FOTO: BRUNO HADDAD / CRUZEIRO E.C.
Vanderlei Luxemburgo concedeu entrevista na tarde desta sexta-feira ao SuperFC e comentou sobre diversos assuntos. Desde a forma como enxerga o campeonato mineiro, a participação da SAF e o planejamento para 2022. Sem confirmar sua permanência, o experiente comandante explicou sua visão sobre o que deve ser feito no Cruzeiro e os pontos importantes para que as conversas sobre sua permanência terminem com um desfecho positivo.
O técnico foi enfático ao destacar que o Campeonato Mineiro servirá de “maturação” para Série B, frisou o histórico copeiro do clube para brigar por fases mais adiantadas da Copa do Brasil, descartou qualquer possibilidade de disputa com o rival, Atlético-MG, onde acredita que se a cobrança for por resultados no Estadual, dificilmente terminará o campeonato na equipe.
“O planejamento terá que ser repensado, essa segunda divisão será uma primeira disfarçada como segunda. Terá três clubes grandes, mais clubes centenários, mais clubes acostumados com a primeira divisão que retornam. O investimento terá que ser um pouco maior do que imaginava, para poder montar um time em condições para chegar no Mineiro na formação da equipe. Sou bem claro para o torcedor cruzeirense, não tem rivalidade com o Atlético. O Cruzeiro precisa voltar para primeira divisão, se eu continuar meu trabalho será direcionado a ascender à primeira divisão. A rivalidade se for prioridade, não chego ao final do Mineiro. O torcedor tem que entender que o direcionamento da energia, da parte positiva, de lotar o estádio, de busca, é Copa do Brasil, porque o Cruzeiro é copeiro. Montar um time em condições de chegar a uma semifinal, até uma final e chegar com o time brigando entre os quatro para subir. O Mineiro é um bom campeonato, mas não posso direcionar o projeto para estadual, com todo respeito. O Campeonato Mineiro vai servir de preparação para gente ir ganhando condição da molecada que vai subir, do elenco que vai ficar, começar a maturar, amadurecer com o que vier pela frente.”
O treinador também foi questionado sobre sua relação com o presidente do clube, Sérgio Santos Rodrigues, que chegou a afirmar que sua permanência estava “encaminhada”, algo que o mesmo tratou de explicar ser mais complexo do que uma simples confirmação, e enalteceu a presença de Pedro Lourenço, dono do Supermercados BH e principal patrocinador da Raposa. O comandante segue afirmando que, para permanecer, o planejamento precisará ser discutido de forma mais abrangente para 2022, principalmente sobre como serão as diretrizes do clube após chegar um investidor através da SAF.
“Agradecer ao Pedrinho do Supermercado BH, tanto é que eu passei a usar a camisa do Supermercados BH para retribuir a generosidade ao que ele fez pelo Cruzeiro e meu trabalho. Meu relacionamento com o Sérgio é muito bom, não temos atrito, conversamos bastante. Ele está em busca de solucionar os problemas do Cruzeiro na ordem financeira com a SAF. As pessoas acham que uma renovação de contrato passa por sim ou não, fico ou não fico. Ela passa por discussão de projeto, planejamento, uma série de coisas. É isso que temos buscado discutir. As pessoas tem memória curta, mas tenho uma experiência muito grande até na minha vida privada com as empresas que tenho. Fui gestor do Palmeiras com a Parmalat, fui gestor do Corinthians, isso me dá bagagem. Sei que se tiver um investidor ele vai querer colocar alguém da parte deles dentro do futebol. Importante é saber quem será essa pessoa, até onde ele vai determinar. De repente ele quer outro treinador, então essas coisas estão no ar. Se eu colocar R$ 200 milhões no negócio e majoritário, eu vou querer mandar e contratar o profissional que se encaixe naquilo que eu penso. A renovação de contrato passa por tudo isso, saber quem vai ser o gestor, se ele quer minha permanência, uma série de coisas que são mais importantes que o sim ou não.”
O treinador também comentou sobre o objetivo que o investidor terá em ver seu aporte financeiro virar lucro. Sobre isso, Luxemburgo lembrou que contribuiu nesse aspecto através do lançamento de jogadores da base, como ocorreu recentemente no Palmeiras, Vasco e agora no Cruzeiro, com jovens que recebiam poucas oportunidades e com ele começaram a ganhar minutagem, casos como de Vitor Leque, Lucas Ventura, Adriano, Marco Antônio e Thiago. O último com sondagens do futebol japonês (confira aqui).
“Não tenho nenhum problema em trabalhar com investidor. Trabalhei com duas empresas e, se você pegar, meus três últimos anos. Pega no Vasco da Gama, no Palmeiras e no Cruzeiro, quanto de dinheiro coloquei nesses clubes. Se pegar o ativo do Palmeiras hoje, dos jogadores que coloquei no time de cima, são mais de 150 milhões de dólares. No Vasco os jogadores que estão lá, dá pra refrescar alguma coisa. Se pegar o ativo do Cruzeiro com esses garotos que não valiam nada e eu botei pra jogar, quanto custa isso. O investidor quer saber disso e ganhar título. Não adianta departamento de marketing de time perdedor. Então você tem que ter um critério de abertura pra categorias de base, investimento de jogadores semi prontos, custo/benefício de atletas prontos para valorizar os que estão do lado. Futebol é planejamento, sentado na mesa, conversando, direcionado pra não errar na contratação.”
Para o treinador, a ideia da SAF é importante, mas a história do clube é de ser revelador e vendedor. Esse caminho precisa ser retomado e ainda que o aporte financeiro trazido pelo futuro investidor seja importante nesse momento de grave crise financeira vivida pela Instituição, a saída para a quitação da dívida na casa de R$ 1 bilhão passa principalmente pela venda de jogadores formados nas categorias de base do clube.
“O Cruzeiro deve 1 bilhão de reais, me dá cinco anos gerindo o Cruzeiro que ele paga essa dívida que deve. É só investir onde tem que investir, sem precisar de investidor. Você precisa no momento de um parceiro, claro. O Flamengo vendeu de três a quatro jogadores e pagou 700 milhões. Hoje, 100 milhões de dólares representam 600 milhões de reais. Então a dívida do Cruzeiro está em 150 milhões de dólares. Se investir nas categorias de base, você atinge isso daí e chegará a esse valor. Agora tem que saber gerir. Acho que a SAF é uma boa, Cruzeiro precisa de dinheiro nesse momento, mas vejo pela grandeza do clube de revelador e vendedor no mercado, é uma coisa que tem saída. Sei a grandeza do Cruzeiro, quantos jogadores foram vendidos e os seus valores. Direcionando com o investidor junto nas categorias de base, é sucesso.”
O técnico também rechaçou qualquer tipo de rusga com Alexandre Mattos, destacando que o espaços precisam ser respeitados. Segundo ele, trabalhar com o diretor de futebol não seria problema. O nome do diretor sempre é especulado no clube, mas ainda não houve uma convergência para um retorno. Mattos está atualmente nos Estados Unidos tocando projetos pessoais e, em contatos passados, descartou uma possibilidade de retorno imediato. Essa situação, obviamente, pode mudar com a medida que o projeto de clube empresa avance.