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Utilização da base, bom futebol e melhor campanha do returno até surto de Covid-19: O trabalho de Conceição no Guarani

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FOTO: THOMAZ MAROSTEGAN / SITE OFICIAL / GUARANI F.C.

O Cruzeiro já tem o novo treinador para 2021. Após a saída de Felipão, Felipe Conceição foi o escolhido para ser o comandante do time na Série B. O interesse pelo técnico já existia antes mesmo da saída de Luiz Felipe Scolari, conforme antecipamos no portal no dia 19/01. Depois de se encontrar pessoalmente com Sérgio Santos Rodrigues, na última quarta-feira, Conceição topou o desafio e fará o anúncio após o fim da Série B. O Guarani recebe o Juventude em casa, às 21h30 dessa sexta-feira.

Conceição trabalhou por três anos como técnico na base do Botafogo, depois como auxiliar técnico de Jair Ventura no Alvinegro. Em 2018, assumiu como treinador mas acabou demitido após eliminação na Copa do Brasil. Teve uma breve passagem pelo Macaé e foi para o América-MG como auxiliar técnico, trabalhando com Adilson Batista, Givanildo de Oliveira e Mauricio Barbieri. Assumiu como técnico do Coelho em 2019, na 19ª colocação, com apenas uma vitória em nove jogos e fez um grande trabalho de recuperação com 16 vitórias em 29 partidas. O acesso escapou na última rodada, quando seu time foi derrotado pelo rebaixado São Bento, em casa, e terminou na 5ª colocação com 61 pontos, um a menos que o Atlético Goianiense, 4º colocado com 62.

Em 2020, acertou com o Red Bull Bragantino, campeão da Série B no ano anterior. Com boas atuações no Paulista, levou o Bragantino à liderança geral do torneio. No entanto, após a eliminação para o Corinthians nas quartas de final, começou a fazer diversas alterações a cada jogo, colocando os mais experientes no banco e tendo problemas com alguns destaques, como Claudinho. Apesar de ter vencido o Troféu do Interior, no Brasileiro os resultados não vieram e as boas atuações do estadual ficaram no passado. Em 18 jogos, somou nove vitórias, quatro empates e cinco derrotas, com aproveitamento de 57%.

Utilização da base, bom futebol e novo trabalho de recuperação: Conceição tirou o Guarani da zona de rebaixamento e chegou a sonhar com acesso. Surto de Covid-19 prejudicou o trabalho na reta final

Em bate-papo com Lucas Rossafa, jornalista de Campinas que cobre Ponte Preta e Guarani, a chegada do treinador foi a última cartada da diretoria Bugrina para fugir do rebaixamento após a passagem de Ricardo Catalá. O Bugre ocupava a 19ª posição, com 11 pontos em 14 jogos.

O Felipe chegou para substituir o Catalá. Era a última carta na manga da diretoria para salvar o time do rebaixamento. Emplacou de cara quatro jogos de invencibilidade, um feito raro naquela época no Guarani. Teve a melhor campanha do returno por algum tempo e colocou o Guarani na briga pelo acesso. 

Conceição estreou na vitória por 3×1 diante do CRB, em casa, pela 15ª rodada. Foram 17 jogos até o surto de Covid-19 que atingiu o elenco na 31º rodada, contra o Sampaio Corrêa, com aproveitamento de 70,5% (11 vitórias, 3 empates e 3 derrotas). O Bugre chegou a ocupar o 6º lugar, a apenas dois pontos do G4. A partir dali, seu time não venceu mais. Foram cinco derrotas e um empate em seis jogos. Seu aproveitamento nos 15 primeiros jogos foi o melhor entre os técnicos do Guarani no século 21. O treinador ainda recusou uma oferta do Coritiba, em novembro.

Segundo Rossafa, o treinador herdou o mesmo elenco que ocupava a zona de rebaixamento após passagens de Catalá e Thiago Carpini. Porém, a utilização de jovens oriundos da base e recuperação de alguns jogadores mais rodados do elenco foi fundamental para arrancada do time sob seu comando.

“O principal legado que o Felipe deixa é a base. Ele pegou um Guarani com muitos jogadores mais rodados e batidos com a torcida e resolveu apostar nos garotos. Por exemplo, o lateral-esquerdo Bidu se tornou ainda mais titular. Na direita, pegou um menino que jogou a Copa Paulista em novembro, com três jogos como profissional, e virou titular, chama Mateus Ludke (fez gol no derby). Foi o Felipe que mandou subir. Na defesa, colocou o Victor Ramon. Sua estreia foi justamente contra o Cruzeiro e ele falhou nos três gols. Mesmo com críticas da torcida, ele seguiu apostando no menino, importante na vitória contra a Chapecoense, marcando até gol. Na lateral-esquerda ele foi o responsável por lançar Eliel, de 19 anos, substituto do Bidu. No meio vinha analisando Pedro Acorci, que foi bem na Copa São Paulo de 2019 e pediu para reintegrar o garoto. No ataque, foi o principal legado deixado. Deu espaço para o Renanzinho, que até a briga pelo G4 antes da Covid-19 era titular absoluto e o Mateus Souza, reserva do Bruno Sávio, jogou o derby como titular e também ficou de fora devido a Covid. São todos criados na base”. 

Com 19 anos, Renanzinho recebeu mais oportunidades com Conceição e é uma das principais revelações do Guarani. Disputou 23 jogos na Série B, marcando 3 gols e dando 1 assistência. Foto: Letícia Martins/Guarani Futebol Clube

Para ficar de olho: Quem do Guarani poderia pintar no Cruzeiro?

Como todo técnico, Conceição também tinha seus “jogadores de confiança” e com mais rodagem no Guarani. Dentre eles, Bruno Sávio, de 26 anos, surge como essa opção. Naturalmente um atacante de beirada, foi deslocado para função de “falso nove” e se saiu muito bem, abrindo espaço para infiltrações dos meias por dentro e também os beiradas de velocidade. Em 28 jogos (titular em 23), marcou 3 gols e deu 4 assistências. Nota média de 6.96 no Sofascore. Segundo Rossafa, Sávio tem contrato até maio com o Guarani e sua permanência ainda não foi definida.

“Ele tem alguns jogadores que são o tal “homens de confiança”. Na defesa tinha o Wálber (23), estava na mira do América-MG, mas acredito que não chegaria a indicar pro Cruzeiro, que tem bons zagueiros. Tem o Pablo Diogo (28), que é um lateral-direito, virou ponta com Conceição e renovou por pedido dele. Outro de confiança é Bruno Silva, volante/zagueiro que está no Guarani há dois anos. Vinha sendo criticado por falhas na bola aérea e no terceiro jogo do Conceição foi usado como volante, barrando o Deivid, titular absoluto desde 2019, e foi bem. E o Bruno Sávio, que virou centroavante no jogo contra o Cruzeiro e não saiu mais. Na maior parte da temporada era ponta, jogando pela esquerda, sem muito destaque. Tem contrato até maio e ganha pouco no Guarani. Outro que o Felipe gosta muito é o Murilo Rangel (29), que veio da Inter de Limeira. Até teve um pouco de resistência no início, mas após o jogo contra o Cruzeiro onde ele marcou dois gols, assumiu um papel de liderança no elenco e não saiu mais do time (foram 26 jogos, 3 gols e 2 assistências). Seu contrato acaba no próximo domingo e ainda não teve proposta do Guarani para renovar.”

Após altos e baixos, Bruno Sávio fez boa Série B atuando como “falso nove” sob comando de Felipe Conceição. Foto: Thomaz Marostegan/Guarani F.C.

Plataforma tática 

Esquema base de Conceição no Guarani.

Conceição tem como base o 4-2-3-1, utilizado no América-MG durante a Série B de 2019 e também o 4-1-4-1, aplicado no RB Bragantino e no Guarani. Diferentemente do seu antecessor, montar um time apenas defensivo e reativo, não é o caminho. Suas equipes são agressivas e híbridas, podendo jogar com a posse de bola mas também de forma mais vertical. No América-MG, teve apenas a 11º posse de bola na competição (49%) e foi, ao lado do Bragantino, o time que ficou mais jogos sem sofrer gols (18). Com média de 12 finalizações por jogo, o América foi a segunda equipe com mais finalizações no campeonato. Seu Guarani tem o 9º melhor ataque da Série B e chegou a ter a melhor campanha do returno até o surto de Covid-19, na 31º rodada. Em entrevista ao canal Fox Sports, o atual treinador do Coelho, Lisca, elogiou bastante o legado deixado por Conceição na equipe.

 

“Todo mundo falou sempre que o jogador brasileiro tem a sua maneira de jogar, de treinar, que não ia aceitar o método europeu, mas o que estamos vendo é o um treinador europeu fazendo isso no principal clube do Brasil. Hoje é um jogo que não é por intuição, é organizado, planejado… O encaixe das peças foi muito forte. A maneira de marcar com a linha bem alta, futebol zona, joga com praticamente num 4-1-3-2. Cheguei no América e o Felipe Conceição já tinha instituído essa maneira de jogar. O América joga dessa forma, pressionando, induzindo o adversário ao erro”. 

Prejudicado pelo surto de Covid-19 na reta final da Série B, atrapalhando qualquer chance de acesso, seu retrospecto geral no Guarani foi de 11 vitórias, três empates e oito derrotas, com 53,6% de aproveitamento. Felipe Conceição deixa o Bugre pela porta da frente, salvando a equipe do rebaixamento e deixando um legado de bom futebol e aproveitamento da base.