
FOTO: REPRODUÇÃO / TWITTER OFICIAL / MINEIRÃO (AGÊNCIA i7)
Na última quarta-feira (17) a Federação Mineira de Futebol apresentou seus planos de retomada do campeonato mineiro. A ideia, a princípio, seria retomar os jogos no dia 26 julho com a manutenção do modelo e os times jogando em estádios de portões fechados. A aprovação da volta depende apenas de uma autorização do Centro de Operações de Emergência em Saúde de Minas Gerais.
Antes de entender o contexto do futebol e a necessidade do seu retorno, é preciso entender a situação do estado de Minas Gerais e da cidade de Belo Horizonte. Começando pela capital, onde jogam os times de maior público. Na última segunda-feira (15) a secretária municipal de saúde mostrou dados que comprovam um novo recorde de ocupação de leitos de UTI, atingindo uma marca superior a 80%. Mesmo sem grande amostragem e com poucos testes, BH nesse mesmo dia apresentava 3.487 casos de covid-19 confirmados e 67 óbitos por conta disso.
Em Minas Gerais a situação parece um pouco menos preocupante, mas até mesmo o governador Romeu Zema (Novo) já demonstrou preocupação com a alta de casos após afrouxar as medidas de isolamento social. Com a taxa de ocupação de leitos de UTI em 72%, a situação precária de muitos municípios no interior acaba trazendo mais pacientes para a capital e acaba por saturar ainda mais a estrutura de saúde.
Muito além dos números oficiais e até das subnotificações, o futebol traz consigo um apelo grande de mobilização social. Infelizmente, ainda vivemos num mundo onde muitos desacreditam da pandemia e contestam a realidade do mundo – inclusive governantes. Soma-se isso a pressão exercida por comerciantes e o cenário perfeito para a propagação rápida do novo coronavírus está feito.
A justificativa de que os jogadores e a comissão técnica dos clubes grandes podem testar os jogadores a cada partida não se enquadra na realidade de muitos outros trabalhadores essenciais para que uma partida de futebol seja realidade. Um estádio grande como é o Mineirão, por exemplo, não funciona sozinho. É necessário uma equipe técnica de engenheiros, um corpo de segurança, auxiliares, faxineiros e comunicadores – além da própria imprensa que precisará cobrir o evento, com jornalistas, repórteres cinematográficos, técnicos de vídeo, áudio, entre outros.
Outro ponto que tenta embasar um retorno “seguro” é usar a Europa como exemplo. É preciso deixar claro que a paralisação dos jogos nas principais ligas do velho continente se deu muito cedo e o retorno só foi possível após meses apurando casos e constatando uma queda no número de infectados e de óbitos. A Itália, por exemplo, que foi assolada pela pandemia, teve seu pico de taxa de contágio no final de março e só quase três meses após lockdown completo, isolamento social e muita testagem, conseguiu estabelecer uma condição plausível pra se praticar o futebol. O Brasil, ainda a título de comparação, nem determinou se chegou ao seu pico.
Enfim, determinar o retorno do futebol é brincar com a sorte e colocar em risco a vida de diversas pessoas, mesmo com toda proteção e resguardo disponíveis aos jogadores. A falsa sensação de normalidade que pode prevalecer diante disso, pode passar uma mensagem de que é tranquilo pessoas se reunirem em casas, bares clandestinos e restaurantes. O futebol segue sendo apenas uma forma a mais de entretenimento, num momento em que precisamos de concentrar energias no necessário. O problema é real.