizar mais, fazer gols (4), vencer mais do que nas últimas 19 partidas e precisa reverter um 1×0 sofrido no Mineirão pra um time que perdeu apenas duas vezes dentro de casa em 2019 e tem um treinador há mais de dois anos no comando. Você tenta algo novo ou insiste nas mesmas estratégias? Óbvio que Rogério Ceni arriscou, tentou algo diferente (foi contratado pra isso, inclusive) e não obteve o resultado – que já era difícil – esperado. Porém, muitas opções feitas por ele já haviam sido utilizadas por Mano Menezes em momentos de pressão. Por exemplo, Jadson na lateral direita não foi novidade. Na vitória contra o Goiás (2×1) pela terceira rodada do Brasileiro essa opção foi utilizada quando o esmeraldino empatou o jogo. Para encaixar Rodriguinho e Thiago Juntos, Jadson entrou na vaga de Orejuela e fez o lado direito quando ainda estávamos empatando por 1×1. Ao longo da carreira o atleta já havia atuado por ali e com Edílson sem ritmo de jogo (última partida que atuou 90 minutos foi em maio) e dando declarações ao globoesporte sobre isso, o garoto Weverton lesionado e Orejuela convocado, Ceni optou pelo volante na direita.

Ao utilizar Thiago Neves e Marquinhos Gabriel por dentro, Ceni tentou atrair os zagueiros do Inter pra zona do funil e abrir espaço para infiltração dos pontas na diagonal explorando as fragilidades de Uendel e Bruno. Pedro Rocha foi deslocado pra direita e David atuou na esquerda. Logo no início tivemos uma chance clara de marcar o gol com uma jogada desenvolvida devido a essas mudanças. Jadson apareceu pela ponta e triangulou com Marquinhos mais recuado que serviu Pedro Rocha entrando entre o zagueiro e lateral, mas parou no Lomba. Se faz o gol ali, tudo muda. Contudo, um problema grave no 4-2-4 de Ceni é a falta de combatividade no meio. No Fortaleza ele contava com Juninho e Felipe, dois volantes combativos que conseguiam pressionar e acelerar com passes de ruptura. Robinho, além de não ter potência física, errou muitos passes ontem. Henrique, no auge dos seus 34 anos, não possui a mesma vitalidade para destruir e construir. É outro desafio que o técnico terá de enfrentar. Colocar alguns medalhões no banco.

Quando Dedé sentiu no intervalo e teve de ser substituído, estávamos perdendo por 1×0 (gol sofrido no fim do primeiro tempo) e precisávamos arriscar. Precisando tirar uma desvantagem de dois gols, Ceni recuou Henrique pra zaga e lançou Ariel Cabral para recompor o meio, não queimando uma alteração colocando outro zagueiro. A intenção nesse caso era manter uma qualidade no passe. Nós sabemos que Henrique na zaga não funciona, todas as vezes que isso ocorreu foi um desastre, como no empate por 4×4 contra o Ituiutaba em 2008 e na derrota pro Bahia em 2017 quando ele ainda foi expulso nos minutos iniciais, mas pensem como o treinador: situações extremas pedem soluções extremas.

Penso que o maior erro foi ter demorado demais ou sequer ter entrado com um centroavante desde o início e recuado o Thiago Neves pra fazer a função de volante. Até posso entender que o jogo contra o Santos não serve tanto de parâmetro devido ao fato de terem jogado com 1 a menos, mas o camisa 10 atuando adiantado não funciona. Jogou assim com o Mano diversas vezes entre 2017 e 2018 e nunca foi bem. Ceni pecou nisso, apesar de ter entendido sua escolha.

Diante de tudo abordado, tentei expressar para o leitor às escolhas do técnico. Temos que lembrar que sua contratação só foi feita porque nossa situação é terrível e, querendo ou não, conseguimos somar com ele 7 pontos em 9. Nas últimas 11 rodadas com Mano Menezes somamos apenas 4 pontos e não conseguimos vencer. Os jogadores agora precisam dar a resposta ao invés de lavar roupa suja em público. O apoio ao Rogério Ceni será fundamental. Hoje nosso elenco está dividido entre medalhões, jogadores medianos sem personalidade e garotos da base. Não há um dirigente com moral ou competência pra gerir os conflitos. Vai ficar tudo nas costas do técnico que chegou pra apagar o incêndio. Ceni errou e foi punido por isso, mas suas tentativas haviam embasamento e não foi ele que nos colocou nesse estágio.

#MeDibre

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