FOTO: GUSTAVO ALEIXO / CRUZEIRO E.C.
Na manhã de hoje (06), na Toca da Raposa II, o Cruzeiro oficialmente apresentou seu novo treinador, Zé Ricardo. Zé Ricardo assume o cargo após a demissão de Pepa, que ocorreu há uma semana devido aos resultados negativos no Campeonato Brasileiro. O novo treinador destacou que um dos principais motivos para aceitar o desafio foi o elenco da equipe e, mesmo reconhecendo o momento difícil do time, enfatizou que o objetivo principal continua sendo conquistar uma vaga na Sul-Americana.
Sem vencer há oito jogos, o Cruzeiro ocupa 12ª posição na tabela, com 26 pontos, estando apenas cinco pontos à frente da zona de rebaixamento. Quando a temporada começou, a direção definiu como objetivo principal permanecer na Série A, com a ambição de garantir uma vaga na Copa Sul-Americana.
Antes do treinador começar a sua entrevista, o diretor de futebol do clube, Pedro Martins, fez um pronunciamento explicando como se deu a busca por um novo treinador e os motivos que levaram a direção a optar pelo Zé Ricardo:
“Desde a semana passada a gente vem levantando nomes, pesquisando com profundidade e analisando quem seria a liderança ideal pro momento para levar o clube a próxima etapa. Tivemos várias reuniões e conversas, o Zé participou de muitas delas. Ficamos contentes com o papo que tivemos com o Zé, com a troca de ideias, principalmente quando apresentamos os objetivos que o Cruzeiro tem como organização. O Zé é um cara que vem para construção de projetos, ele acredita na integração do clube como um fator fundamental para que conquistemos resultados. Ninguém conquista resultados sozinhos. Por isso que o Zé está aqui.”
Confira os principais pontos abordados pelo treinador na coletiva:
Adaptar seu estilo de trabalho ao Cruzeiro:
“Acompanhei o Cruzeiro nos últimos dias de forma mais afinca. Entendo que posso contribuir pro clube, me senti muito alinhado com o que o Cruzeiro vem desenvolvendo e vai desenvolver ainda. As conversas foram se adiantando. Confio muito no que o clube está construindo, passei em clubes anteriores que tiveram esse processo e hoje surfam em ondas maiores. Venho para ser mais um componente nessa reconstrução do clube e a convicção é que podemos entregar o que o clube pediu.
Desconfiança da torcida e trabalho abaixo no Japão:
“A gente entende que cada momento é distinto. O momento do Japão era totalmente diferente, cultura nova. Chego no clube com uma dificuldade grande de pontuação. Conseguimos recuperar bem, mas não foi o suficiente para conseguir o objetivo lá. Todos os profissionais do futebol passam por momentos de oscilação e conquistas. Entendo que da mesma forma que esse processo do Japão não deu tanto resultado, outros aqui no Brasil, com classificação na Libertadores, Sul-Americana, e é isso que a gente espera. Entregar excelência, que é nosso mantra.
Insatisfação do torcedor e retomada de confiança:
“Trago uma comissão competente e juntando com as pessoas de dentro do clube, o caminho é para que a gente busque resultados. Logicamente que o sucesso esportivo do clube é multifatorial, conto com todos os atletas, entendo tranquilamente a insatisfação da torcida, o momento é sensível, e por isso que temos que entregar trabalho. Ninguém estará em zona de conforto, mas com a força dos atletas e nossa torcida que é apaixonada, aos poucos vamos reconquistar essa confiança.”
Identificação de problemas no elenco e o que precisará corrigir nesse trabalho:
“Logicamente que pela televisão é uma coisa, e conhecendo os detalhes internos muita coisa é diferente. Conto com uma equipe muito experiente que está no comando do Cruzeiro. Uma das convicções que me fizeram vir é que entendo que o elenco é qualificado, lógico que possuem ajustes a serem feitos, mas nesse momento prefiro deixar essa resposta pra um momento mais a frente. Acredito muito que tudo que temos planejado para que as coisas mudem no Cruzeiro darão certo.”
Se o seu perfil de trabalho se adequa ao estilo de jogo ofensivo exigido pela SAF do Cruzeiro:
“Eu acho que temos que se adequar ao futebol atual. O futebol atual exige intensidade e agressividade. Temos um grupo na média de 25.2 de idade, que pode entregar isso ao Cruzeiro. A torcida pode espera uma equipe organizada, equilibrada e buscando o gol o tempo todo. Sempre teremos uma estratégia de vencer as partidas.”
O que precisa ser corrigido dentro do time:
“Primeiro momento é tentar entender o porquê dos motivos. Os dados que o Cruzeiro propõe indicam que a gente cria bastante, não é a principal dificuldade, mas finalizar. Finalização é um pouco mais de confiança, tranquilidade, e é isso que queremos reestabelecer. Trabalhar a confiança deles (jogadores), e precisamos respeitar as características dos elencos que se trabalham. Muitas vezes uma defesa forte também vence partidas e campeonatos. Logicamente que queremos melhorar essa produção ofensiva do Cruzeiro. Com os atletas que temos como opção temos condições de fazer isso.”
Sobre zona de conforto, dias de folga e preparação para os jogos:
“Temos profissionais que buscam trabalhar com todas as ferramentas pra gente dar não só carga de trabalho e recuperação, que também é trabalho, de forma equilibrada. Temos um elenco com um número bom de jogadores, outros importantes que estão pra voltar. Sobre a questão da zona de conforto, quem trabalha com futebol não pode nunca estar na zona de conforto. A forma da gente se comunicar, ter o tratamento com as pessoas, em momento algum interfere nas cobranças. A minha maneira é uma cobrança séria, frontal e individual, sem expor nenhum atleta. E a forma coletiva quando tiver de fazer, vamos fazer. Necessitamos de uma mudança de postura, por isso houve a troca de comando, e nesse caminho que vamos tentar recuperar o Cruzeiro. Logicamente que essa escassez de vitórias seja o primeiro objetivo curto pela frente.
Recuperar a confiança de jogadores:
“Os clubes que passei, com pressão de torcida, encaramos de forma natural. Os atletas certamente são cobiçados por outras equipes, então não é a questão da qualidade e sim do momento. Futebol é um meio onde ele é muito cobrado, há uma pressão diária, por isso não podemos cair na armadilha de estar num momento bom e se deixar levar. Vivemos um momento sensível e o papo do dia a dia, tentar incrementar alguma coisa na nossa estratégia de movimentações ofensivas, o equilíbrio que não podemos perder. São ajustes, mas como numa empresa quando um departamento não funciona, o resultado final fica abalado. Aqui temos três departamentos, defesa, meio-campo e ataque. Quando um desses não funciona na engrenagem, temos um resultado final. Precisamos encontrar esse equilíbrio e aí as vitórias vão vir e creio que em breve.”
Sobre ser o maior desafio ou não da sua carreira:
“O cenário de um gigante se reconstruindo, uma diferença gritante de orçamento e investimento de outros clubes no Brasil. O Cruzeiro está nesse caminho, nessas 18 horas que estou aqui, o que foi mostrado, não tenho dúvida que o Cruzeiro vai retomar o caminho de vitórias e conquistas. Se a gente conseguir fazer com que todas as informações se conectem de uma maneira de fazer tudo funcionar, não tenho dúvida que o Cruzeiro vai retomar a vitória e sair dessa situação, colocando o clube novamente brigando por títulos como sempre foi na sua história.”
Objetivo esportivo do treinador:
“Institucionalmente, o Cruzeiro busca uma vaga numa competição internacional. Só que é uma competição de vinte clubes competitivos e estruturados. Vemos equipes abaixo vencendo quem está acima e acontecerá mais vezes. Hoje, na tabela, o Cruzeiro ainda mantém seu objetivo alinhado, em 12ª brigando pela Sul-Americana. Só que precisamos sair desse momento ruim. Nosso primeiro objetivo é retomar as vitórias e ai analisando etapa por etapa. Institucionalmente, o Cruzeiro continua com seu objetivo de conquistar uma vaga internacional.”
Dificuldade de vencer como mandante na temporada:
“Incomoda todos essa escassez de vitórias em casa, onde a torcida está presente fazendo sua festa. Conversei com poucos atletas, mas senti uma vontade grande de sair dessa situação e tenho certeza que a minha chegada vai trazer confiança. Minha forma de trabalhar é de uma isonomia muito grande, um senso de justiça muito grande, fazer com que eles compitam entre eles no dia a dia. Independente de nomes, o Cruzeiro é maior do que todos nós, que estamos de passagem, e o que posso dizer é que vim disposto a não perder essa oportunidade de fazer o Cruzeiro maior do que ele é.”
Recuperação técnica de atletas como Gilberto e Mateus Vital, alvos da torcida:
“Quando um jogador reencontra um treinador onde tiveram um momento positivo, como por exemplo o Vital de subida no Vasco, ele começando a surgir entre os profissionais. A gente num momento até mais difícil que no Cruzeiro. Quando vou ao Vasco ele é responsável pelo primeiro gol, da vitória. Tenho uma ligação forte com ele, muito provável que consigamos recuperá-lo pois tem muito potencial. Sobre o Gilberto, se a gente fizer o recorte, metade das equipes da Série A o buscariam como seu centroavante. Sabe fazer gol, tenho certeza que vai partir muito mais dele recuperar a confiança e volte a marcar gols. Do que depender de mim vou estar do lado dele. É o nosso papel, não podemos descartar nenhum jogador. Por isso daremos a isonomia de tratamentos pra todos e se no seu dia a dia ele mostrar que está querendo, natural que vai jogar, assim como os jovens.”
Categorias de base:
“Minha carreira é marcada por muita ligação com as categorias de base. O jovem não tem lugar cativo no profissional só porque veio da base, mas ele tem aquela energia que é importante em momentos como esse, empurrarem aqueles que estão acima dele, mostrar passagem. Não tem cadeira cativa, mas ele tem elementos fundamentais para as coisas acontecerem pra ele e o clube. Vou estar 24h por dia na Toca, e espero que essas conexões sejam feitas o mais rápido possível. Tive uma conversa com o Seabra e terei outra mais tarde, quanto mais a gente antecipar desse momento chegaremos ao ideal.”
Sobre implantar um trabalho autoral com a temporada em andamento:
‘Um caminho errado que podemos tomar dentro de campo é querer mudar tudo dentro do campo, pode trazer mais confusão e falta de confiança aos atletas. Certamente algumas coisas vamos tentar expor pra eles que temos como estratégia e construir o melhor Cruzeiro possível. O meu estilo é fazer que a gente consiga tirar o máximo da característica dos jogadores. Temos que ter um visão individual do crescimento individual que possam potencializar nosso coletivo. O desequilíbrio tático vai criar o desequilíbrio técnico. A gente vê a equipe criando bem, mas na hora crucial temos algum tipo de equívoco e isso traz sobrecarga a todos. O dia a dia vai me dizer muita coisa, estaremos 24h disponível e estou muito convicto de que possamos fazer o Cruzeiro jogar bem e vencer as partidas.”