FOTO: BRUNO CANTINI / ATLÉTICO
Durantes os meses de novembro e dezembro, Belo Horizonte define quem será o prefeito da capital mineira nos próximos anos e o Atlético conhecerá o presidente de 2021 a 2023. Para a principal cadeira da prefeitura, os candidatos já estão definidos e no ápice da campanha, enquanto, no Atlético, reuniões semanais entre grupos de conselheiros debatem e negociam sobre os possíveis nomes para as eleições, em dezembro.
Entre a sede administrativa do clube, no bairro de Lourdes, e a prefeitura, na avenida Olegário Maciel, personagens fazem com que os caminhos se cruzem em uma batalha travada em solo virtual. Documentos, que seriam do relatório da empresa de investigação Kroll, contratada pela gestão de Sérgio Sette Câmara para que fosse realizado um raio-x no clube, circularam em redes sociais e grupos de Whatsapp.
Nas páginas vazadas, nomes de funcionários, dirigentes, ex-dirigentes, contratos e valores pagos pelo Atlético em gestões passadas. Apesar da cláusula de confidencialidade entre as partes, o documento se tornou em partes “público” a duas semanas da ida às urnas em todo país. No xadrez da busca pelos votos, o Atlético se torna uma peça importante no tabuleiro. Novos vazamentos do documento, que possui centenas de páginas, podem acontecer nos próximos dias.
A troca de farpas entre os lados existe há algum tempo, mesmo que de forma velada. O aumento do custo das obras na Arena MRV por exigências em contrapartidas, vistas como exageradas pelo clube, foi citado associando uma possível perseguição da prefeitura. Ao falar sobre as acusações nas redes sociais, Alexandre Kalil disse que não entraria em briga de futebol e que “esse garoto nunca foi tratar de Arena” com o prefeito.
“Esse garoto”, citado por Kalil, seria Rafael Menin, presidente da MRV e vice-presidente do Conselho Deliberativo do Atlético. Rafael e o pai, Rubens Menin, não escondem o apoio a João Vitor Xavier, candidato a prefeito de Belo Horizonte. O episódio dos gastos com a Arena não foi o único, com troca de farpas no elo entre Galo e prefeitura. Em julho, Rafael convocou reunião dos conselheiros para aprovação do balanço financeiro do clube, enquanto Castellar Guimarães Filho, presidente do conselho, entendia que não era o momento. Castellar é procurador-geral de Belo Horizonte na gestão de Alexandre e uma das lideranças do grupo de Kalil no conselho atleticano.
Na terça-feira (27), Sérgio Sette Câmara publicou no Twitter que a prefeitura revisou o valor do IPTU da sede de Lourdes, “exigindo do clube diferenças dos últimos cinco anos”. “Chega”, escreveu Sérgio. Também através do Twitter, Lásaro Cândido da Cunha, vice-presidente do Atlético, afirmou que não teve acesso ao relatório da Kroll e que não confirma a veracidade do documento, pois apenas o presidente teria recebido o resultado da investigação. Mas, se apenas o presidente teve acesso, quem vazou os documentos? Vale ressaltar que a Kroll não pode e não vai se manifestar em nenhum momento sobre as investigações e o relatório.
Segundo Lásaro, o conteúdo do texto, descrito por ele como “falso”, insinua que o dirigente teria sido remunerado sem contrato com a instituição. O vice-presidente lamentou o conteúdo e disse que já afirmou anteriormente que, durante os doze anos em que passou a contribuir com a instituição, foi remunerado durante um ano e sete meses. Lásaro promete exigir esclarecimentos da Kroll pelo fato de a empresa ter tido acesso a e-mails particulares do vice-presidente.
“Fui remunerado sim. Tudo registrado, com contrato, nota fiscal, trabalho. E os outros dez anos e pouco, sem remuneração. Qual é o problema que tem nisso?”, questionou o dirigente.
Em setembro, Galo e Carlos Fabel, ex-diretor financeiro, entraram em rota de colisão. Enquanto Fabel cobrava atrasos no pagamento da multa por rescisão de contrato com a instituição, o Atlético, com a auditoria da Kroll em mãos, passou a exigir “valores recebidos indevidamente” no período em que Fabel esteve no cargo.